Guilherme Boulos: É possível afastar Bolsonaro antes de 2022

Dirigente do MTST declarou disposição de se candidatar ao Governo de SP, pois ‘sem um palanque forte no estado, fica difícil ganhar a eleição nacional’

Por Camila Alvarenga, Opera Mundi

No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta segunda-feira (19/04), o jornalista Breno Altman entrevistou Guilherme Boulos, dirigente do Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e candidato do PSOL às eleições presidenciais de 2018 e à Prefeitura paulista em 2020. O militante, que já disponibilizou seu nome para disputar o pleito ao governo de São Paulo em 2022, analisou o atual cenário político. 

Boulos enxerga um desgaste por parte de Bolsonaro, pois “vem sofrendo derrotas políticas importantes”, como a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos, isolando-o no cenário internacional, e as eleições municipais de 2020, nas quais o presidente não conseguiu eleger seus candidatos nas principais capitais do país.

Somado a isso, estão a crise econômica decorrente da pandemia e a própria pandemia, com o Brasil sendo o atual epicentro mundial, “responsabilidades claras de Bolsonaro”. O dirigente afirmou que o país se encontra em uma situação tão dramática que nem a aceleração da campanha de vacinação e a recuperação econômica natural, decorrente do arrefecimento da pandemia, serão suficientes para que Bolsonaro recupere a popularidade perdida.

“A política econômica de Bolsonaro não será capaz de recuperar a economia, de combater a fome. E o trauma da pandemia, o rastro de mortes, não será esquecido quando sairmos da pandemia”, argumentou.

É por isso que Boulos se mostrou otimista com relação à possibilidade de um impeachment antes das eleições presidenciais: “Acho possível afastar Bolsonaro antes de 2022. Não poder ir à rua dificulta, mas vamos pensar no centrão [político]. O centrão não tem fidelidade, é um grupo que se organiza a partir da correlação de forças e seus interesses. Bolsonaro está naufragando e o centrão não vai afundar com ele”, disse.

Além disso, Bolsonaro já perdeu o apoio da elite e sua aliança com as Forças Armadas está em crise após a demissão do ministro da Defesa. “Estão dadas as condições para o processo de impeachment”, reforçou o dirigente do MTST.

Para que o impedimento ocorra, entretanto, Boulos pontuou a importância da mobilização popular, celebrando a recuperação dos direitos políticos de Lula como um fator que anima a população a ir à luta.

“Manifestações só não estão ocorrendo pelo efeito devastador da pandemia. Se não fossem as três, quatro mil mortes por dia, manifestações diárias estariam sendo convocadas a nível nacional. Quando baixar a curva de contágios e aumentar o nível de vacinação, vamos poder convocar manifestações. Espero que ainda esse ano”, disse.

Para Boulos, lutar para que o impeachment ocorra, junto com a luta por vacinação ampla e irrestrita, e auxílio emergencial, é essencial para o país e para o povo, “porque significaria a derrota de uma força que é perigosíssima”. 

“O Bolsonaro pode ser derrotado em 2022 nas urnas, mas ele organizou a direita de uma forma que nem a ditadura conseguiu fazer, como um movimento de massa organizado em torno de uma ideologia de extrema direita”, afirmou.

Unidade de esquerda

Pensando nas eleições de 2022, Boulos destacou a importância de uma unidade de forças progressistas: “Nenhuma voz sozinha é capaz de virar o jogo e derrotar o bolsonarismo. Para que a gente possa ter força, a gente tem que ir junto. E essa unidade não podemos deixar para construir em 2022”.

Boulos reiterou a opinião de outros líderes de esquerda, propondo a construção de uma mesa permanente para discutir, não só programas e propostas eleitorais, mas para discutir formas de luta pré-eleições. Ele rejeitou a possibilidade de incluir partidos de centro e centro-direita nessa aliança.

“Não sou contra dialogar com ninguém, mas acho que a gente não pode ter ilusões. Acreditar que o centro não vai ter um projeto próprio e vai aceitar um projeto capitaneado pela esquerda é uma ilusão. Não acredito que um diálogo com esse grupo avançaria”, sustentou.

“Temos que nos preocupar com a nossa organização no campo progressista, que é quem se une hoje em torno da luta democrática contra o autoritarismo de Bolsonaro, contra a militarização e milicianização da política, pela liberdade e contra a política neoliberal que levou à devastação econômica e social do nosso país”, reforçou.

Segundo ele, essa organização também inclui o debate de nomes, “o nome que vai representar a unidade é o que tem mais condições de derrotar o bolsonarismo. Hoje, evidentemente, é o Lula, mas precisamos ver como as coisas vão avançar”.

Boulos retomou a importância da mesa de discussão e de que a candidatura que represente a esquerda seja fruto de uma construção política “generosa” e que passe por gestos políticos “em que todos possam estar de maneira confortável”.

Governo do estado de São Paulo

Em entrevista recente à Mônica Bergamo, Boulos disse que colocava seu nome à disposição para disputar o governo de São Paulo em 2022. Sobre essa postura, o pré-candidato do PSOL disse que o fez pois acredita que há uma “janela da oportunidade” para que, por primeira vez, um projeto popular vença as eleições em São Paulo.

Boulos apontou para os índices de rejeição de João Dória e para o fato de que ele próprio chegou ao segundo turno nas eleições para a prefeitura da capital, indícios de um cenário favorável, em sua opinião.

“Mas essa oportunidade só vai ser bem aproveitada se tivermos uma unidade do campo progressista também no estado. E se conseguirmos estabelecer pontes e diálogos com o interior, onde o PSDB é muito forte”, avaliou.

Segundo ele, não é sua intenção começar a fazer campanha, “não há clima para isso”, mas ao colocar-se como pré-candidato, Boulos acredita ganhar legitimidade para tentar realizar esses diálogos e pontes, “que não dá para deixar para 2022, é preciso fazer desde já”.

“Quando decidi colocar meu nome foi primeiro porque eu de fato acredito que existe uma janela de oportunidade. Não colocaria meu nome só pra marcar posição. Acho que a esquerda tem condições de ganhar. E sem um palanque forte em SP, é muito difícil ganhar eleição nacional. É parte de uma estratégia que nos permita vencer o bolsonarismo a nível nacional”, explicou.

Imagem: Reprodução Facebook.

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