“Que o governo que desdenhou da ciência retorne aos porões da ignorância”

É o que deseja o professor Glauco Arbix ao fazer uma avaliação do que se passou com a ciência – e, por extensão, com o Brasil – no ano que está acabando

No Jornal da USP

Na visão do professor Glauco Arbix, a ciência no Brasil nada tem a comemorar em 2021. Para ele, os dois últimos anos foram os mais preocupantes que vivemos em todos os tempos, e não somente por conta da pandemia, “mas também pelas sombras geradas e pelos ataques que a gente observa contra a democracia, pelo aumento do desemprego e das desigualdades sociais, pelas injustiças raciais, pelo aumento do feminicídio e da violência contra a sociedade”. E o mais grave é o conhecimento que se tem de que, muitas vezes, esses ataques se originam dos próprios órgãos de governo. “Se a gente olhar para a educação, a ação deletéria do Ministério da Educação está na raiz do enorme retrocesso que vive todo o sistema de ensino no Brasil.”

Da própria sede do governo federal, em Brasília, vem a determinação para o corte de verbas para a pesquisa científica e para as universidades, “num aberto contraste com o peso da ciência e sua atuação para gerar vacinas e medicamentos que salvaram a vida de milhões de pessoas”, diz, antes de prosseguir: “A negligência do governo diante do desamparo crescente da população aparece na inflação, que hoje está por volta de quase 10%”. Sem falar na destruição da Amazônia e da impunidade que o governo oferece aos mineradores, pecuaristas e madeireiros ilegais. “As cicatrizes que marcam o Brasil recente vão exigir muita perseverança para serem superadas.”

O estrago econômico, político e social que o Brasil vive é muito grande para ser ignorado, argumenta o colunista. “Bolsonaro despertou e deu voz para um Brasil que muitos acreditavam não existir. Foi e continua sendo apoiado por uma elite predatória, que se espalha pela economia e pela imprensa que se diz de direita, pelo Judiciário e pelos partidos que compõem o Centrão.” Por tudo isso, a expectativa do professor Glauco Arbix, para 2022, é a de que os ventos mudem de direção. “E que o governo que desdenhou da ciência, que se casou com o obscurantismo e semeou o ódio retorne aos porões da ignorância da nossa sociedade.” Afinal, as tempestades não podem durar para sempre.

OUÇA a entrevista.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.

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