No México, religiosos promovem “correção” da homossexualidade e combatem lei que proíbe terapia para LGBTQI+

Exodus atua junto a oito igrejas evangélicas em ao menos dez estados do país; grupo católico também oferece “tratamento” para homossexuais

Por Raúl Olmos/Mexicanos contra la Corrupción, Agência Pública

Com o apoio de oito igrejas evangélicas, a associação internacional Exodus disseminou seus métodos para “corrigir” a homossexualidade por ao menos dez estados do México. Oaxaca, Querétaro, Baixa California, Michoacán, Morelos, Estado do México, Nuevo León, Jalisco, Chihuahua e Cidade do México são os estados onde foram documentadas atividades dessa organização, que tem sua sede no Canadá e presença em quatro continentes.

A partir deste ano, as chamadas terapias de restauração – como as promovidas pela Exodus – são consideradas crime na capital do país e no Estado do México. Qualquer pessoa que tente corrigir a orientação sexual ou a identidade de gênero de alguém pode ser punida com até cinco anos de prisão, de acordo com as reformas aprovadas pelos congressos locais.

Atualmente, também está em análise no Senado um projeto de lei que pretende criminalizar essas terapias em todo o país. Propostas similares foram apresentadas em congressos de quatro estados.

O Conselho Nacional das Assembleias de Deus, que apoia os métodos de restauração sexual da Exodus, enviou uma carta de protesto tanto ao Congresso Federal quanto ao presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, porque considera que essas reformas atentam contra a liberdade religiosa.

“Nós nos manifestamos contra a inclusão em nossa Constituição de uma lei que reconheça um gênero que naturalmente não existe, expressamos nosso apego ao ensino público que reconhece homem e mulher como entes formadores da família e preservadores da raça humana”, diz a carta da igreja pentecostal, que afirma ter 1 milhão de fiéis em todo o México.

Quinze anos tentando “curar” a homossexualidade

A Exodus tem mais de 15 anos de atividade no México, apesar de ter sido estabelecida formalmente como associação civil só em 17 de outubro de 2011, sob o nome de Aliança Exodus México, perante o notário José Ángel Fernández Uría, na Cidade do México.

Na ata de constituição, afirma-se que a associação terá por objetivo “contribuir para que toda pessoa que o solicite, que apresente problemas emocionais relacionados à sexualidade e a relações interpessoais, continue seu desenvolvimento como ser humano livre”, além de criar centros de apoio e assistência em benefício de pessoas com vícios e transtornos de personalidade associados à sexualidade em diferentes cidades.

A sede da Exodus México foi estabelecida desde sua criação na cidade de Cuernavaca, no estado de Morelos, em uma propriedade localizada na via privada Venustiano Carranza, no bairro de Lomas de la Selva.

Seus sócios-fundadores são Óscar Daniel Galindo Santana, membro da direção da Exodus Global Alliance, que afirma ter superado o que ele mesmo chama de “uma vida de quebrantamento sexual”; Olivia Corral García, psicoterapeuta egressa da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam); e Mario Eduardo Cadena Camacho, engenheiro bioquímico e autor de Sou ex-gay, e agora o que faço?, que já foi presidente da Exodus América Latina.

García e Santana são fundadores do Cambio de Rumbo (Mudança de Rumo, em português), um ministério cristão focado em “curar” homossexuais.

Desde que a Exodus se estabeleceu no México, Santana tem sido o principal promotor de congressos, workshops e atividades de “cura” da homossexualidade através da religião. Em suas palestras, ele se apresenta como um ex-homossexual e costuma contar sua experiência para motivar outros homens e mulheres a seguir seu exemplo. Ele conta que, quando tinha 12 anos, começou a sentir atração por outros meninos e já na adolescência começou a frequentar bares, saunas e cinemas que exibiam filmes pornográficos. Ele diz que foi ao completar 25 anos que começou seu processo de libertação dos desejos sexuais – que ele chama de “demônios” –, quando se aproximou de uma igreja cristã. 

Os títulos das palestras que Santana apresentou ao longo de uma década são um reflexo dos objetivos da Exodus: “Raízes da homossexualidade e do lesbianismo”, “Como prevenir a homossexualidade”, “Processo de mudança: reorientação e restauração”, “Como ajudar pessoas com quebrantamento sexual”, “Pornografia e masturbação”, “Redes sociais vs. integridade relacional e sexual” e “Vencendo a raiz das tentações sexuais”.

