Em resposta ao Greg News, Frente Parlamentar da Agropecuária ataca o De Olho nos Ruralistas

Programa conduzido por Gregório Duvivier repercutiu reportagens do observatório sobre a FPA, expoente da bancada ruralista no Congresso; perfil da frente no Twitter comparou o veículo jornalístico a sites investigados por divulgação de notícias falsas

Por Alceu Luís Castilho, em De Olho nos Ruralistas

Em resposta ao programa Greg News de sexta-feira, que falou sobre financiamento da bancada ruralista, o perfil oficial da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Twitter partiu para o ataque contra o De Olho nos Ruralistas, na tarde desta terça-feira (17), dois dias após o primeiro turno das eleições municipais. O observatório tem como uma de suas missões fiscalizar o poder político e econômico que gira em torno da bancada ruralista, da qual a FPA é o expoente oficial mais conhecido.

“Compartilhar De Olho nos Ruralistas como fonte é o mesmo que divulgar o Jornal da Cidade ou Conexão Política”, diz o perfil da FPA, organização presidida pelo deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS). “Páginas utilizadas para disseminação de notícias falsas, sem informações de patrocínios e envolvidos”. A frente que reúne 245 deputados e 39 senadores refere-se a sites e blogs investigados na CPMI da Fake News e que divulgaram informações falsas sobre a pandemia — o que, em nenhuma dessas situações, é o caso deste observatório.

O deputado Alceu Moreira foi um dos entrevistados pelo De Olho nos Ruralistas em 2016, quando a equipe fazia reportagem sobre bancada ruralista e mudanças climáticas. Pouco após entrevistas com ele e com o atual senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) sobre o tema, o secretário-executivo do Instituto Pensar Agro (IPA), a organização que banca a frente parlamentar, João Henrique Hummel, decidiu expulsar a equipe da casa. “Saiam da minha casa”, dizia ele.

Mesmo assim, com a expulsão e as posições dos parlamentares registradas no documentário “Sem Clima — Uma República Controlada pelo Agronegócio“, o perfil da FPA no Twitter diz que o observatório nunca ouve o “outro lado”. “Um site de ativismo digital, com informações falsas, sem comprovações legais e oficiais”, escreve a assessoria da frente parlamentar na rede social. Sempre se dirigindo ao Greg News, apresentado por Gregório Duvivier, o perfil da FPA completa esse post dizendo: “Estamos sempre à disposição para fazer o debate. Vem falar com a gente!”

EM DEBATE, O FINANCIAMENTO DA PRÓPRIA BANCADA RURALISTA

A última edição do Greg News — um programa humorístico baseado em informações jornalísticas — tratou do tema “Siga a Grana”. Ao falar da bancada ruralista, citou reportagem publicada em maio de 2019 pelo De Olho nos Ruralistas, assinada pela jornalista Priscilla Arroyo: “Multinacionais são financiadoras ocultas da Frente Parlamentar da Agropecuária“. O observatório se baseou em informações fornecidas pelas próprias organizações.

Essa reportagem mostra a cadeia de financiadores que desemboca no Instituto Pensar Agro (IPA) e, por sua vez, na FPA. O IPA é financiado por associações ligadas ao agronegócio. Estas, por sua vez, sobrevivem graças às empresas ou pessoas físicas a elas associadas. No momento da expulsão da equipe de jornalistas, por exemplo, o principal executivo do IPA — e da FPA — segurava a pasta da Aprosoja, uma dessas associações.

A sequência de dez posts da Frente Parlamentar da Agropecuária no Twitter, em resposta ao Greg News, busca emplacar a tese de que o Brasil e o agronegócio são defensores eficazes do ambiente: “A pergunta que fazemos é por que não mostrar que somos vanguarda na preservação, enquanto alguns países concorrentes não possuem nenhuma floresta preservada?”

LEITORES PODEM CONTRIBUIR COM O OBSERVATÓRIO, A PARTIR DE R$ 12 MENSAIS

De Olho nos Ruralistas sobrevive de sua base de assinantes, aqueles que acessam a página De Olho nos Mil Parceiros, e de financiamentos pontuais — de editais fundações, institutos — para projetos pontuais. O último dele foi a cobertura eleitoral, reunida na série “O Voto que Devasta”, sobre a participação de políticos na destruição de biomas no Brasil, em particular a Amazônia.

No pé de cada reportagem consta o apoio do Rainforest Journalism Fund, em seu braço para a Amazônia, administrado pelo Pulitzer Center, uma instituição reconhecida mundialmente. O observatório foi escolhido pela sua expertise em temas políticos e ambientais.

Imagem principal (Reprodução/Sem Clima): executivo do Instituto Pensar Agro, em 2016, tentou interromper gravação na sede da FPA

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