Januário Garcia, fotógrafo de capas célebres de discos e militante do movimento negro, morre de Covid no Rio

Ele tinha 77 anos e estava internado no Hospital São Lucas. Atuante contra o racismo, Garcia fez fotos para LPs de artistas como Tom Jobim, Caetano, Chico Buarque, Belchior e Leci Brandão.

Por G1 Rio

O fotógrafo Januário Garcia, autor de célebres de discos e reconhecido pela atuação no movimento negro, morreu na noite de quarta-feira (30) vítima da Covid-19. Ele tinha 77 anos e estava internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio.

Atuante na luta contra o racismo, Garcia participou de livros como “25 anos do Movimento Negro”, “Diásporas africanas na América do Sul” e “História dos quilombos do estado do Rio de Janeiro”.

Como fotógrafo, passou pelas redações dos jornais “O Globo”, “Jornal do Brasil” e “O Dia”. Também fez fotos para álbuns de grandes artistas da música brasileira durante as décadas de 1970 e 1980 (veja abaixo), como Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fagner, Belchior, Fafá de Belém, Leci Brandão, Raul Seixas e Edu Lobo.

“A foto é um veículo de transformação social”, costumava dizer.

Januário Garcia deixa quatro filhos. O corpo será cremado, mas, até a última atualização desta reportagem, não haviam sido divulgadas informações sobre a data e local.

O estado do Rio de Janeiro registrava, até a manhã desta quinta, 55,4 mil mortes por Covid-19. No país, eram 518 mil mortos até o início da tarde.

Repercussão

A cantora Leci Brandão, lamentou a morte do amigo em suas redes sociais.

“Com muita tristeza, recebemos a notícia da morte desse grande amigo, Januário Garcia, por Covid. Januário foi muito importante na minha vida, além de fazer quatro capas de LPs, também propunha os títulos dos discos e dava opiniões sobre o repertório. Foi ele quem me apresentou a musicalidade e as cores do Olodum, além de introduzir na minha vida o pensamento de Lélia Gonzales. Só tenho de agradecer a Deus por ter colocado ele na minha vida. Sou muito grata por tudo! Januário Garcia, presente!”.

A deputada federal Benedita da Silva (PT) lemvrou lembrou da luta de Januário no movimento negro brasileiro.

“O dia começa cheio de tristeza com a partida precoce do querido Januário Garcia, por causa da covid. Fotógrafo e professor, foi parte da formulação e ativismo de todas as lutas recentes do Movimento Negro. Que Deus conforte o coração da família e amigos”.

A jornalista Flávia Oliveira também lamentou: “Perdemos para a Covid-19 o grande Januario Garcia, fotógrafo que documentou com maestria a trajetória dos negros brasileiros. São décadas de memórias. Uma lástima”.

Mais de 100 mil fotos

Ao longo dos anos como artista, Januário produziu um acervo com mais de 100 mil fotos, documentando brasileiros afrodescendentes nos mais diversos aspectos da vida: social, político, cultural e econômico.

site oficial do fotógrafo destaca que as imagens contam a história contemporânea dos negros do Brasil.

“As imagens retratam a luta diária do negro para conseguir se inserir nessa sociedade, seu cotidiano, sua cultura, a alegria durante o carnaval entre tantos outros momentos. São registros que nos permitem adentrar suas casas e transitar pela história de lutas e conquistas do movimento negro no Brasil. Através destas imagens é possível serem encontradas, ainda nos dias de hoje, marcas e reflexos de um passado não superado”.

Exposição ‘Herança viva’

Em 2019, o fotógrafo mineiro apresentou a exposição “Herança viva”, fruto de mais de 40 anos dedicados a olhar para populações negras no Brasil. Entre as obras, imagens dos aspectos culturais, sociais, políticos e econômico dos afrodescendentes.

Garcia foi presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras e da Rede Brasileira de Iconografia e Documentação de Matrizes Africanas no Brasil.

Januário em foto que ele postou em seu Instagram em uma exposição sua: ‘Um fenômeno raro pra descontrair. O fotógrafo – simultaneamente – por trás e pela frente das fotos’ — Foto: Reprodução/Instagram/@januariogarciaoficial

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