Estudo encontrou altos níveis de chumbo em povos indígenas da Amazônia peruana que vivem perto de áreas onde ocorre a extração de petróleo. A reportagem é de Olga Fernández, publicada por Universitat Oberta de Catalunya e reproduzida por EcoDebate. A tradução e edição são de Henrique Cortez.
O chumbo é um metal tóxico e seu uso disseminado tem causado poluição ambiental significativa e problemas de saúde pública em muitas partes do mundo. Isso levou a OMS a incluí-lo em uma lista de dez produtos químicos que causam sérios problemas de saúde. No entanto, o envenenamento por chumbo continua a afetar muitos grupos da população.
Um estudo publicado hoje em acesso aberto na revista Environment International encontrou altos níveis de chumbo em povos indígenas da Amazônia peruana que vivem perto de áreas onde ocorre a extração de petróleo.
A pesquisa foi liderada por Cristina O’Callaghan-Gordo, professora e pesquisadora em Estudos de Ciências da Saúde na Universitat Oberta de Catalunya (UOC) e no Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), um centro apoiado pela Fundação “la Caixa” e o Instituto Nacional de Saúde do Peru.
“A principal hipótese é que o metal chegue por meio da alimentação em áreas de maior poluição ambiental, já que a população caça e pesca para se alimentar, e estudos anteriores mostraram que o chumbo está presente nos animais dessa região. Por outro lado, em locais com níveis mais baixos de poluição ambiental, o caminho mais provável é a exposição ocupacional, como entrar em contato direto com o óleo por participar de tarefas de limpeza após derramamentos de óleo”, explica Cristina O’Callaghan-Gordo.
Quanto mais próxima e intensa for a extração de petróleo, maiores serão os níveis de chumbo
O estudo incluiu 1.047 pessoas , das quais 309 (31%) eram crianças menores de 12 anos. A população estudada vive em quatro bacias hidrográficas da Amazônia peruana, uma região remota não industrializada.
O trabalho ocorreu entre maio e junho de 2016, e envolveu entrevistas presenciais para coleta de dados sobre fatores de risco e estilo de vida dos participantes, além de exames de sangue. A pesquisa também levou em consideração a distância entre o local de moradia da população e a unidade de extração de petróleo. Os maiores níveis de chumbo no sangue foram encontrados entre os participantes da bacia do rio Corrientes, que responde pela maior parte da atividade de extração de petróleo na região.
O estudo também encontrou níveis mais altos de chumbo no sangue de pessoas que vivem a menos de uma hora de caminhada de uma fábrica de petróleo. Os valores observados neste estudo são o dobro dos valores reportados para crianças na Europa entre 1999 e 2007, numa época em que a gasolina com chumbo ainda era usada na Europa (o que em alguns países continuou até 2005).
Os resultados mostraram altos níveis de chumbo, principalmente entre os homens. “Isso é bastante comum, pois os homens tendem a se envolver com mais frequência em atividades que os expõem ao chumbo, como limpar derramamentos”, disse O‘Callaghan-Gordo.
Problemas de saúde
Este estudo é resultado de um acordo firmado entre as federações de povos indígenas nas bacias hidrográficas afetadas e o Governo peruano, com o objetivo de responder às suas preocupações sobre os potenciais efeitos sobre a saúde . “Este estudo surgiu a pedido das comunidades indígenas, que há décadas vêm apelando ao Governo para que faça algo a este respeito”, afirmou a investigadora.
Alterações nos sistemas nervoso, hematológico, gastrointestinal, cardiovascular e renal estão associadas à exposição ao chumbo em adultos e crianças, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
“Níveis de chumbo como os que encontramos no Peru têm efeitos na saúde. Na verdade, qualquer quantidade desse metal no sangue tem consequências para a saúde. Os efeitos mais conhecidos são os problemas neurológicos e de desenvolvimento neurológico em crianças”, alertou Cristina O’Callaghan-Gordo.
O estudo recebeu recursos do Instituto Nacional de Saúde do Peru e conta com a colaboração das federações indígenas FEDIQUEP, ACODECOSPAT, FECONACOR e OPIKAFPE, que fazem parte dos Povos Indígenas da Amazônia Unidos em Defesa de seus Territórios (PUINAMUDT). A pesquisa também foi realizada em colaboração com o Centro de Políticas Públicas y Derechos Humanos no Peru, a Universidade de Cambridge, a Universitat Central de Catalunya – Universitat de Vic, o Institut de Ciència i Tecnologia Ambientals da Universitat Autònoma de Barcelona e o e-Tech International dos EUA.
Esta pesquisa contribui para alcançar a meta de desenvolvimento sustentável (ODS) número 3, “Garantir vidas saudáveis e promover o bem-estar para todos em todas as idades”.
Referência:
Cristina O’Callaghan-Gordo, Jaime Rosales, Pilar Lizárraga, Frederica Barclay, Tami Okamoto, Diana M. Papoulias, Ana Espinosa, Martí Orta-Martinez, Manolis Kogevinas, John Astete, “Blood lead levels in indigenous peoples living close to oil extraction areas in the Peruvian Amazon” (2021) Environmental Research. Disponível aqui.