MG: Vale desaloja mais uma comunidade e moradores denunciam estratégia por território

Moradores têm 20 dias para deixar o local, mas a mina continua em funcionamento

Rafaella Dotta, Brasil de Fato

Mais de 500 pessoas da comunidade de Socorro, em Barão de Cocais (MG), vivem fora de suas casas desde fevereiro de 2019, quando a barragem Sul Superior da Vale foi considerada insegura.

Agora, cerca de 10 famílias da comunidade São José de Brumadinho, também em Barão de Cocais, recebem o anúncio de que a mineradora irá desalojá-las. Os moradores estão em intensa luta contra a falta de informações e a insegurança.

O integrante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Luiz Paulo Siqueira, relata queo desalojamento está sendo um choque para a comunidade, que tem muitas famílias agricultoras e produtoras de leite, inclusive abastecedores do Lacticínio Cocais. A igreja de São José de Brumadinho, construída em 1742 e famosa na região pelo milagre de São José, também está dentro da área “desalojada”, assim como o cemitério.

Em São José de Brumadinho, as famílias requerem, antes de serem desalojadas: uma auditoria independente para produzir informações que não passem pela Vale; que a mineradora dê prazos de quando a comunidade irá voltar ao território; quais serão os critérios de negociação; que a barragem de Norte/Laranjeiras seja descaracterizada; e um projeto para não perder o santuário de São José.

Vale usa estratégia para se apoderar de território

Luiz Paulo levanta uma série de contradições na postura da mineradora. A barragem Norte/Laranjeiras não atestou estabilidade à Agência Nacional de Mineração desde março de 2020. “Por que a decisão de elevar a barragem ao nível 2 e desalojar as famílias aconteceu só agora?”, questiona. Além disso, a mina Brucutu continua em funcionamento, segundo ele, com as explosões ocorrendo normalmente.

Segundo a divulgação da Vale, a mineradora iniciou em 18 de novembro um protocolo de emergência de nível 2 da barragem Norte/Laranjeiras, da mina Brucutu. E, com isso, inicia a remoção de residentes da Zona de Autossalvamento, estimados em 34 pessoas. A barragem fica acima da comunidade de São José de Brumadinho. Moradores afirmam que a Defesa Civil Municipal deu o prazo de 20 dias para que todos se retirem.

“Há muitos anos a Vale tem um projeto de ter o controle completo desse território, e nunca conseguiu”, argumenta Luiz Paulo. Pelo menos desde 2008 a comunidade local resiste às investidas da mineradora de construir um complexo de três barragens, envolvendo duas que já existem e uma terceira a ser construída.

O vídeo “Quanto Vale a Nossa Fé”, feito há 12 anos, mostra que a mobilização política e religiosa da comunidade de São José do Brumadinho contra a mineradora é antiga.

Sair e não levar nada ou ficar?

As famílias de São José de Brumadinho estão decepcionadas em terem de sair do seu território. Elas têm o exemplo do que vem acontecendo com os moradores de Socorro, também em Barão de Cocais, que estão há um ano e nove meses fora de suas casas e sem seus terrenos para plantação, criação de animais e outras atividades econômicas.

No entanto, há quinze dias o desembargador Marcelo Rodrigues, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), aceitou pedido da Vale para cortar todas as ajudas de custo a esses moradores. A decisão foi considerada pelos moradores como um ultimato: a mineradora tenta comprar todos os terrenos e, sem o auxílio emergencial por mês, as famílias são mais pressionadas a fechar uma negociação com a mineradora.

A mineradora Vale foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até o fechamento da matéria.

Edição: Rebeca Cavalcante e Elis Almeida

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