Por Cristina Azevedo, Agência Fiocruz de Notícias
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, passará a integrar o Conselho da Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias (Cepi). Nísia se torna, assim, um dos dois representantes da América Latina no Conselho. A Cepi é uma organização internacional que tem como objetivo financiar projetos de pesquisa para acelerar a produção de vacinas contra epidemias. Como a indicação entra em vigor imediatamente, Nisia já participará da reunião do Conselho desta semana, que ocorre nestas quinta-feira (16/9) e sexta-feira (17/9). Ela também vai integrar a Comissão de Auditoria e Risco, uma das quatro comissões do Conselho da Cepi.
Composto por 12 membros com direito a voto, o Conselho supervisiona a estratégia, o desempenho e a prestação de contas da Cepi. Ele garante que a organização contribua para melhorar a preparação contra epidemias e pandemias no mundo. Em comum, a organização e a Fiocruz compartilham a missão de viabilizar o acesso equitativo a vacinas e demais tecnologias em saúde. O ingresso de Nísia no Conselho também ocorre em um momento crítico, quando o mundo enfrenta a pandemia de Covid-19 e as organizações precisam se reinventar para superar obstáculos futuros.
“Tenho o prazer de dar as boas-vindas a Nísia Trindade Lima ao Conselho da Cepi. Como uma destacada especialista em saúde, com uma imensa visão e compreensão sobre a ciência e a área da saúde na América Latina, sua experiência e o seu conhecimento serão inestimáveis para o progresso da missão da Coalizão”, disse Jane Halton, membro do Conselho.
“Sua perspectiva única de especialista a partir de sua experiência como socióloga e cientista enriquecerá profundamente as discussões do Conselho, enquanto trabalhamos ininterruptamente para responder à pandemia de Covid-19. Ela também ajudará em nosso trabalho no momento em que começamos a implementar nosso plano de US$ 3,5 bilhões (R$ 18,4 bilhões) para a construção de ferramentas e redes a fim de estarmos melhor preparados para futuros surtos de doenças infecciosas”, acrescentou Jane.
“Eu assumo esta responsabilidade como um reconhecimento do meu trabalho e, sobretudo, como um compromisso de levar a perspectiva que o aprendizado na Fiocruz vem me trazendo, de pensar tanto em novas tecnologias de inovação frente às emergências sanitárias como de associar esta inovação à equidade em saúde”, afirmou Nísia. “É muito importante também valorizar a perspectiva da América Latina e da região do Caribe e uma visão interdisciplinar do conhecimento científico necessário a ações de preparação em tempos cruciais como estes que vivemos”, destacou a presidente da Fiocruz.
Uma parceria global
A Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias (Cepi) é uma parceria global entre organizações públicas, privadas, filantrópicas e da sociedade civil, fundada em 2017 em Davos na esteira da epidemia de ebola em 2014-2016 na África Ocidental. Ela foi lançada pelos governos de Alemanha, Japão, Noruega e Índia, a Fundação Bill & Melinda Gates, o Wellcome Trust e o Fórum Econômico Mundial. Havia um consenso de que um plano coordenado, internacional e intergovernamental era necessário para desenvolver e distribuir novas vacinas contra epidemias causadas por doenças infecciosas emergentes e garantir o acesso a esses imunizantes durante os surtos. A Cepi obteve o financiamento de mais de 30 governos, instituições filantrópicas e investidores do setor privado até o momento, com outras 25 parcerias estabelecidas para o desenvolvimento de vacinas.
Em resposta à pandemia, Cepi já investiu US$ 1,5 bilhão (R$ 7,89 bilhões) no estudo de 14 candidatas à vacina contra a Covid-19. A Coalizão também colidera a iniciativa Covax, juntamente com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Gavi, Vaccine Alliance e o principal parceiro de entrega, a Unicef, para tornar globalmente acessíveis vacinas seguras e eficazes contra a Covid-19 e acelerar o fim da fase aguda de a pandemia.
Em março de 2021 a Cepi publicou seu plano de US$ 3,5 bilhões para minimizar ou mesmo erradicar o risco futuro de epidemias e pandemias, evitando potencialmente milhões de mortes e trilhões de dólares em prejuízos econômicos. O plano inclui o objetivo moonshot para ajudar a comprimir os cronogramas de desenvolvimento de vacinas para cem dias, a criação de uma biblioteca de protótipos de vacinas para responder rapidamente diante do surgimento de um vírus e o desenvolvimento de infraestrutura e expertise para apoiar os esforços de países de baixa e média rendas para assumirem a plena responsabilidade por sua segurança nacional de saúde.
Uma relação antiga
A relação entre a Fiocruz e a Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias remonta à propria criação da Cepi. Na ocasião a Fiocruz foi convidada a indicar uma pessoa para integrar o conselho interino, que iria escolher o presidente da organização e desenhar a sua governança. O primeiro indicado foi o ex-diretor do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e pesquisador aposentado da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) Eduardo Costa, depois substituído pelo atual vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fundação, Marco Krieger.
“Agora, Nísia foi chamada para o Board definitivo. Então, é um ciclo que se fecha num momento em que a Cepi tem um protagonismo global no enfrentamento da pandemia e na coordenação de várias frentes de resposta. Nísia entra como pessoa física, mas também com a indicação baseada em sua atuação como presidente da Fiocruz”, comentou Krieger, destacando que a indicação respalda o papel da Fundação na saúde global.
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Foto: Peter Ilicciev / Ciência Hoje