O Exército, vendido por este governo como “pau para toda obra”, foi incapaz de (ou, a bem da verdade, não quis) dar apoio logístico a uma comitiva de parlamentares que visitou a Terra Indígena Yanomami na semana passada. O pedido tinha sido feito pelo senador Humberto Costa (PE), que pediu ajuda militar para que o grupo pudesse visitar a aldeia de Aracaçá, palco de um possível caso de violência sexual e homicídio contra uma adolescente indígena por garimpeiros. No entanto, como informou a Folha, o comando do Exército apenas afirmou que a ação não seria possível “tendo em vista a restrição dos meios aéreos disponíveis na região amazônica”. O Metrópolis também repercutiu a negativa do Exército.
Além de Costa, a comitiva foi composta pelos também senadores Telmário Mota (RR), Chico Rodrigues (RR), Leila Barros (DF) e Eliziane Gama (MA), além dos deputados Joenia Wapichana (RR) e José Ricardo (AM). O grupo se encontrou com representantes indígenas e de órgãos públicos como IBAMA, FUNAI, Polícia Federal e Ministério Público. Mas nem todos os parlamentares do grupo participaram dessa agenda: Rodrigues, vulgo “o homem da cueca de ouro”, trocou as reuniões por compromissos políticos locais. Outro senador que deu “cano” foi Mota, encalacrado na mesma denúncia que derrubou um ex-ministro do meio ambiente do atual governo por contrabando de madeira ilegal. Questionado pela Folha, ele justificou que a comitiva teria “perdido o foco” e que ele não queria “fazer papel de bobo da corte”. Os dois senadores são defensores notórios e explícitos do garimpo e do desmonte ambiental promovido pelo atual presidente.
Por falar em garimpo, o lobby da destruição ambiental se fez presente durante a visita da comitiva parlamentar em Roraima. Segundo o Amazônia Real, um grupo de manifestantes pró-garimpo recepcionou os parlamentares na frente da Assembleia Legislativa, em Boa Vista, puxado por militantes políticos favoráveis ao atual presidente da República e seus aliados no estado. O Amazônia Real deu mais detalhes sobre a situação.
Em tempo: Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida abordaram na Folha a iniciativa do Povo Indígena Arara, que vive na Terra Cachoeira Seca, a mais desmatada da Amazônia Legal sob o atual governo. Há décadas, a comunidade sofre com os efeitos de grandes projetos de infraestrutura no entorno de sua reserva, que causaram grande devastação e sofrimento. Para evitar que essa situação se repita, o Povo criou protocolos de consulta, com regras e condições, para negociar com o poder público grandes projetos que possam representar ameaça aos seus territórios. A proposta tem respaldo legal, pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e apoio do Ministério Público Federal.