Mulher é agredida por reclamar de uso correto de máscara. Agressor se diz militar do Exército

Agressor, que seria militar, deu cotovelada e torceu o braço da massoterapeuta Ana Cristina Ferreira, 52 anos. Ela fazia compras e reclamou de homem que usava máscara de forma irregular

Por Paulo Eduardo Dias, na Ponte

A massoterapeuta Ana Cristina Ferreira, 52 anos, afirma que foi agredida dentro de um hortifruti, neste sábado (10/7), na cidade de São Paulo, ao pedir para que um homem que também estava no local fizesse o uso correto de uma máscara de proteção contra a Covid-19. “Eu me senti injustiçada. Você está querendo fazer o certo e acaba apanhando por isso. Existe realmente uma politização no meio disso tudo”, disse em entrevista para a Ponte. Segundo sua família, o agressor se identifica nas redes sociais como um militar do Exército.

Segundo a massoterapeuta, ela chegou por volta das 12h ao estabelecimento, localizado na Avenida Alberto Byington, 2014, na Vila Maria, zona norte, com a intenção de fazer compras para a semana. Por ter artrite reumatóide, Ana Cristina pouco sai de casa, com medo dos riscos do coronavírus. “Fui nesse local por ser amplo e faria rapidamente minhas compras”, diz.

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“Eu notei um senhor sem máscara fazendo compras com outras pessoas que estavam no local. Eu chamei uma funcionária e avisei. Ela se dirigiu a ele, mas não sei o que ela disse”, relata. Ana explica que, quando caminhava em direção ao caixa, viu o mesmo homem, acompanhado de uma mulher e uma criança. Ele estava embalando as compras e continuava com “a máscara pendurada de forma aleatória” — no vídeo gravado por ela, dá para ver que a máscara não cobre sua boca.

Nesse momento, conforme o relato da massoterapeuta, o homem, parecendo “alterado”, teria perguntado, em voz alta: “Quem foi o cliente que reclamou que eu estava sem máscara?’. Ana levantou a mão e contou que havia sido ela.

“Ele saiu do caixa, atravessou o corredor, vem para mim proferindo palavras muito fortes, me chamando de ‘imbecil, idiota, sua burra, sua pobre’, me perguntando muitas vezes se eu sabia com quem eu estava falando”, conta a massoterapeuta. Quando o homem voltou para embalar suas compras, Ana resolveu filmá-lo e pediu que repetisse o que havia dito. “Ele, muito alterado, vem e me dá a cotovelada, com o intuito de tirar o celular da mão. Meu celular foi muito longe e está inteiro rachado.”

“Nesse momento é onde ele pega o meu pulso e faz a contenção. Ele contorce inteiro meu pulso, me vira e me rende no chão como seu eu fosse uma criminosa. Esse ato me chamou muito atenção de que não era um cidadão comum, ele tinha um movimento muito correto para aprisionar alguém. Era muita dor. Usou muita força e me deixou jogada lá”, relata.

Após a violência, Ana diz que foi socorrida por pessoas que viram a cena, enquanto o agressor deixava o hortifruti. Ela ligou para o filho, que foi até o local. Depois de conversar com ele, os dois se dirigiram até o 19° DP (Vila Maria). Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria da Seurança, Pública, o caso foi registrado como lesão corporal. “O autor ainda não foi identificado. Foi solicitado exame de corpo de delito e a vítima foi orientada quanto ao prazo de até seis meses para realizar a representação criminal, conforme determina a lei”, afirma a Secretaria em nota.

No hospital Notre Dame, uma radiografia não indicou fratura, mas, segundo Ana, um médico recomendou novos exames, nesta segunda-feira (12/7), para detectar se houve ruptura de ligamentos.

Ana Cristina afirma que filmou a placa do veículo conduzido pelo agressor e passou essa informação na delegacia. Ali, os policiais teriam apontado que o carro está registrado no nome de uma empresa. Mais tarde, em casa, teria usado essa informação para localizar, nas redes sociais, o homem que agrediu.

“Aí eu cliquei no perfil dele. O que me apareceu ontem, até aquele momento, era o perfil dele, onde ele trabalhava. Isso era por volta de umas 20h. Pouco depois da repercussão, chegaram muitas mensagens e deve ter chegado até ele e ele apagou várias postagens e onde ele trabalhava, mas eu já tinha feito todos os prints. No perfil dele, ele mesmo se intitula como militar. Então, se ele não é, ele é uma fraude”, diz.

O homem que Ana Cristina afirma ter reconhecido se chama Ricardo Almeida. Em seu perfil no Facebook, Almeida lista, como um de seus livros favoritos, “A Verdade Sufocada”, de Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido como torturador pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade e pela Justiça. Prints do perfil feitos por Ana, que não estariam mais disponíveis, mostram Almeida debochando de feministas e pessoas trans. A reportagem mandou mensagens para o perfil do suposto agressor e aguarda uma resposta.

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Ana Cristina critica a “politização” em torno do uso da máscara, incentivada pelo presidente Bolsonaro, que critica publicamente o seu uso. “Ontem eu entendi o quanto a máscara passou a ser politizada. Quem é que usa e quem não a usa, a negação da ciência. O fato de você usar e querer que o outro use para que seja de forma coletiva a abordagem do que esta acontecendo no país”, afirma.

A reportagem entrou em contato com o Hortifruti Vila Maria na tarde deste domingo (11). Por telefone, um funcionário afirmou que apenas os donos do estabelecimento falariam, mas que eles não estavam no local naquele momento.

Procurada, a assessoria de imprensa do Exército Brasileiro não respondeu até agora.

Ana Cristina conta que teve o braço torcido por agressor | Foto: Arquivo pessoal

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