Foi lançado ontem (7/11) na COP27 um “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” – compromisso firmado por 14 grandes empresas de alimentos para reduzir as emissões a partir da mudança do uso da terra em suas operações.
A iniciativa, que envolve empresas como ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, COFCO International, Golden Agri-Resources, JBS, Louis Dreyfus Company, Marfrig, Musim Mas, Olam International, Olam Food Ingredients (OFI), Viterra e Wilmar International, começou a ser gestada na COP26, em Glasgow, contou com apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido e foi organizada pelo Fórum Econômico Mundial e a Tropical Forest Alliance. A Exame traz os detalhes.
Como explica o Manifesto assinado por mais de 90 organizações ambientalistas e acadêmicas do Brasil e de outros países, esse roadmap “poderia potencialmente mudar o rumo da conversão dos ecossistemas naturais ao redor do mundo e das mudanças climáticas globais”. Afinal, essas empresas respondem por uma parte dominante do comércio internacional de commodities de risco para ecossistemas florestais e outros ecossistemas e o sistema alimentar mundial contribui para ao menos um terço do total líquido das emissões globais de gases de efeito estufa.
#SQN: o compromisso é com mudanças incrementais e não com a eliminação imediata do desmatamento das cadeias de commodities – condição sine qua non para que a meta de 1,5oC seja alcançada.
Em entrevista ao Valor, Maurício Voivodic, do WWF-Brasil, explica “a confusão que as traders fazem com a versão do termo desmatamento para o inglês. Usam ‘deforestation’ como sendo só florestas e ‘conversion’ como sendo o desmatamento de Cerrado ou de ambientes não florestais. Portanto permitem que o desmatamento continue no Cerrado, que é o maior problema da soja hoje. O Cerrado é ambiente extremamente ameaçado.”
O Roteiro do Setor Agrícola 1,5oC inclui a pecuária, mas considera apenas ações para a redução do desmatamento, deixando de lado as emissões de metano.
Como Ricardo Abramovay explicou no Valor, a redução das emissões de metano é um desafio que não pode ser ignorado: se fosse um país, o rebanho global de ruminantes ocuparia o segundo lugar em emissões de gases de efeito estufa, à frente dos Estados Unidos e só atrás da China.
O Brasil é o quinto maior emissor mundial de metano, com 5,5% das emissões globais e 72% das emissões brasileiras de metano derivam de seu rebanho bovino. Este é um desafio mais difícil até que o do desmatamento: “O combate ao desmatamento não envolve qualquer tipo de mudança estrutural na organização da vida econômica do país. Mas reduzir as emissões de metano exige um conjunto de transformações nos modelos produtivos, nas bases técnicas da produção, nos comportamentos dos consumidores e, portanto, nos próprios mercados.”
Em tempo 1: Vale a pena conferir este infográfico da Birdlife sobre o indigesto desperdício de comida na Europa e como este está relacionado à forma como o setor produtivo está organizado.
Em tempo 2: Já que estamos falando de temas indigestos, veja os nomes cotados para o Ministério da Agricultura de Lula, segundo o Valor: Neri Gueller, Carlos Fávaro, Blairo Maggi, Kátia Abreu e Simone Tebet.
Em tempo 3: Esta não tem a ver com clima diretamente, mas com o atual sistema produtivo que nos trouxe até a crise climática: pesquisadores da Universidade de São Paulo, da Fiocruz, da Universidade Federal de São Paulo e da Universidad de Santiago de Chile descobriram que o consumo de ultraprocessados no Brasil leva à morte prematura de 57 mil pessoas por ano, com base em dados de 2019. Isso é mais do que o total de homicídios no país no mesmo período (45,5 mil) e mais do que a soma de mortes ao ano por câncer de pulmão (28,6 mil) e de mama (18 mil), os dois tipos de tumores que mais matam no país. A notícia é do UOL.