Clima, pandemia e imposto global dominam agenda da cúpula do G20

Líderes das maiores economias do mundo se reúnem em Roma, no primeiro encontro presencial desde o início da pandemia. Em conversa com líder turco, Bolsonaro mente sobre situação da economia e sua popularidade.

Na DW

Os líderes das 20 maiores economias do planeta iniciaram neste sábado (30/10), em Roma, sua primeira cúpula presencial desde o início da pandemia. O encontro ocorre sob pressão por um forte sinal contra as mudanças climáticas às vésperas da COP26, em Glasgow, no Reino Unido.

“Temos uma oportunidade agora para tentar assumir alguns dos compromissos nebulosos de Paris, solidificá-los em compromissos fortes e rápidos para reduzir as emissões, carros e carvão”, afirmou o primeiro-ministro britânico Boris Johnson ao canal de televisão ITW.

As mudanças climáticas dominam a agenda da cúpula do G20, mas os líderes também homenagearam os profissionais da saúde na linha de frente da pandemia, posando com alguns na tradicional “foto de família” que marca as cúpulas do grupo.

Para a primeira cúpula presencial desde Osaka em 2019, os olhos também se voltaram para os corredores do centro de congressos onde ocorre a reunião, com encontros bilaterais entre líderes.

O argentino Alberto Fernández se encontrou com os dirigentes da Alemanha, França, Espanha e União Europeia (UE), antes de se reunir à tarde com a chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, num momento de plena renegociação da sua dívida.

“Se ainda não concluímos um acordo [com o FMI] é porque não vamos nos ajoelhar”, disse Fernández, que, junto com o brasileiro Jair Bolsonaro, são os únicos líderes da América Latina em Roma, na ausência do mexicano Andrés Manuel López Obrador (AMLO).

AMLO não é o único. O presidente chinês Xi Jinping, o russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, se limitam a participar por videoconferência do encontro.

Agenda magra de Bolsonaro e mentiras

Em contraste com o argentino Fernández, que teve encontros bilaterais com vários líderes do G20, a agenda do presidente Jair Bolsonaro é bem mais magra. O brasileiro só deve protagonizar dois encontros. Na noite de sexta-feira, Bolsonaro se encontrou com o presidente italiano Sergio Mattarella. A reunião foi uma mera formalidade já que a Itália sedia o encontro.

No sábado, estava previsto o segundo encontro, na embaixada brasileira em Roma, com o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Mathias Cormann.

Ainda neste sábado, durante uma recepção geral para todos os líderes do G20 presentes, Bolsonaro conversou rapidamente com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. No diálogo, Bolsonaro disse que “a Petrobras é um problema”.

Na mesma roda, estava o político Olaf Scholz, atual ministro das Finanças da Alemanha e vencedor da eleição de setembro e que no momento negocia a formação de uma coalizão de governo que deve tê-lo como chanceler federal. Bolsonaro, aparentemente não sabendo quem é Scholz, ignorou o alemão. Pouco depois, enquanto Bolsonaro reclamava da mídia brasileira e trocava observações banais com Erdogan, Scholz deu as costas e foi falar com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

Na mesma conversa, Bolsonaro repetiu mentiras para o líder turco, afirmando que “a economia [brasileira vem] voltando bem forte” – o que é desmentido por dados oficiais – e que o apoio ao seu governo é “muito grande” – o que é novamente desmentido por pesquisas que apontam que o presidente é reprovado pela maioria dos brasileiros.

Segundo o jornalista Jamil Chade, que gravou o encontro, Bolsonaro não fez nenhuma pergunta sobre a Turquia a Erdogan. Isolado, antes falar com o líder turco, Bolsonaro havia se limitado apenas a conversar com os garçons do evento.

Desde 2019, o Brasil enfrenta crescente isolamento internacional, especialmente por causa das ações antiambientais do governo Bolsonaro. Mais recentemente, esse isolamento se acentuou ainda mais após o governo adotar políticas negacionistas para lidar com a pandemia. Bolsonaro é o único líder do G20 que ainda não se vacinou contra a covid-19.

Imposto global

No início da tarde, no centro da capital italiana, milhares de pessoas participaram de uma marcha para exigir maior ambição dos líderes das principais economias do planeta no combate às mudanças climáticas.

Para garantir a segurança e face às diversas manifestações convocadas para este sábado (sindicatos, extrema-esquerda, Fridays for Future), foram mobilizados 5.000 agentes de segurança.

Apesar das expectativas, não são esperados grandes avanços durante o encontro, além da ratificação pelos líderes do pacto fechado há três semanas para a aplicação de um imposto corporativo mundial de 15% a partir de 2023.

Essa iniciativa ganhou impulso com a chegada à Casa Branca de Joe Biden, que agradeceu a seus pares pelo apoio ao imposto.

Em sua conta oficial no Twitter, Biden disse que este pacto “é mais do que um simples acordo tributário”, pois é um exemplo de como “a diplomacia está remodelando a economia global e proporcionando benefícios à população”.

“Aqui no G20, líderes que representam 80% do PIB mundial, tanto aliados como concorrentes, deixaram claro seu apoio a um imposto mínimo global forte. Isso é mais do que apenas um acordo tributário: é a diplomacia que está remodelando nossa economia global e entregando benefícios ao nosso povo”, disse o democrata.

Discussão em aberto

“Existem dois debates paralelos: Devemos aumentar a nossa ambição comum ao nível do G20, reforçando os objetivos da neutralidade climática (…)? E quais são os objetivos concretos?”, afirmou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, comentou no caminho que não será possível deter “a mudança climática, nem em Roma nem na reunião da COP” em Glasgow. “O máximo que podemos esperar é desacelerar o aumento” das temperaturas.

Em Paris, em 2015, a comunidade internacional se comprometeu a se esforçar para limitar o aquecimento global a +1,5°C em comparação com a era pré-industrial. Já na reunião na Escócia será discutida a definição de um cronograma de ações de médio prazo, como a redução das emissões de gases poluentes

Os efeitos devastadores do coronavírus também estão na agenda da reunião deste fim de semana em Roma, assim como a dívida dos países mais pobres, que exigem, por sua vez, que os países desenvolvidos parem de acumular as vacinas anticovid.

“Nos países de alta renda, 133 doses da vacina anticovid foram administradas para cada 100 pessoas, enquanto nos países de baixa renda 4 doses foram administradas para cada 100”, denunciaram várias organizações da ONU na sexta-feira, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No início de setembro, o mecanismo Covax Facilty, promovido pela OMS, revisou para baixo suas projeções de doses em 2021 para 1,4 bilhão. A meta inicial de 2 bilhões deve agora ser alcançada apenas no primeiro trimestre de 2022.

Depois de uma prévia na sexta-feira marcada pela diplomacia do papa Francisco e do primeiro encontro presencial entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, após a crise dos submarinos, os encontros bilaterais continuam.

O pontífice argentino se encontrou pela primeira vez neste sábado com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que o convidou a visitar seu país, em um momento de crescente violência contra as minorias religiosas neste país de maioria hindu.

Os líderes das potências europeias que participaram do acordo nuclear com o Irã em 2015 – França, Reino Unido e Alemanha – devem discutir sua reativação com Biden. No domingo, Macron e Johnson devem abordar a crise da pesca no Canal da Mancha.

jps (AFP, EFE, Reuters, ots)

Foto: Carolina Antunes / PR

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