O ouro vermelho de sangue dos Yanomami

ClimaInfo

O ouro retirado de Terras Indígenas no Brasil não está sujo apenas pela ilegalidade; de certa forma, ele também está manchado com o sangue de milhares de indígenas, vítimas diretas e indiretas da violência e dos abusos cometidos por garimpeiros e das doenças que estes levam às aldeias. Relatório recente da Hutukara Associação Yanomami sobre a situação dramática das comunidades indígenas em uma das maiores reservas do país deixou evidente a relação da violência e da violação de direitos com a extração ilegal de ouro na Amazônia.

Na 2ª feira (11/4), como parte da mobilização do Acampamento Terra Livre (ATL), milhares de indígenas marcharam em Brasília até a sede do ministério de minas e energia para protestar contra a atuação do governo Bolsonaro, principal defensor do garimpo e da liberalização da exploração econômica das Terras Indígenas por interesses terceiros. Para ilustrar o impacto do garimpo nas comunidades indígenas, os manifestantes levaram até a porta do ministério peças que imitavam barras de ouro, lama e sangue cinematográfico. “Precisamos lembrar que o garimpo não é só o ouro, não é só a prata. O garimpo também é o gás, o petróleo e a mineração”, afirmou Kretã Kaingang, coordenador-executivo da APIB. “O incentivo dessas produções dificulta ainda mais a demarcação de nossas terras, além de contaminar rios e aquíferos”.

“A situação é extremamente grave. Rios inteiros estão sendo destruídos. O mercúrio contamina a água, os peixes e as pessoas, comprometendo a base alimentar desses Povos”, disse Márcio Santilli, do Instituto Socioambiental (ISA), a Raquel Miura na RFI. “Essas práticas acabam desestruturando por completo o sistema tradicional de roças e de sobrevivência. E isso leva a uma dependência crescente de cesta básica e insumos trazidos de fora para dentro. É um câncer mineral”.

Ainda sobre a crise Yanomami, Emily Costa e Elaine Farias abordaram no Amazônia Real outro ponto da denúncia feita pela Hutukara sobre o garimpo na Terra Indígena. Além de levar destruição e violência à reserva Yanomami, os garimpeiros também estão tirando a comida das comunidades indígenas. “Os garimpeiros estão matando anta, porcão [porco-do-mato ou queixada]. Matam só por matar, pra brincar e colocar no rio e deixar boiar”, afirmou Júlio Ye’kwana, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana. “Nós dependemos do mato. Estão matando nossos alimentos, nossas carnes, nossos peixes. Não queremos que essa destruição aconteça”.

Já no podcast Ao Ponto, do jornal O Globo, Daniel Biasetto contou detalhes do relatório e da situação dos Yanomami, abandonados pelo governo federal à própria sorte, vulneráveis à ação criminosa dos garimpeiros.

Em tempo: De acordo com o g1, o número de indígenas mortos no conflito recente entre aldeias na Terra Yanomami aumentou para quatro, com sete pessoas feridas e duas ainda desaparecidas. De acordo com lideranças indígenas, a situação teria sido precipitada por garimpeiros forasteiros, que deram armas e munição a indígenas pró-garimpo para que eles atacassem um grupo indígena antigarimpo. O Ministério Público Federal está articulando com forças de segurança pública uma operação “urgente” para pacificar a área.

Na tarde do dia 11 de abril, indígenas fizeram ato contra o garimpo em frente ao Ministério de Minas e Energia, em Brasília. Foto: Marina Oliveira/Cimi

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