Pela mão de igrejas evangélicas

A Exodus realiza suas sessões de restauração sexual em diferentes recintos religiosos no México. Na cidade de Cuernavaca – onde fica seu centro operacional –, o grupo organiza, há mais de uma década, seminários de capacitação para mestres e conselheiros cristãos, além de retiros espirituais para pessoas homossexuais levadas pelas próprias famílias com a promessa de que serão “curadas”. As sessões são realizadas no Centro Cristão El Conquistador, no bairro de Lomas de Cortés, em um imóvel de muros altos que mais se parece com uma prisão que um templo.

Uma austera propriedade de dois andares na zona conurbada de Monterrey tem sido outro dos pontos de encontro para pessoas que a Exodus identifica como “afetadas pelo quebrantamento sexual”, o que não inclui apenas a homossexualidade, mas também relações pré-maritais, adultério e consumo de pornografia. As reuniões são realizadas no templo que a Iglesia de Dios en México (Igreja de Deus no México) possui no bairro Garza Melo, no município de Guadalupe.

Em Atizapán de Zaragoza e Tlalnepantla, dois municípios conurbados com a Cidade do México, a Exodus tem promovido suas terapias de conversão no Centro Cristão Calacoaya, em cujo auditório realizou um congresso internacional em 2017, e no Centro Cristão Zamar, onde colabora Verónica Ríos, uma das responsáveis por ministrar workshops sobre restauração sexual para pastores e mestres.

Víctor Tovar e Édgar Pacheco, ambos conferencistas e capacitadores da Exodus na América Latina, desempenham suas funções pastorais na província mexicana. O primeiro é coordenador dos ministérios da Igreja Zoe Aliento de Vida, na cidade de Metepec, e o segundo é pastor na igreja Vida Eterna, em Morelia.

Também faz parte da equipe de conferencistas da Exodus na América Latina o pastor Miguel Solís, de La Casa de Fe (A Casa da Fé), uma igreja pentecostal localizada no bairro Ramos Millán, de Iztacalco, na Cidade do México.

Já em Mexicali, cidade localizada na fronteira México-Estados Unidos, a Exodus trabalha com o ministério Nuevas Raíces (Novas Raízes).

As terapias de restauração já foram até levadas a prisões. Um desses casos foi o de uma colaboradora do ministério carcerário feminino de Chihuahua que, em 2018, se aproximou da Exodus para dar assistência espiritual a mulheres lésbicas.

Além disso, atividades focadas em “corrigir a homossexualidade” foram realizadas em Querétaro, Oaxaca e Guadalajara; nessa última cidade, 700 pessoas participaram de um encontro de cura.

A Exodus opera no México também com o respaldo do Conselho Nacional das Assembleias de Deus, que afirma contar com 6 mil centros de pregação e 1 milhão de fiéis.

Nas instalações da igreja na rua Alfredo Chavero, no centro da Cidade do México, são realizados rituais de restauração para homossexuais, que algumas testemunhas caracterizam como exorcismos, porque são feitas exortações para libertar a pessoa das tentações do demônio. Em 2020, ocorreu uma jornada de restauração e integridade sexual no auditório do Centro Evangelístico Emanuel – de propriedade do Conselho –, que, segundo os organizadores, reuniu 200 pessoas.

Um dos conferencistas da jornada foi o pastor Humberto Corral García, hierarca do Conselho, associação religiosa que obteve seu registro na Secretaria de Governo em 1993 e faz parte da Fraternidade Mundial das Assembleias de Deus, com presença em 190 países.

Também participou desse encontro o pastor Stephen Black, diretor executivo do First Stone Ministries (Ministério Primeira Pedra), em Oklahoma, famoso entre os promotores da cruzada contra a comunidade LGBTQI+ por ser autor do livro Liberdade alcançada: libertando-se da homossexualidade e vivendo uma vida livre de etiquetas, que a Exodus promove como “um guia prático para se tornar ex-gay”.

As reformas da lei

Em 17 de maio de 1990, a Assembleia Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade de sua lista de transtornos mentais. Apesar disso, organizações como a Exodus – ligada a grupos evangélicos – e Courage – vinculada à Igreja Católica – continuaram promovendo terapias para “restaurar” pessoas homossexuais.

