RS – Centro de Referência Afro-indígena luta para manter direito a acesso à água

Andressa Marques, no Sul21

Pela segunda vez, em menos de dois meses, em meio à pandemia do novo coronavírus, o Centro de Referência Afro-indígena do Rio Grande do Sul, localizado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, viveu a experiência de ter o fornecimento de água cortado. O primeiro corte ocorreu no dia 27 de novembro e o segundo, no início do ano, dia 5 de janeiro, quando servidores do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), acompanhados por viaturas da Guarda Municipal, retiraram o registro da frente do prédio que abriga o Centro, onde moram 12 pessoas atualmente.

Segundo Alice Martins, mulher indígena Guarani em contexto urbano e coordenadora do Centro de Referência, o novo corte ocorreu a partir de uma denúncia feita pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. “Durante o período da pandemia de covid-19 tivemos a violação dos direitos com violência. O Estado cumprindo o seu papel de oprimir, então no meio de uma pandemia você cortar a água é uma forma de genocídio”, diz Alice, que atua na luta indígena e em movimentos populares há cerca de 25 anos.

Após 30 horas sem o abastecimento de água, o Centro de Referência obteve o religamento por meio de uma liminar solicitada ao Ministério Público Federal. “Eu quero salientar a importância do Ministério Público Federal nesse momento e nessa violação que nós sofremos do estado”, destaca Alice. “A atuação do Ministério Público Federal é de suma importância. Afinal está escrito na lei quais são os direitos dos povos indígenas e que eles têm que ser cumpridos. Essa liminar para nós representa o papel do Ministério Público Federal na questão desses direitos”, defende.

Em resposta ao corte do abastecimento de água, iniciou-se uma rápida mobilização nas redes sociais do Centro de Referência Afro-indígena (Facebook e Instagram) para buscar apoio da sociedade. “Mobilizar a sociedade civil a também para olhar as violações de direitos, não foi no silêncio, nós tivemos que gritar. Nós estamos defendendo um território. Em nenhum momento sequer deixaram de dar ênfase a como nos matar. Aqui no Centro de Referência foi o corte da água duas vezes, em outros lugares com a falta de alimentação, de máscaras de álcool gel”, afirma ainda Alice.

O Centro de Referência Afro-indígena está funcionando na Cidade Baixa há um ano e sete meses e têm acolhido em sua maioria mulheres indígenas artesãs e crianças. “Muitas mulheres antes trabalhavam no centro não conseguiram vender e num dia que não se vende nada, não tem como levar nada. Então elas vinham para o Centro com seus filhos, descansavam, tomavam seus banhos, jantavam e no outro dia voltavam para o centro da cidade para vender seu artesanato porque é mais de duas horas para chegar até aldeia”, diz Alice.

“Nós somos corpos políticos de enfrentamento da defesa de território e de pensar um futuro que nós queremos para os nossos filhos e netos, que não é esse que o estado propôs dentro desses 520 anos de tanta violação de tantas violências. A nossa luta é diária. É o resistir para existir diariamente nós não podemos parar e eles não nos darão trégua”, lembra Alice, reforçando a necessidade de uma mobilização permanente para evitar novos cortes de direitos e bens comuns como a água.

Imagem: Centro de Referência Afro-indígena sofreu dois cortes de água em meio à pandemia. (Reprodução/Instagram)

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