Em missão, lideranças religiosas de todo o país irão denunciar violência sofrida pelos Guarani e Kaiowá, em Mato Grosso do Sul (MS)

Após visita a comunidades, lideranças religiosas de todo o país conversam com a imprensa sobre crimes em MS e situação enfrentada pelos povos Guarani Kaiowá

POR FÓRUM ECUMÊNICO ACT BRASIL / Cimi

Lideranças religiosas vindas de diversas partes do Brasil vão estar em missão no Mato Grosso do Sul, de 20 a 22 de julho, quando vão denunciar os ataques de fazendeiros e do Estado sul-mato-grossense contra os povos Guarani e Kaiowá.

A Caravana Ecumênica em solidariedade aos povos Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul será promovida pelo Fórum Ecumênico ACT Brasil (FEACT) e está prevista a entrega de alimentos para as famílias das áreas de conflitos na região sul de MS (Amambai/Dourados), onde grupos indígenas estão em situação de insegurança alimentar.

Um ato ecumênico vai acontecer na sexta-feira (22), em Dourados (MS), às 10 horas, na Praça Antônio João, em frente à Catedral. A coletiva de imprensa será realizada logo após o ato.

O FEACT é uma rede de igrejas, organizações ecumênicas e agências de cooperação que se reúnem em torno de questões comuns relacionadas à incidência, ao desenvolvimento e à ajuda humanitária no Brasil.  Igrejas que integram o FEACT: Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU). Outras organizações membro do Fórum são: ASTE, CEBI, CECA, CEDITER, CESE, CESEEP, CONIC, FLD, PAD, PROFEC, REJU, UNIPOP, Visão Mundial (Brasil).

Lideranças religiosas que farão parte da Caravana:

  • Mônica Alkmin, integra Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e Articulação Nacional de Monitoramento dos Direitos Humanos (AMNDH) – Distrito Federal
  • Pastor Inácio Lemke, presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) – Santa Catarina
  • Pastor Wertson Brasil de Souza, presidente da Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina (AIPRAL) – Minas Gerais
  • Bispa Marinez Bassotto, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) – Pará
  • Pastor Cristov Kayser, do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN) – Santa Catarina
  • Pastora Sônia Mota, da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) e diretora executiva da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) – Bahia
  • Missionária Adriana Carla, da Aliança de Batistas do Brasil (ABB) – Distrito Federal
  • Pastor José Roberto Cavalcante, Moderador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) – Rio de Janeiro

Violência

O histórico de violência do Estado contra os Guarani e Kaiowá vem se agravando. Para chamar a atenção nacional e internacional para as recentes e graves violações dos direitos desses povos, o grupo inter-religioso decidiu se deslocar até a região para denunciar os assassinatos de indígenas que acontecem desde 20 de maio, passa pela tragédia que ficou conhecida como Massacre de Guapo’y, em junho, e ainda ceifou a vida de mais um líder indígena em Guapo’y, em julho.

Alex Lopes, um jovem de 18 anos, foi assassinado e teve seu corpo despejado do outro lado da fronteira com o Paraguai, a cerca de 10km da reserva Taquaperi, em Coronel Sapucaia, após sair para buscar lenha no entorno da Terra Indígena, acompanhado de outros dois jovens.

A TI Taquaperi é uma das oito reservas indígenas criadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) na região sul do Mato Grosso do Sul, ainda no início do século XX, com a finalidade de confinar os indígenas que ocupavam toda a região e liberar seus territórios para a colonização. Apesar do projeto original ter criado reservas com 3.600 hectares, a TI Taquaperi possui, hoje, apenas 1.777 hectares, segundo a base cartográfica da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Por conta da histórica apropriação de partes da área reservada por fazendeiros, os Guarani e Kaiowá da reserva frequentam áreas de mata das propriedades vizinhas, reivindicadas pelos indígenas como parte de seu território tradicional. Em protesto contra o assassinato de Alex, o povo Guarani e Kaiowá retomou uma fazenda no município de Coronel Sapucaia.

Cenas de muita violência também aconteceram em Amambai, após outro grupo de indígenas retomar novamente parte do território de Guapo’y. A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com quase 10 mil indígenas. Para os Guarani e Kaiowá, Guapo’y é parte de um território tradicional que lhes foi roubado quando houve a subtração de parte da reserva.

A luta dos Guarani e Kaiowá pela retomada do território de ocupação tradicional, no Mato Grosso do Sul, tem sido motivada pela morosidade do Estado brasileiro em realizar sua demarcação. Há décadas os indígenas reivindicam a demarcação do território tradicional. Enquanto isso, vivem acampados, em péssimas condições de vida, e vêm passando por longos períodos de fome.

Um dia após a retomada, policiais militares e fazendeiros invadiram a área sem um mandado judicial e com extrema violência, no intuito de expulsar os Guarani e Kaiowá da região. A ação desastrosa e truculenta resultou na morte de Vitor Fernandes – assassinado a sangue frio e em plena luz do dia por agentes da polícia.

Além de Vitor, dezenas de pessoas ficaram feridas devido aos disparos de arma de fogo e de bala de borracha – lançados pelos invasores contra os indígenas. Os relatos e imagens do ataque indicam que a PM fez uso de veículos, de armamento letal e não letal e, inclusive, de um helicóptero, utilizado como plataforma de tiro contra as famílias indígenas da retomada, incluindo crianças e idosos. Esse episódio está sendo chamado de Massacre de Guapo’y.

Além destes ocorridos, mais um indígena Kaiowá foi assassinado na última quinta-feira (14). Márcio Moreira e outras duas lideranças da retomada do território de Guapo’y foram vítimas de uma possível emboscada, de acordo com denúncias da própria comunidade Guapo’y e do Conselho da Aty Guasu – a Grande Assembleia dos povos Guarani e Kaiowá. Márcio foi assassinado, mas os outros dois conseguiram escapar com vida.

Esse episódio acontece mesmo após a Justiça Federal de Ponta Porã indeferir um pedido para despejar os Guarani e Kaiowá da retomada de Guapo’y. A solicitação (medida de urgência) foi feita pelo proprietário da fazenda que ocupa, atualmente, a região – ou parte do território indígena, considerado sagrado pelos indígenas.

O FEACT já realizou outras missões ecumênicas em solidariedade aos povos Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul em 2015 e 2016. Prestar solidariedade aos povos e refirmar o compromisso ecumênico com as denúncias das violações de seus direitos, além de chamar a atenção de todo o País com visibilidade internacional a esses acontecimentos e comprometer as igrejas cristãs com as lutas dos povos indígenas faz parte das ações da FEACT.

Rezador Guarani e Kaiowá durante protesto na manhã desta segunda (19) na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Crédito da foto: Tiago Miotto/Cimi

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