Passaram-se 30 anos até que se tomassem ações legais no México com o objetivo de punir aqueles que tentem mudar a orientação sexual de alguma pessoa. Em 24 de julho de 2020, o Congresso da Cidade do México decidiu proibir legalmente o que denominou “esforços para corrigir a orientação sexual ou a identidade de gênero”, também conhecidas como terapias de conversão.

Com a reforma do Código Penal, aquele que promover essas terapias pode pegar pena de dois a cinco anos de prisão. Três meses depois dessa reforma, o Congresso do Estado do México também aprovou uma pena de até quatro anos e meio de prisão a quem obrigar outra pessoa a se submeter a terapias que tentem corrigir a homossexualidade. Nos estados de Quintana Roo, Jalisco, Puebla e Michoacán também foram apresentados projetos de lei que buscam criminalizar essas terapias.

No Senado, há uma proposta em discussão para proibir e sancionar penalmente os métodos de reorientação sexual. A intenção é punir com até seis anos de prisão aqueles que promoverem essa prática. Adicionalmente, pretende-se aplicar uma suspensão de três anos a profissionais de saúde que colaborem. Na exposição de motivos da iniciativa, menciona-se que as terapias de reorientação violam os direitos humanos e são uma forma de discriminação que exclui pessoas por suas preferências sexuais. Além disso, essas práticas estão relacionadas com atos de privação de liberdade, violência sexual, econômica e tortura contra as vítimas, que geralmente acabam não denunciando.

Protesto ao presidente do México

Após as iniciativas de reforma das leis, o Conselho Nacional das Assembleias de Deus, instituição evangélica que colabora com a Exodus, apresentou uma carta de protesto ao Congresso e ao presidente do México.

“Nas Assembleias de Deus, não discriminamos ninguém pelo exercício de sua liberdade de escolha de seu modo de vida. No entanto, acreditamos que tampouco nossa liberdade de crer e pregar nossa fé e doutrina deva ser inibida”, afirma o documento. “Nós nos manifestamos contra a inclusão em nossa Constituição de uma lei que reconheça um gênero que não existe naturalmente”.

A manifestação ocorre porque, com as recentes reformas aos códigos penais da Cidade do México e do Estado do México e com o projeto que corre no Senado, pastores que defendem que a homossexualidade pode ser curada seriam presos.

“A proposta de diversos atores políticos no Congresso local da Cidade do México, na Câmara dos Deputados e no Senado implicam a proibição do livre exercício do ministério eclesiástico através de leis que penalizam qualquer pai de família ou ministro de culto que ofereça aconselhamento a uma pessoa com relação à identidade sexual, iniciativas essas que querem impor as ideologias de gênero na Constituição.”

Igrejas de denominações pentecostais consideram que as reformas legais atentam contra a liberdade religiosa ao penalizar a pregação dos fundamentos da fé cristã, que reconhece apenas a existência de dois gêneros: homem e mulher.

“As Assembleias de Deus no México sempre fomos e seremos respeitosos em relação à investidura do Presidente da República e às instituições dos três níveis de poder e auxiliaremos no bom exercício das políticas públicas, trabalharemos com as autoridades estabelecidas e reconhecidas pela nossa Constituição sem distinção de partido político, mas também nos reservamos o direito constitucional de petição para marcar nossa postura em temas relacionados à família.”

Mudança de discurso

Em 5 de dezembro de 2020, a Exodus compartilhou com os integrantes de seu ministério de “restauração” no México uma série de recomendações a seguir para evitar que fossem denunciados por violar as leis e normas que garantem os direitos sexuais da comunidade LGBTQI+. A Exodus evita as palavras homossexualidade, gay ou LGBTQI+. Prefere utilizar a sigla AMS, que significa “atração pelo mesmo sexo”.

“É imperativo termos o máximo de cuidado ao nos expressarmos, a fim de nos comunicarmos de uma forma adequada ao que a Palavra de Deus diz a respeito, sem soar condenatório ao se referir às ações e ao estilo de vida que levam muitos dessa comunidade; mas sim passando uma mensagem de paz, amor e esperança, especialmente às pessoas que não desejam viver de acordo com a atração pelo mesmo sexo e que decidem deixar o estilo de vida homossexual; assim mantemos uma postura de respeito com aqueles que escolheram viver dessa maneira, sem chegar a aceitar e conviver com o pecado com um disfarce de tolerância”, diz o comunicado enviado aos conselheiros e promotores do ministério.

