As investigações em torno do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na região do Vale do Javari (AM) seguem empacadas. Apenas um suspeito de envolvimento com o caso foi detido até agora: Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos.
Inicialmente apresentado como um simples pescador, o homem de apelido “Pelado” parece ter as costas bem mais quentes do que um humilde trabalhador. Quase imediatamente após sua detenção pela Polícia Militar do Amazonas, dois advogados se apresentaram como defensores de “Pelado”: Ronaldo Caldas da Silva Maricaua e Davi Barbosa de Oliveira, ambos procuradores municipais em Atalaia do Norte e Benjamin Constant. Questionadas por O Globo, as prefeituras dos dois municípios negaram envolvimento com Amarildo e disseram que os advogados estavam exercendo a defesa do suspeito de forma independente. Ontem (9/6), no entanto, os dois advogados deixaram o caso.
Além do envolvimento de advogados com cargo público, viralizou nas redes sociais uma imagem do prefeito de Atalaia do Norte, Denis Paiva, na casa do suspeito antes de sua detenção pela Polícia Militar. A prefeitura esclareceu que a visita seria para “levar ajuda da Defesa Civil” e que não teria nenhuma relação com o desaparecimento de Pereira e Phillips. “Ele [prefeito] foi em todas as casas como sempre faz na comunidade. Fomos essa semana lá, no dia da prisão. Quando chegamos na comunidade, a PM já tinha abordado e feito os procedimentos com Pelado”, disse a prefeitura em nota. A Crítica divulgou o texto na íntegra.
Paiva também foi questionado na Globonews sobre a passagem na casa do suspeito antes de sua prisão e os esforços do poder público local na busca pelos desaparecidos. Ele negou envolvimento com “Pelado” e elogiou o trabalho do indigenista Bruno Pereira. “É alguém que a gente só tem a agradecer por tudo o que fez por Atalaia do Norte”, disse. Por outro lado, o prefeito não explicou porque a administração municipal não tem cobrado da União e do Amazonas mais apoio na proteção à Terra Indígena Vale do Javari e no combate aos grupos criminosos que estão tomando conta dessa área.
Enquanto isso, aos trancos e barrancos, as buscas por Pereira e Phillips seguem no Vale do Javari. De acordo com a Folha, a Polícia Federal encontrou indícios de sangue na embarcação de “Pelado”; o material está sendo enviado para Manaus para uma análise mais detalhada. A prisão temporária do suspeito também foi requisitada pelos investigadores federais. Já o Valor informou que a PF está recorrendo a imagens de satélite de uma empresa norte-americana para ajudar nas investigações. Essas imagens já estão sob poder dos agentes federais, que estão analisando dados próximos do dia e hora do desaparecimento no trecho entre a comunidade São Rafael, o último ponto de avistamento deles, e Atalaia do Norte, para onde eles se dirigiam.
O Globo também destacou o relato de uma das testemunhas ouvidas pelos policiais em Atalaia do Norte. De acordo com ela, “Pelado” estaria carregando uma espingarda e montando um cinto de munições e cartuchos pouco depois de Pereira e Phillips deixarem a comunidade São Rafael no domingo de manhã. Em seguida, o suspeito teria entrado em um barco mantido em ponto morto por um colega. A testemunha também afirmou ter visto “Pelado” na mesma embarcação com outras quatro pessoas cerca de uma hora depois, passando em alta velocidade. Para a testemunha, “Pelado” é um “homem muito perigoso” e que já tinha prometido “acertar as contas” com Pereira.
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Um dia antes do desaparecimento do jornalista britânico e do indigenista, o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, o ‘Pelado’, tentou intimidá-los apontando armas para o grupo que combatia as invasões da TI Vale do Javari. Na imagem, momento da prisão de “Pelado” (Foto Reprodução TV Globo).