A posse mais representativa da história republicana brasileira. Por Edelberto Behs

“Lula recebeu a faixa presidencial da representação do povo brasileiro. Obrigado, Bolsonaro, por te mostrares um turrão ignorante, obrigado Mourão, por quebrarem o protocolo, ao nos proporcionarem assim esse quadro maravilhoso que vai ficar registrado na história do Brasil!”, escreve Edelberto Behs, jornalista.

IHU

Desde o criminoso silêncio do capitão logo após o resultado do pleito de outubro e até momentos antes da posse do tri-presidente, a imprensa especulava quem, afinal de contas, passaria a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva? O macho imbroxável fugiu para os Estados Unidos, seja para não participar do momento de posse e, assim, quebrar o protocolo, seja para se proteger das garras da Justiça brasileira.

O então vice-presidente da República também se esquivou. O presidente da Câmara, nem pensar. E o protocolo quebrado motivou a, sem qualquer sombra de dúvida, representar a mais significativa e bela passagem da faixa em toda a história republicana brasileira.

O presidente eleito subiu a rampa na companhia da presidente da Rede Central das Cooperativas de Trabalho de Catadores de Materiais Recicláveis, Aline Souza, 33 anos; do cacique Raoni Metuktire, 90 anos; do menino Francisco, 10 anos, que esteve na vigília em Curitiba enquanto Lula estava na prisão; do metalúrgico Weslley Viesba Rocha, 36 anos; do professor Murilo de Quadros, 28 anos; da Jucimara Fausto dos Santos, cozinheira que também esteve na vigília em Curitiba; do ativista em defesa de pessoas com alguma deficiência, Ivan Baron. E, claro, da companhia da primeira-dama e da cachorrinha Resistência, adotada por Jana dos tempos da vigília.

Lula recebeu a faixa presidencial da representação do povo brasileiro. Obrigado, Bolsonaro, por te mostrares um turrão ignorante, obrigado Mourão, por quebrarem o protocolo, ao nos proporcionarem assim esse quadro maravilhoso que vai ficar registrado na história do Brasil!

O discurso de Lula no ato de posse foi magnífico, revelador. Ao mesmo tempo em que desnudou os desmandos do governo fascista que deixa o poder, o desmonte do Estado, a “atitude criminosa de um governo negacionista, obscurantista e insensível à vida”, Lula assegurou que não carrega “nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a Nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei”. No entanto, “quem errou responderá pelos seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido processo legal”.

No discurso Lula destacou o “contraste entre distintas visões de mundo. A nossa, centrada na solidariedade e na participação política e social para a definição democrática dos destinos do país. A outra, no individualismo, na negação da política, na destruição do estado em nome de supostas liberdades individuais”.

Não são apenas essas as diferenças, presidente Lula. De um lado, um candidato que foi alijado da campanha presidencial de 2018 por ação parcial de um juiz desmoralizado que aceitou um ministério no governo então eleito, de outro lado, um presidiário que, diante da possibilidade de progressão da pena para o regime semiaberto, declarou, enfaticamente: “Não troco minha dignidade pela minha liberdade”.

Será que Bolsonaro sabe o que seja dignidade? Ora, antes de partir para Curitiba na condição de presidiário, Lula poderia ter se refugiado numa embaixada. Certamente seria aceito como perseguido político numa representação da França, da Alemanha, de Portugal, da Bolívia, sabe-se lá de outras mais, mas encarou a prisão para provar sua inocência e as maldades de Moro e sua trupe de malabaristas.

Nem mesmo concluído o seu período de governo, Bolsonaro tomou avião da FAB para levá-lo aos Estados Unidos, uma atitude digna de um mandatário diminuto que prefere fugir a encarar suas responsabilidades. O jornalista, escritor e professor universitário perguntou, em artigo em O Estado de S. Paulo, como “os livros de história no futuro irão se referir a esse homem tão pequeno? Terá alguma importância, o seu nome, ou irão se interessar apenas pelo surto coletivo que se apossou de milhões de brasileiros, por meia década ao menos, e que resultou na eleição de um ninguém, um nada, um palhaço macabro?”.

Não precisamos esperar historiadores registrarem os “feitos” do desgoverno fascista de Jair Messias Bolsonaro, apoiado por militares antinacionalistas. O capitão mentiroso, imbrochável, macho alfa já está condenado à lata de lixo da história mundial. Será lembrado, sim, por ser o tchutchuca do Centrão, de governar como se o Estado fosse um ente privado, de afirmar centenas de mentiras e depois se desdizer, e de fazer mimimis macabros de pessoas abatidas pela maior pandemia dos últimos tempos.

Nem a lata de lixo suportará tanta ralé.

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