Crítico de Zumbi dos Palmares, Sérgio Camargo chefiará comitê gestor da área onde fica memorial

Sérgio Camargo é presidente da Fundação Palmares e foi gravado em 2020 xingando líder quilombola, afirmando também que movimento negro é ‘escória maldita’.

Por Pedro Henrique Gomes, G1

O governo federal publicou um decreto no qual criou um comitê para gerir a Serra da Barriga (AL), onde está localizado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Pelo decreto, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, será o chefe do comitê.

O decreto, publicado na última terça (29) no “Diário Oficial da União”, é assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro do Turismo, Gilson Machado.

Zumbi dos Palmares foi assassinado em em 1695, no dia 20 de novembro – data em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra. O memorial em Alagoas foi implantado em 2007 pelo então Ministério da Cultura, por meio da Fundação Palmares.

Em 2020, Sérgio Camargo foi gravado xingando Zumbi dos Palmares, afirmando que o líder quilombola era um “filho da puta que escravizava pretos”.

“Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que pra mim era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar Dia da Consciência Negra. Aqui não vai ter, zero – aqui vai ser zero pra [Dia da] Consciência Negra. Quando eu cheguei aqui, tinha eventos até no Amapá, tinha show de pagode com dinheiro da Consciência Negra. Aí, tem que mandar um cara lá, pra viajar, se hospedar, pra fiscalizar… Que palhaçada é essa?”, afirmou Sérgio Camargo à época, durante uma reunião com servidores da fundação.

Ainda na ocasião, Sérgio Camargo chamou o movimento negro de “escória maldita”.

Quando a declaração se tornou conhecida, a Fundação Palmares disse lamentar a “gravação ilegal de uma reunião interna e privada”, acrescentando que o órgão havia passado a adotar um tipo de trabalho “voltado para a população e não apenas para determinados grupos”.

O comitê

De acordo com o decreto, o comitê deverá ajudar a Fundação Cultural Palmares a:

  • elaborar um plano de gestão da Serra da Barriga;
  • incentivar a participação dos visitantes na preservação do local;
  • propor ações destinadas à preservação ambiental, conservação e à educação ambiental;
  • divulgar ações e zelar pelo patrimônio cultura e imaterial da Serra da Barriga.

Ainda segundo o decreto, o comitê será formado por:

  • presidente da Fundação Palmares;
  • um representante da Diretoria do Patrimônio Afro-brasileiro da Fundação Palmares;
  • um representante da Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo;
  • um representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional;
  • um representante da Universidade Federal de Alagoas.

Representantes da comunidade local e do movimento negro poderão acompanhar as reuniões do comitê, mas não terão direito a voto. São eles:

  • um representante das comunidades remanescentes de quilombos de Alagoas;
  • um representante da comunidade de matriz africana de Alagoas;
  • dois representantes de moradores de União dos Palmares, Alagoas.

Racismo no Brasil

A nomeação de Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Cultural Palmares foi oficializada em 27 de novembro de 2019 e gerou uma série de críticas e indignação.

Antes de ser nomeado para o cargo, Camargo disse que racismo “real” existe nos Estados Unidos. “A negrada daqui [do Brasil] reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”, afirmou.

Ele também postou, em agosto de 2019, que “a escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes”. “Negros do Brasil vivem melhor que os negros da África”, completava a publicação.

Sobre o Dia da Consciência Negra, Sérgio Camargo já afirmou que o “feriado precisa ser abolido. Ele diz: “[A data] causa incalculáveis perdas à economia do país, em nome de um falso herói dos negros (Zumbi dos Palmares, que escravizava negros) e de uma agenda política que alimenta o revanchismo histórico e doutrina o negro no vitimismo”.

De acordo com o Atlas da Violência divulgado em 2020, os assassinatos de negros aumentaram 11,5% em dez anos no Brasil.

Além disso, segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), pretos e pardos representaram 78% dos mortos em ações policiais no Rio em 2019.

Naquele ano, mostra o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve quase 5 mil mortes violentas de crianças e adolescentes, e 75% das vítimas eram negras.

Área do Parque Memorial Quilombo dos Palmares — Foto: Reprodução/TV Gazeta

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