Santa Catarina é o 2º Estado com mais células nazistas no país, atrás apenas de São Paulo
Um homem não identificado foi gravado por vizinhos agitando uma bandeira nazista em uma região nobre do centro de Florianópolis. O vídeo passou a circular nas redes sociais na noite de quinta-feira (13/05), e criou alvoroço nas redes sociais. A apologia ao nazismo é crime federal desde 1989.
Ontem, aqui em Florianópolis, alguém estava praticando tranquilamente o crime de apologia ao nazismo, previsto no § 2º do art. 20 da Lei 7.716/89. Ano passado, alguém cometeu o mesmo crime em São José, cidade vizinha. E há quem diga que não existe nazismo em SC… pic.twitter.com/jJDWNCjmB7
— Rodrigo Sartoti ??? (@sartoti) May 14, 2021
Nas imagens, um homem branco, vestindo uma camisa social azul agita a bandeira vermelha com a suástica nazista, símbolo do regime liderado por Adolf Hitler (1889-1945). Pelas imagens, é possível identificar o prédio como o Condomínio Rembrandt, localizado na rua Bocaiúva, área nobre do centro da capital catarinense, ao lado da Praça dos Namorados. Em cotação verificada no site Chaves na Mão, o preço de um apartamento nessa localização pode variar entre R$ 980 mil e R$ 8 milhões.
O professor de direito constitucional e advogado Rodrigo Sartoti, de Florianópolis, foi uma das pessoas a publicar o vídeo nas redes sociais, denunciando o fato. “Nesses casos, deve-se chamar a Polícia Militar, Civil ou pode se fazer uma denúncia direto ao Ministério Público Federal”, orienta. “Por conta de ser um crime de natureza de violação de direitos humanos, ele é um crime de competência federal. A Polícia Federal pode e deve investigar esse tipo de crime”, avaliou.
Movimento nazista em Santa Catarina
Vários episódios “isolados” reivindicados por organizações nazistas tem ocorrido em Santa Catarina nos últimos anos. Segundo um estudo de 2019 realizado pela antropóloga Adriana Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Santa Catarina é o segundo estado com mais grupos nazistas ativos na internet, atrás apenas de São Paulo. São 69 células nazistas em atividade, segundo o levantamento.
Em abril deste ano, um homem gay que prefere não ser identificado passou a receber ameaças de agressão e morte, em Imbituba, litoral catarinense. Ele começou a receber mensagens de um estranho por meio de um aplicativo, por onde as ameaças foram realizadas. O agressor sabia onde a vítima morava, e passou a enviar imagens com símbolos nazistas e supremacistas brancos. Com medo, ele teve que mudar de cidade.
Em 2020, Wander Pugliesi, professor de história do município de Pomerode e assumidamente nazista, tentou disputar uma vaga para a Câmara de Vereadores da cidade pelo Partido Liberal (PL). Pugliesi é um famoso defensor do nazismo no Estado e já foi objeto de diversas reportagens onde propaga os ideias racistas do nazismo. Ele ficou famoso quando imagens de helicóptero mostraram uma suástica em sua piscina particular. Após denúncias nas redes sociais, ele desistiu da candidatura.
Também no ano passado, a vice-governadora de Santa Catarina (governadora em exercício, na ocasião), Daniela Reinerh, foi criticada por associações judaicas por não se manifestar contrária ao nazismo. Daniela é filha de Altair Reinerh, autor de textos que relativizam os crimes cometidos pelo regime na Alemanha e no mundo.
Em 2017, cartazes racistas foram colocados em um poste e na parede da casa de Marco Antônio André, um ativista e advogado negro de Blumenau, no Vale do Itajaí. O cartaz mostrava um desenho de um integrante do movimento neonazista norte-americano Ku Klux Klan e os dizeres “negro, comunista, antifa [integrante de movimento antifascista], macumbeiros. Estamos de olho em você”.
O nazismo é uma forma de regime totalitário, de extrema-direita, similar ao fascismo e que despreza a democracia. Um de seus pilares principais é o chamado “racismo científico”, ou seja, uma falsa “comprovação científica” de que existem humanos superiores e inferiores.
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Imagem: Vozes da Resistência