Vinicius Sassine revelou na Folha que a Polícia Federal tinha programado uma ação de combate a crimes ambientais na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, seis meses antes dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips. No entanto, por desentendimentos no comando da PF, a operação acabou suspensa, deixando o caminho livre para que o crime organizado continuasse dominando o território e espalhando violência e medo entre indígenas e ribeirinhos.
De acordo com a reportagem, a operação aconteceria entre o final de dezembro e o começo de janeiro passados. Os agentes percorreriam os rios Javari e Juruá com o objetivo de apreender garimpeiros e equipamentos de garimpo e pesca ilegal, bem como de reprimir a ação de traficantes de drogas. Esta seria a primeira ação da PF no Vale do Javari em quase três anos; a última, a operação Korubo, destruiu 60 balsas de garimpo. Ironicamente, ela foi uma das últimas ações de apoio do Bruno Pereira como coordenador-geral de índios isolados e de recente contato da FUNAI antes de sua exoneração do posto. Depois disso, o indigenista se afastou do órgão e passou a atuar junto com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA).
Por falar nas investigações, Estadão e g1 publicaram um balanço preliminar do inquérito da Polícia Civil do Amazonas e da PF sobre as mortes. A responsabilidade material parece estar bem definida: Bruno e Dom foram assassinados por Amarildo Oliveira, o “Pelado”, junto com pelo menos dois cúmplices, ambos detidos – Oseney Oliveira, o “Dos Santos”, irmão de Pelado; e Jeferson Lima, o “Pelado da Dinha”. Por outro lado, ainda existe incerteza quanto à motivação do crime. Ao mesmo tempo em que Pelado tinha desavenças com Bruno Pereira por conta de ações indígenas contra a pesca ilegal no Vale do Javari, os investigadores não descartam que as mortes tenham sido encomendadas, possivelmente por pessoas ligadas ao tráfico de drogas na fronteira entre Brasil e Peru.
O g1 também destacou a “vaquinha” que amigos de Bruno e Dom estão promovendo na internet para apoiar as respectivas famílias. As mortes deles trouxeram um baque para os familiares, especialmente no caso do indigenista – que deixou uma esposa e três filhos, sendo duas crianças com menos de três anos de idade. Além de apoiar as necessidades imediatas das famílias, os recursos arrecadados também ajudarão no acompanhamento das investigações e de eventuais processos judiciais relacionados ao crime.
Em tempo: Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostram que, em pouco mais de 10 anos, 43 indígenas foram assassinados na Amazônia Legal – mais da metade depois de janeiro de 2019, quando o atual governo federal assumiu o poder. As mortes ocorreram por embates entre indígenas e criminosos relacionados ao garimpo e à grilagem, além de tráfico de drogas e pesca ilegal. O Globo deu mais informações.