Ricardo Valverde, Agência Fiocruz de Notícias
Como parte das comemorações dos 120 anos da Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) coordenou a pesquisa Como brasileiros e brasileiras veem a Fiocruz: um estudo em 12 cidades do país. A intenção foi analisar a percepção que a sociedade tem da Fundação, nas 12 cidades brasileiras onde está presente, por meio de unidades, escritórios ou projeto especial: Manaus, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Campo Grande, Teresina, Brasília, Porto Velho, Petrópolis (RJ), Rio de Janeiro e Eusébio, na região metropolitana de Fortaleza. A coordenação do estudo ficou a cargo da pesquisadora Luisa Massarani, do INCT-CPCT e da Fiocruz.
A pesquisa investigou o conhecimento sobre a instituição (espontâneo e estimulado), o entendimento do que é a Fiocruz, sua relevância, a performance de serviços disponíveis e atributos de imagem relacionados a capital cultural, informação em saúde e engajamento político dos entrevistados. Em função da pandemia do novo coronavírus, que assolou o país no momento em que foi iniciado o trabalho de campo para as entrevistas, foi adicionada uma bateria de perguntas associadas à Covid-19.
De acordo com os entrevistados, a Fiocruz é associada, de forma espontânea, principalmente à pesquisa científica, análises, estudos sobre doenças e centro de desenvolvimento para a cura. A Fundação foi muito bem avaliada em três dimensões: promoção da saúde pública e desenvolvimento social; pesquisa e produção do conhecimento científico e tecnológico; e credibilidade e relevância social.
O projeto foi composto por uma etapa quantitativa e duas etapas qualitativas, que ocorreram simultaneamente. Na etapa quantitativa foi usada a técnica de survey, aplicada por meio telefônico, em plataforma online. Foram feitas 1.724 entrevistas. Desse total, 1.643 entrevistados ouviram falar da Fiocruz e/ou de pelo menos uma das unidades apresentadas no filtro de familiaridade com a instituição. Apenas esses entrevistados responderam ao questionário completo. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro máxima estimada é de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra. A aplicação dos questionários foi realizada entre 18 de maio e 10 de junho de 2020.
A etapa qualitativa teve duas partes. Na primeira, foram feitas 37 entrevistas em profundidade junto à população que reside nas vizinhanças da Fiocruz em três cidades com características e atuações diferentes: Rio de Janeiro (a sede e suas diversas unidades técnico-científicas), Salvador (unidade técnico-científica) e Porto Velho (escritório técnico). Os participantes tinham idades e profissões diversificadas e foram entrevistados por aplicativo de mensagens. As entrevistas foram realizadas entre 15 de abril e 19 de junho. Na segunda parte, foram feitas 35 entrevistas em profundidade, com 6 governadores e 5 representantes estaduais de unidades da Federação onde a Fiocruz está presente, e 24 com membros do Conselho Superior da Fundação e da Comissão de Honra dos 120 anos, neste caso enviadas e respondidas por e-mail, entre março e maio.
Entre as fontes mais utilizadas para se informar estão: a televisão (73,7%), os sites oficiais da área de saúde (68,8%), os médicos (58,8%) e os jornais impressos ou online (55,4%,) predominando como principais referências apontadas pelos entrevistados na busca ativa por informações. Entre os que tem o hábito de checar as informações sobre a Covid-19 os meios informacionais virtuais são muito utilizados: 65,7% para os sites institucionais, principalmente os vinculados à pesquisa científica no campo da saúde, assim como em páginas de órgãos governamentais, como a do Ministério da Saúde. Os médicos e profissionais da área de saúde são também procurados, assim como publicações e artigos médico-científicos (10,1%). Há quem afirme buscar a verificabilidade de informações nas redes sociais (4,1%).
Neste momento de pandemia, grande confiança e esperança são depositadas nos cientistas: 97,3% acreditam que a ciência encontrará a cura. Estes que demonstram confiança, contudo, se dividem quanto ao timing em que a solução será apresentada: 45,3% acreditam que será “logo”; e 52% acham que vai demorar. Apenas 2,6% dizem não acreditar que os cientistas encontrarão uma solução para a Covid-19.
De acordo com os coordenadores da pesquisa, os dados trazem resultados importantes sobre a percepção que a população tem da Fiocruz. A Fundação é apontada como a instituição pública de pesquisa na área da saúde mais lembrada do Brasil, de forma espontânea. E a mídia tradicional continua a ser a principal fonte de informações sobre a Fiocruz.
Ficou demonstrada a importância que a Fiocruz tem para a sociedade, já que a instituição é avaliada como um patrimônio nacional. Dos entrevistados, 56,8% apontaram a Fundação como a instituição mais importante para o país, entre as que conhece. Também citaram a relevância da Fiocruz em saúde pública (produzindo vacinas e medicamentos de qualidade), em pesquisa científica (é considerada uma das instituições de pesquisa mais importantes do Brasil) e social (expressa na visão de que a instituição é útil). Embora ainda com pontuações elevadas, observa-se uma necessidade de fortalecer a associação entre as atividades científicas e tecnológicas da Fiocruz com o SUS e a atenção à saúde, uma vez que todas atividades da instituição são voltadas para viabilizar o acesso universal. Refletindo o objetivo da pesquisa de contribuir com uma visão de futuro, foi demarcada a necessidade de tornar a Fiocruz mais acessível ao público geral, através de atividades de divulgação científica e do contato de cientistas com a população.
Segundo os pesquisadores, estudos como este dão subsídios para refletir sobre alguns desafios do ponto de vista estratégico-institucional. Entre eles se destacam a busca por estratégias que visem aumentar a percepção da sociedade sobre a vinculação entre pesquisa, atividades de ciência, tecnologia e inovação e produção com as necessidades do SUS; a criação de estratégias para que a Fiocruz apareça como mais permeável e acessível para a sociedade; o fortalecimento da divulgação da instituição e da pesquisa em saúde por meio dos próprios cientistas, que têm muita credibilidade junto a sociedade; e o reforço da percepção da sociedade sobre a importância da ciência para o desenvolvimento, o emprego e a renda.
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Foto: Paula Cavalcanti