Articulação das CPT’s do Cerrado realiza Seminário Inter-regional ‘Agroecologia dos Povos do Cerrado’

Encontro possibilitou discussão sobre os impactos dos agrotóxicos e a agroecologia como resistência nas comunidades dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia

Por Amanda Costa, em CPT

“A luta é difícil, mas somos resistentes…. estamos cercados pela monocultura e o veneno”. O desabafo de Vitória, coordenadora regional do MST e acampada do Acampamento Leonir Orback, em Santa Helena de Goiás (GO), revela o principal objetivo da realização do Seminário Inter-regional ‘Agroecologia dos Povos do Cerrado: semeando agroecologia em defesa da vida’, a escuta das comunidades sobre a invasão dos territórios pelo agronegócio com seus agrotóxicos, estes cada vez mais ameaçadores.

Entre os dias 05 e 07 de maio os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul se reuniram para a primeira etapa do encontro, que discutiu os impactos dos agrotóxicos e prática da agroecologia, e debateu a realidade de regularização fundiária nos Assentamentos da Reforma Agrária. A oportunidade também permitiu fortalecer a organização e as ações de enfrentamento do Inter Regional CORO (Centro-Oeste e Rondônia) junto às comunidades acompanhadas nos estados, assim como reforçar as iniciativas contra todo veneno que prejudica as famílias nessas regiões.

Neste primeiro momento, os agentes da CPT fizeram uma visita ao Acampamento Leonir Orback para troca de experiências e saberes sobre agroecologia e escuta dos acampados em relação aos malefícios da utilização de agrotóxicos nas lavouras de soja e cana-de-açúcar que cercam os cinco hectares de terra que ocupam. As famílias acampadas resistem cotidianamente à ‘Guerra Química’ provocada pelo agronegócio na região. Durante a pandemia desempenhou um papel essencial na produção e comercialização de alimentos saudáveis e revitalização do Cerrado.

A partir dessas experiências concretas, vindas do território, a primeira etapa do Seminário teve seguimento no Centro Pastoral Dom Fernando, em Goiânia (GO). Na oportunidade, os espaços foram dedicados a falas conjunturais, compartilhamento de demais experiências agroecológicas pelos estados (quintais produtivos, lavouras comunitárias, sistemas agroflorestais, recuperação de nascentes, etc), importância das sementes e apresentação do Painel de mapeamento da situação da Regularização Fundiária e titulação nos assentamentos dos estados MS e GO. Os dias também contaram com momentos culturais

No mesmo sentido, nos dias 12 a 14 de maio, o Cerrado de Rondônia acolheu os agentes da CPT no estado e também da CPT Mato Grosso na comunidade Nossa Senhora do Brasil, em Cerejeiras (RO). Com a mesma programação de Goiás, nos três dias foram tecidos diálogos sobre o aumento indiscriminado na utilização de agrotóxicos, dessa vez nas regiões em questão, e sobre a agroecologia como um sistema de resistência e de construção de redes, abordando temas desde a Segurança Alimentar até a questão de gênero na agricultura familiar. 

O Cerrado abrange cerca de 36% do país, incluindo seus 122,04 milhões de hectares de Zonas de Transição. Parte de Rondônia, principalmente a área do Cone Sul, é constituída pelas paisagens de Cerrado contínuo e de transição para a Amazônia. É nesta região onde concentram-se as terras mais férteis do estado e, ao mesmo tempo, o maior número de produção da monocultura. As comunidades camponesas neste locais, inseridas neste contexto, veem seus territórios e modos de vida constantemente ameaçados, assim como toda a biodiversidade existente.

A situação é evidenciada pela fala do agricultor Nildo, que recebeu os agentes da CPT em sua comunidade. “O Agronegócio só leva em conta o progresso e esquece da vida humana”, conta, ao compartilhar sobre as necessidades e dificuldades que enfrentam as famílias que, assim como em Goiás e nos estados onde que há o avanço do agronegócio, vivem cercada por uma extensa área de produção de milho com uso intensivo de agrotóxicos. 

Toda a programação do encontro teve a participação de importantes parceiros, entre eles a Universidade Federal de Goiás, o Ministério Público Federal, a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar (FETRAF), o Instituto Padre Ezequiel Ramim (IPER), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (FETAGRO), Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs), e associações locais.

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