André Julião | Agência FAPESP
A COVID-19 oferece novas oportunidades de pesquisas em ciências sociais e humanidades. Com os tratamentos ainda incipientes e vacinas em fases de testes, as medidas que implicam em mudança de comportamento têm sido a maior arma das autoridades sanitárias em todo o mundo para lidar com a pandemia.
As pesquisas em ciências sociais e humanas voltadas para a crise sanitária são, portanto, de fundamental importância tanto no período de disseminação da doença como na pós-pandemia. E esse foi o tema da reunião anual das agências de fomento participantes da Plataforma Trans-Atlântica, ocorrida de forma virtual nos dias 8 e 9 de setembro.
Criada em 2013, a iniciativa reúne agências de fomento das Américas e da Europa, com o objetivo de financiar e fomentar pesquisas de impacto em ciências sociais e humanidades envolvendo pesquisadores desses continentes, com foco em aspectos transatlânticos.
“A plataforma é atualmente a mais importante para a promoção de pesquisa internacional em ciências sociais e humanidades. As duas chamadas de projetos já realizadas atraíram a participação de centenas de pesquisadores na Europa e nas Américas. A FAPESP está engajada na Plataforma Trans-Atlântica desde o começo e tem sido uma participante-chave no seu desenvolvimento. Além disso, desempenha um papel crucial ao encorajar a participação de outros países latino-americanos no consórcio”, diz à Agência FAPESP Ted Hewitt, presidente do Social Sciences and Humanities Research Council (SSHRC), do Canadá.
Segundo Jeanet Bruil, chefe do Departamento de Ciências Sociais e Humanidades da NWO, agência de fomento à pesquisa dos Países Baixos, as mudanças socioeconômicas causadas pela pandemia têm grande impacto nos indivíduos, nos grupos e na sociedade. Por isso, “um forte conhecimento em ciências sociais e humanidades, baseado em pesquisas, pode nos ajudar a lidar com um problema de tal magnitude. A pesquisa internacional pode ajudar os países a compartilharem dados e conhecimento e fazer comparações”, diz.
Hewitt conta que, na falta de uma vacina ou mesmo de um tratamento efetivo, as autoridades de saúde pública e os governos têm contado quase exclusivamente com ações que induzam mudança de comportamento para gerenciar a pandemia.
“As medidas tomadas foram desde distanciamento físico, uso de máscaras e desenvolvimento de políticas econômicas para gerir economias locais e regionais. Isso está diretamente ligado ao papel crítico das ciências sociais e das humanidades em prover as evidências para subsidiar o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas, tanto no âmbito doméstico quanto internacional”, diz.
A FAPESP, a SSHRC e a NWO coordenam juntos os trabalhos da plataforma. A FAPESP apoia a iniciativa desde o seu início. Originalmente, a ação era financiada pela Comissão Europeia. Após o término do contrato, os trabalhos continuaram como uma iniciativa independente, financiada pelas próprias agências participantes. Em 2019, 12 organizações de fomento à pesquisa renovaram o compromisso com a Plataforma, com o objetivo de aumentar a colaboração em pesquisa transatlântica nas ciências sociais e humanidades, o que inclui reforçar o apoio à cooperação científica e à adoção de políticas que vão ao encontro das necessidades de pesquisa do século 21.
“Uma programação de eventos virtuais está agendada para os próximos meses. Além disso, planejamos lançar uma nova chamada conjunta de projetos de pesquisa, a terceira promovida pelo grupo”, esclarece Claudia Bauzer Medeiros, coordenadora do Programa FAPESP de Pesquisa em eScience e Data Science e representante da FAPESP na Comissão de Coordenação da Plataforma.
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FOTO: Itamar Crispim/Fiocruz