A junção de desmatamento em alta, a maior seca em nove décadas e a chegada das primeiras nuvens de chuva da primavera criaram o “cenário perfeito” para a nuvem de poeira que cobriu cidades no interior de São Paulo e Minas Gerais no último domingo (26/9). O fenômeno, conhecido como haboob, é bastante comum em países desérticos, mas no Brasil não é tão frequente. Sua ocorrência causa preocupação não apenas pelo tamanho, mas também pelo clima cada vez mais seco no Sudeste e Centro-Oeste, o que pode favorecer fenômenos desse tipo.
“A série de 20 anos de predomínio de períodos secos sugere uma alteração no clima, que pode ter relação com alguma mudança natural, mas também com o aquecimento global”, explicou Giovanni Dolif, do CEMADEN, a’O Globo. “O desmatamento na Amazônia compromete a fonte de umidade desse ar que vem para o Sudeste e Centro-Oeste”. O Metrópoles também fez a associação entre destruição florestal, seca e a tempestade de poeira no Sudeste. A reportagem do Estadão destacou a situação hídrica do norte paulista, que já convive com um racionamento de água em razão do esvaziamento dos reservatórios hídricos da região.
Falando em crise climática e seca, Cleide Carvalho explicou n’O Globo como a mudança do clima está aumentando o risco de desertificação no Brasil, especialmente no Nordeste. De acordo com análises da Universidade Federal de Alagoas, o estado alagoano é o que possui maior proporção de solo degradado em relação a seu território na categoria de maior risco para desertificação (10%). Na lista também estão Rio Grande do Norte (9,2%), Paraíba (7,1%) e Pernambuco (5,3%). O Globo fez uma lista de eventos extremos registrados recentemente no Brasil, como a cheia do Amazonas neste ano, os incêndios históricos no Pantanal e as tempestades que inundaram Belo Horizonte e São Paulo em 2020.
Em tempo: O clima extremo no Brasil também foi destaque na Bloomberg. A reportagem abordou os impactos da seca, dos incêndios florestais e das fortes ondas de calor e frio sobre a agricultura brasileira, uma das principais produtoras mundiais de alimentos. Com a colheita prejudicada, os preços de produtos como café, laranja e açúcar subiram no mercado global nos últimos meses, contribuindo para o aumento na inflação internacional de alimentos. De acordo com a ONU, os preços médios tiveram alta de 33% no último ano.