Em seu relatório interno, a Exodus salienta que não desistirá no México e que, ao contrário, fortalecerá suas ações com uma estratégia de comunicação interativa, utilizando-se dos avanços tecnológicos. Além disso, recomendou a seus colaboradores que mudem ou adequem as palavras e frases que utilizam para se referir à população LGBTQI+.

Por ora, já não falam de curar, sanar ou reverter a homossexualidade, mas recorrem a frases cheias de eufemismos, como “oferecer esperança e primeiros socorros a pessoas afetadas pelo quebrantamento sexual”, “orientar pessoas que lutam contra a atração pelo mesmo sexo” ou, então, orientar aqueles que enfrentam “padrões pecaminosos de conduta” ou vivem “na impureza sexual”.

Uma das recomendações feitas aos integrantes do ministério é utilizar parábolas bíblicas para ganhar adeptos à sua causa. No mesmo dia em que enviou o comunicado interno, a Exodus compartilhou em suas redes sociais uma passagem do Livro de Jonas, do Antigo Testamento, no qual o personagem é devorado por um grande peixe por ter desobedecido a Deus. O relato se encerra com uma reflexão que compara a homossexualidade com a desobediência de Jonas. “Talvez você se encontre hoje em uma situação familiar com a deste personagem; por isso, deve saber que, como filhos de Deus, temos a responsabilidade de obedecer a Ele, porque nosso pecado poderia colocar em risco também a vida dos que nos rodeiam.”

Essa reflexão vem acompanhada de um encorajamento a pedir ajuda aos conselheiros da Exodus: “Alguma vez você já se viu envolto em uma série de conflitos tão intensos que chegaram ao ponto de querer afoga-lo? É possível, mas existe uma solução para isso, mesmo que lhe custe, jogue fora do seu barco tudo o que o impede de avançar!”. 

Legionários de Cristo assiste apostolado para homossexuais

A Igreja Católica também promove uma organização que oferece terapias para pessoas homossexuais. Trata-se do Courage, um apostolado que, apesar de ter sido fundado em 1980 em Nova York, recebeu aprovação do Vaticano como uma associação pública clerical de fiéis em 28 de novembro de 2016.

O padre mexicano Víctor de Luna, da ordem dos Legionários de Cristo, serve há quatro anos como capelão do Courage na Itália. Por 15 anos, ele ofereceu acompanhamento espiritual a pessoas homossexuais na Europa e na América do Sul. Em outubro de 2020, ele auxiliou uma capacitação em conceitos de saúde psicológica para líderes de 11 países dessa congregação, fundada por Marcial Maciel.

O Courage é a única organização aprovada pelo Vaticano para o atendimento da população LGBTQI+ e até esta data conta com mais de 100 capítulos em 14 países. No México, tem grupos em algumas das principais cidades: Aguascalientes, Chihuahua, Guadalajara, León, Cidade do México, Monterrey, Cuernavaca, Morelia, Puebla, Culiacán, Mérida, Querétaro, San Luis Potosí, Tuxtla Gutiérrez e Villahermosa. A presença do apostolado se expandiu para mais cidades a partir de abril de 2017, quando integrantes do Courage se reuniram com 130 bispos na sede da Conferência do Episcopado Mexicano.

A sede do Courage no México fica na cidade de Cuernavaca – assim como a da Exodus –, sob a liderança do sacerdote Don Wainwright, conhecido também como padre Buenaventura.

Em 2015, Rodolfo Bañuelos Zamora, um ativista de direitos humanos, se internou voluntariamente em um centro de retiro do Courage nessa cidade e testemunhou a brutalidade com que eram tratados os menores de idade levados pelos pais para serem submetidos às terapias de conversão.

Segundo seu relato, os menores eram obrigados a contar detalhadamente suas experiências eróticas e sexuais com outros homens e, sob a pressão dos conselheiros espirituais que diziam que eles eram pecadores, caíam de joelhos chorando, em uma espécie de transe, gritando que não queriam ir para o inferno.

“O que você tem é o diabo! Derrote-o!” Recorda Bañuelos que um sacerdote gritava ao mesmo tempo que sacudia de forma violenta cada menino e espargia água benta. Devido à pressão, os menores caíam desmaiados.

Bañuelos registrou o ocorrido como parte de uma investigação para sua titulação de mestre em direitos humanos pelo Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores do Ocidente (Iteso), em Guadalajara.

