Brasil é notificado pela Corte Interamericana sobre violações no despejo do Acampamento Quilombo Campo Grande

A entidade cobra explicações do país acerca das violações dos direitos humanos das famílias Sem Terra, que resistiram por 56 horas ao despejo em plena pandemia

Por MST-MG

Nesta segunda feira, 30, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) notificou o Estado brasileiro para que apresente explicações sobre o despejo das famílias do Acampamento Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais. A notificação é resultado do pedido de medidas cautelares apresentado à CIDH em favor das famílias Sem Terra e denunciando a arbitrariedade do governo do estado, Romeu Zema (Novo) e do governo Bolsonaro.

Para Silvio Neto, da Direção Nacional do MST, essa notificação é fundamental para garantir que o Estado não cometa mais crimes como este e contenha seu autoritarismo no país. “Nossa expectativa é de que o Estado brasileiro, o governo e o judiciário nunca mais cometam despejos violentos como esse no Acampamento Quilombo Campo Grande. Esse conflito demonstra a necessidade da Reforma Agrária em nosso país. São 90 mil famílias acampadas pelo Brasil que precisam ter seu direito de acesso à terra garantido.”

Na próxima quarta-feira, 09, haverá uma audiência junto a CIDH, onde o MST será recebido e está em pauta a denúncia do autoritarismo de Bolsonaro, uma que vez que, este tem falhado na sua missão primordial de respeitar e garantir os direitos humanos de pessoas sob sua jurisdição. Silvio salienta ainda, que o MST pretende apresentar o quanto o Estado brasileiro vem desrespeitando o direito à Reforma Agrária, uma conquista constitucional do brasileiro.

Entenda o caso

O despejo do Acampamento Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas, foi o mais longo do século XXI no Brasil. Uma operação programada para começar e terminar na manhã da quarta-feira (12), tornou-se uma saga que deixa profundas marcas nas lutas sociais do estado. Por 56 horas, famílias Sem Terra resistiram pacificamente à pressão da Polícia Militar, dia e noite, no meio de uma estrada, sob o sol forte e o frio da madrugada, respirando poeira e ouvindo ameaças.

Realizado em meio à pandemia, com as autoridades sanitárias recomendando evitar aglomerações, o Governo de Minas Gerais despejou violentamente 14 das 450 famílias acampadas. Este foi o 12º despejo na trajetória do local, uma área com 11 acampamentos, mais de 2 mil pessoas, produtora anual de mais 500 toneladas de café e outros alimentos livres de agrotóxicos.

Durante o despejo, a Polícia Militar utilizou violência física e psicológica contra as famílias camponesas. Utilizando bombas de efeito moral, um grande contingente policial, armamento pesado e inclusive, um helicóptero para jogar poeira e fuligem sobre as famílias Sem Terra. Além disso, a Polícia também destruiu a Escola Popular Eduardo Galeano, que servia para a promoção da educação de crianças, jovens e adultos do acampamento.

*Editado por Solange Engelmann

Imagem: ação policial durante despejo em Campo do Meio, Minas Gerais – Foto MST

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