Sojeira brasileira proíbe empregados paraguaios de falar guarani

Em áudio de WhatsApp, a fazendeira Janice Neukamp Haverroth disse que quem insistisse seria demitido e se tornou notícia nacional; depois, pediu desculpas; população local protestou e autoridades do Paraguai repudiaram a atitude

Por Luís Indriunas, em De Olho nos Ruralistas

A sojeira brasileira Janice Neukamp Haverroth, proprietária de terras em Colônia Luz Bella de Guayaibí, no departamento de São Pedro, na parte oriental do Paraguai, proibiu seus funcionários de falar guarani, um dos idiomas oficiais do país.

Em áudio de WhatsApp, Janice anuncia: “A partir de hoje é proibido falar guarani na fazenda, proibido, vocês estão escutando, proibido”. A fazendeira adverte que seu marido Aldo também estaria incomodado. Para ela, falar na língua nativa é “falta de respeito”. Em outro momento, ela diz que não quer falar em guarani, “porque não me interessa”. “Creio que o português e o espanhol já está bom pra mim”.

Em outro trecho, ela afirma que quem não cumprir as ordens será demitido e deve procurar empregado em uma fazenda de proprietário paraguaio.

As informações foram dadas pela mídia paraguaia, entre elas, o Extra. Ouça a íntegra da mensagem aqui. Janice deu entrevista à TV C9N e pediu desculpas pelo que ela chamou de mal entendido.

A Secretaria de Políticas Linguísticas do governo do Paraguai repudiou a ordem da sojeira e emitiu uma nota oficial em solidariedade aos empregados. “Da Secretaria de Políticas Linguísticas, como autoridade para a aplicação da Lei 4251/10 ‘Sobre as Línguas’, norma que estabelece os direitos linguísticos das pessoas, estamos à sua inteira disposição em caso de violação desta lei para receber denúncias e poder aconselhar as vítimas perante às autoridades correspondentes”. A Secretaria Nacional de Cultura também repudiou a fala da fazendeira.

HÁ 23 ANOS NO PARAGUAI, FAMÍLIA JÁ FOI ACUSADA DE CRIME AMBIENTAL

Em entrevista à TV C9N, Janice pediu desculpas. “Foi um mal entendido, mas peço desculpas pelos que se sentiram ofendidos. Peço perdão, porque não foi isso que eu quis dizer”, disse ao repórter.

Há 23 anos no país, Janice,  que disse se sentir paraguaia, tem mais de 90% dos funcionários paraguaios. “Não somos patrão e funcionário, somos como uma família”, afirmou. Apesar do áudio com a proibição expressa, ela disse que jamais mandou que não se falasse guarani.

Após a gravação de suas ordens se espalharem pelo país, moradores de Curaguaty protestaram em frente a casa de Janice.

Nestas duas décadas, a relação entre a população da região e a família de Janice não foi tão pacífica como ela diz. Em 2008, quando camponeses paraguaios se revoltaram contra os latifundiários brasileiros durante o governo do presidente Fernando Lugo, o marido de Janice, Aldo Haverrot, foi acusado pela Organização de Luta pela Terra, de  crime ambiental na fazenda El Progreso, na zona de Capiibary, propriedade sua e de  Valdir Neukamp.

A mobilização de fazendeiros, entre eles os sojeiros brasileiros, foi decisiva para a queda de Lugo, em 2012.

Imagem principal (Reprodução): a sojeira  Janice Neukamp Haverroth, que não quer seus funcionários falando em guarani

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