No entanto, o Courage nega recorrer a terapias de conversão e alega que o trabalho do apostolado se foca em promover a castidade ou abstinência sexual voluntária de pessoas homossexuais mediante apoio espiritual. Um representante do Courage disse que são um ministério pró-castidade, por meio do acompanhamento espiritual ou religioso, e que não obrigam ninguém a receber tratamentos psicológicos.

Mais grupos que oferecem terapias

O apostolado do Courage trabalhou durante um tempo na coalizão Renascer, da qual faziam parte também a Associação Mexicana de Educação em Sexualidade Integral e a Associação Nacional para a Investigação e Terapia da Homossexualidade.

Em maio de 2008, a Renascer organizou um congresso internacional sobre tratamentos psicoterapêuticos para homossexuais, na Cidade do México. Depois, em 2011, a coalizão deu origem à Fundação Psicológica Renascer AC, que oferece terapias de conversão da homossexualidade.

“Nosso trabalho é dedicado à capacitação e treinamento de terapeutas que buscam novas ferramentas para oferecer atendimento a pessoas que, por decisão própria, buscam uma alternativa à homossexualidade não desejada”, diz uma divulgação da Renascer, que entre 2013 e 2017 recebeu doações no valor de 7 milhões e 880 mil pesos da organização Incluyendo Mexico AC (Incluindo México AC), da qual participa Patricio Slim, filho do magnata Carlos Slim.

O principal promotor dessas terapias é o psicólogo José Alberto Garza, que tem partilhado fóruns com o ex-apresentador da Televisa Mauricio Clark, a quem apresenta como um exemplo de que é possível “curar” a homossexualidade.

Outra organização que defende abertamente que a homossexualidade pode ser curada por meio de terapia psicológica e espiritual é a VenSer, uma associação de psicólogos cristãos que dizem ser “especialistas em desenvolvimento da heterossexualidade”.

A VenSer nasceu em Guadalajara como um ministério de igrejas evangélicas que, desde 2005, organizava todo ano um congresso de psicologia e aconselhamento cristãos em um centro de retiro de 2 hectares que o movimento Juventud con una Misión (Jucum, Juventude com uma missão – Jocum) tem na cidade de Ixtlahuacán de los Membrillos, com vista para o lago de Chapala. Um dos temas centrais desses encontros eram as terapias para curar a homossexualidade. Seu lema era “Voltando ao Design Original”, em referência aos fundamentos da fé cristã que defendem que Deus criou apenas o homem e a mulher.

Entre os participantes dos primeiros encontros de conselheiros cristãos estava Olivia Corral, que, anos depois, seria uma das fundadoras da Exodus no México.

Os criadores da VenSer são um casal formado por dois psicólogos: Everardo Martínez Macías e Ivonne Chávez Quintana, ambos com formação profissional pela Universidade de Guadalajara e pós-graduação pela Universidade Autônoma de Nuevo León.

No site da VenSer, que já foi desativado, Everardo Martínez compartilhava vídeos e escritos em que defendia a validade de seus métodos para curar a homossexualidade.

“Olá, sou Everardo Martínez. No ano 2000, comecei a receber em meu consultório pessoas que diziam algo como: sou homossexual e não quero ser. A ideia era uma verdadeira novidade para mim, dado que em minha passagem pela Faculdade de Psicologia me ensinaram que a homossexualidade era uma preferência”, diz em uma de suas apresentações.

Depois, ele faz perguntas que responde logo em seguida: “A homossexualidade tem cura? Absolutamente. O sentimento de atração homossexual é justamente isso, um sentimento, e sentimentos não são definitivos, mas sim transitórios. Vocês fazem terapias de conversão? Nós não ‘convertemos’ ninguém, somente atendemos pessoas que voluntariamente querem abandonar o sentimento de atração por pessoas do mesmo sexo”.

Em seus vídeos, ele inclui testemunhos de homens que dizem ter sido curados. “Sempre acreditei que não era possível deixar a homossexualidade, graças a Everardo hoje posso dizer que não sou homossexual”, afirma um homem que diz se chamar Erick Hernández. “Graças a Everardo hoje estou felizmente casado com uma linda mulher”, afirma Roberto Rete.

Imagem: Encontro do Exodus na Cidade do México em fevereiro de 2020 – Reprodução

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