A Polícia Federal cumpriu ontem (14/12) mandados de busca e apreensão contra suspeitos de integrar um esquema que facilita a grilagem e o desmatamento dentro da Terra Indígena Ituna-Itatá (PA).
Um dos alvos da operação Avarus foi o coordenador-geral de índios isolados da FUNAI, Geovânio Oitaiã Pantoja, conhecido como Geovânio Katukina, que teve sua residência e seu escritório na sede da fundação vasculhados pelos agentes federais.
A suspeita é de que Katukina tenha atuado para atrapalhar a implementação das portarias da FUNAI que restringem o uso do território por conta da proteção de grupos indígenas isolados. A operação desta 4ª feira aconteceu no âmbito de uma investigação que averigua a ocupação e a comercialização ilegal de terrenos dentro da reserva, que envolveria fazendeiros e servidores públicos.
Além de Brasília, a PF também executou mandados de busca e apreensão em Altamira (PA) e em endereços nos estados da Bahia, Minas Gerais e Tocantins. No município paraense, os agentes detiveram um homem, flagrado com pornografia infantil no celular, e apreenderam armas de fogo, documentos, computadores e pen drives.
A despeito de contar com proteção legal, a TI Ituna-Itatá foi a 3ª Terra Indígena mais desmatada no último ano, de acordo com o INPE. Parte importante desse desmate é resultado do garimpo, que vem avançando neste e em outros territórios indígenas na Amazônia.
A FUNAI não comentou as ações da PF contra Katukina. Em julho passado, o Repórter Brasil informou que ele teria atuado para rejeitar indícios da presença de indígenas isolados dentro da Terra Ituna-Itatá, o que justificaria a não renovação da portaria que protege a reserva.
Lembrando que o cargo ocupado por Katukina foi o último posto ocupado pelo indigenista Bruno Pereira antes de deixar a FUNAI, em 2019. Bruno foi assassinado em junho passado na Terra Vale do Javari, junto com o jornalista Dom Phillips.
Agência Pública, g1, O Globo e UOL, entre outros, deram a notícia.
Em tempo: O Valor destacou dados do Censo Agro 2017, divulgado pelo IBGE, que mostram como não indígenas estão ocupando cada vez mais terras dentro de território indígena. Segundo o levantamento, 1/5 (pouco mais de 19%) dos produtores agrícolas em Terras Indígenas oficialmente delimitadas não eram indígenas em 2017. Nas Regiões Sul e Nordeste, esse percentual é ainda maior, de 30% e 26%, respectivamente; no Centro-Oeste e no Norte, esse número é ligeiramente menor que a média nacional, com 17% e 15%. Já no Sudeste, o percentual é o mais baixo do país, de quase 4,5%.