Brasil tem cerca de 15% dos casos de contaminação e de mortes em todo o mundo, embora tenha apenas 2,8% da população

Para infectologista Raquel Stucchi, vacina é única possibilidade de combate real à covid-19. “Mas não deve estar disponível antes de março”.

por Eduardo Maretti, em Rede Brasil Atual – RBA / IHU On-Line

Brasil tem cerca de 15% dos casos de contaminação e de mortes causadas pelo novo coronavírus em todo o mundo – embora tenha apenas 2,8% da população. Na opinião da infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp, a falta de planejamento e de políticas sérias, baseadas em protocolos científicos, pode ter feito a população, pelo menos de algumas cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, ter adquirido algo próximo ao que se convencionou chamar de “imunidade de rebanho”. Imunidade de rebanho é quando o nível de contágio diminui depois de o vírus infectar uma grande quantidade de pessoas.

“Não tivemos política. Foi um desastre em termos de planejamento. Hoje, na minha avaliação, o que parece é que o fato de a gente não ter tido um planejamentonão ter feito isolamento adequado, pode ter favorecido um número maior de pessoas expostas, com quadros leves ou assintomáticos, e que possa conferir por um período essa imunidade de rebanho. Mas o preço que nós pagamos foi o número de óbitos”, diz.

Atualmente, duas vacinas são consideradas mais próximas de se tornar realidade no Brasil: a da empresa chinesa Sinovac e a da universidade britânica de Oxford, desenvolvida em parceria com a empresa farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca. Na semana passada, o otimismo em relação à segunda sofreu um baque, quando se deu o caso de um efeito colateral grave em um dos voluntários. Nesta semana, os testes foram retomados, para alívio dos otimistas. Porém, a infectologista da Unicamp é cautelosa, embora considere que não há outra solução para a pandemia no horizonte a não ser uma vacina.

“A vacina, sem dúvida, parece, é a única coisa que vai conseguir fazer com que a gente possa ter uma vida como em 2019. Agora, sobre a expectativa de que tenhamos uma vacina, ela não deve estar disponível antes de março, abril do ano que vem.”

Volta às aulas

Raquel comentou também, em entrevista à RBA, o anúncio, pelo governo de São Paulo, da volta às aulas em outubro. Ela avalia a questão sob dois pontos de vista. Sob a ótica sanitária, acha que já há condições de retomar o calendário, desde que seja opcional para as famílias e que sejam respeitados novos protocolos. Do ponto de vista social, para ela, “as famílias que precisam devem ter o direito e a possibilidade de levar os filhos à escola”, considerando a realidade brasileira, para garantir a muitos a única refeição do dia.

Ativista posiciona bandeira do Brasil em protesto da ONG Rio de Paz pelas vítimas do coronavírus, no Rio de Janeiro, no domingo. ANTONIO LACERDA / EFE

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