Pesquisa financiada pelo Fundo Malala revela desigualdade de gênero na educação

Giovanna Carneiro, em Marco Zero Conteúdo

O Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec) lançou a pesquisa “Meninas por uma Educação com Igualdade”, que expõe dados sobre desigualdades de gênero na Educação. O objetivo do levantamento, que compõe uma das ações do projeto Na Trilha da Educação – Gênero e Políticas Públicas para Meninas, do Fundo Malala, é entender os efeitos das desigualdades de gênero na vida escolar de meninas.

Os resultados da pesquisa, realizada com 438  estudantes do ensino fundamental II das redes de ensino municipal público do Recife, Camaragibe e Igarassu, foram apresentados e durante o seminário “Meninas por uma Educação com Igualdade”, que aconteceu na manhã desta quarta-feira, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O encontro reuniu educadores, estudantes, representantes das secretarias municipais e gestores escolares dos municípios parceiros do Cendhec.

O levantamento mostrou que racismo, assédio, LGBTQIA+fobia, trabalho doméstico e falta de incentivo para a prática de atividades esportivas são problemas comuns apontados pelas adolescentes. Um percentual significativo (94%) das estudantes ouvidas quer que o tema da igualdade de gênero seja discutido nas escolas.

Coordenadora do Programa da Criança e do Adolescente e coordenadora adjunta da instituição, a cientista social Katia Pintor pontua a importância da pesquisa no combate às desigualdades:  “Ouvir as meninas ajuda o Cendhec a ter elementos para fazer com que essas vozes sejam ecoadas e transformadas em ação, em políticas públicas que garantam direitos previstos na Constituição de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente”. Além da apresentação dos resultados, durante o seminário o Cendhec entregou às secretarias de Educação uma carta de recomendações produzida pelo centro, a partir da experiência do projeto.

Principais dados 

Realizada entre março e setembro de 2022, a pesquisa foi dividida em dois métodos: quantitativo – por meio da aplicação de questionários;  e qualitativo – através da formação de grupos focais. As adolescentes consultadas responderam ao questionário no método quantitativo. Já no método qualitativo, um grupo de 71 meninas participou de rodas de discussão sobre desigualdade de gênero e educação, sendo 35 estudantes matriculadas no fundamental II e 36 jovens que estão fora da sala de aula, com até 21 anos. Mães de estudantes, gestores e professoras também foram ouvidas durante o estudo.

O levantamento apontou que 31,5% das alunas  já se sentiram incomodadas com atitudes e comentários de meninos. Dessas, 54,4% sentiu que havia maldade e segundas intenções; 53,8% não contou pra ninguém sobre essas atitudes.

Ainda de acordo com o estudo, uma a cada quatro meninas sofre preconceito em ambiente escolar. Segundo o levantamento, 26,9% das meninas entrevistadas dizem terem sido afetadas por algum tipo de prejulgamento e repúdio em suas instituições de ensino. Das vítimas, 38,1% atribuem a ação ao racismo: 27,1% por ter cabelo crespo/enrolado; 11% por ser negra.

Das meninas entrevistadas em Igarassu, Recife e Camaragibe, 59,1% responderam não saber o que é desigualdade de gênero, no entanto, 66% acham que meninas e meninos não têm os mesmos direitos na escola. Sete em cada dez afirmam que seus professores não discutem o tema em sala de aula.

Pedagoga do Cendhec e integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala responsável pela realização da pesquisa, Paula Ferreira explicou que o enfrentamento às desigualdades de gênero é um desafio que precisa ser encarado pelas instâncias da educação. “Para combater as desigualdades de gênero no ambiente escolar é preciso que as três redes parceiras do Cendhec, e que participaram da pesquisa, possam pensar em ações e projetos para garantir uma educação mais inclusiva para meninas, principalmente negras e que estão em vulnerabilidade social. Esse levantamento oferece dados importantes para pensar nas melhores estratégias”, afirmou a pesquisadora.

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