Nabhan Garcia vira garoto-propaganda de loja de fuzis liberados por Bolsonaro

Secretário de Assuntos Fundiários já foi acusado de ligações com uma milícia rural no Pontal do Paranapanema, em São Paulo; armas custam a partir de R$ 10 mil e podem ser compradas por colecionadores, caçadores, atiradores esportivos e proprietários rurais

Por Leonardo Fuhrmann, em De Olho nos Ruralistas

O secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan Garcia, se tornou um dos garotos-propaganda da loja de armas ISA, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Uma reportagem da Folha mostrou Nabhan na loja ao lado de outros dois homens com fuzis na mão. Em outras fotos ele aparece até de ladinho. O proprietário da loja também agradece, em vídeo, ao presidente Jair Bolsonaro pelo afrouxamento das restrições ao uso de armas.

A loja é a primeira representante da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) no Estado a ter autorização para vender fuzis do Exército. A empresa é uma estatal federal criada em 1975, ainda durante a ditadura militar, especializada na produção de armas para forças de defesa. Um conjunto de decretos presidenciais do ano passado mudou a classificação de alguns calibres e tipos de armas. Com isso, alguns fuzis e carabinas antes restritos a militares puderam ser introduzidos no mercado civil de armas.

Nabhan já foi acusado de participar de milícias rurais que tinham o objetivo de intimidar integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, como mostrou De Olho nos Ruralistas ,em parceria com o Intercept Brasil: “Milícias e fuzis: as más companhias de Nabhan Garcia, o homem de Bolsonaro para a reforma agrária”.

SECRETÁRIO TERIA POSADO AO LADO DE MILICIANOS

Investigações da polícia e da CPI da Terra, em 2005, ligaram a formação de um grupo de milicianos rurais da região do Pontal do Paranapanema, no oeste paulista, a Nabhan Garcia, fazendeiro da região e presidente da União Democrática Ruralista (UDR). Eles chegaram a anunciar a formação de um “centro de treinamentos” onde se preparavam para resistir às ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O objetivo era apresentar poderio paramilitar para intimidar os camponeses, com armas proibidas no Brasil ou de uso restrito às Forças Armadas.

Em julho de 2003, uma reportagem do Estadão mostrou um grupo de homens da milícia, encapuzados e com fuzis em punho. Dias depois, um fazendeiro próximo a Nabhan foi preso em flagrante pela Polícia Federal por porte ilegal de armas. Ele afirmou que parte do armamento pertencia ao hoje secretário. O preso afirmou ainda que a reportagem havia sido feita em uma das fazendas de Nabhan Garcia, a São Manoel. Segundo ele, o próprio Nabhan aparecia na foto junto aos milicianos — ele seria o quinto da esquerda para a direita, com o rosto coberto, como os outros, usando um boné da Mercedes-Benz.

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