O governo dos Estados Unidos anunciou disposição em apoiar financeiramente o Fundo Amazônia, principal instrumento internacional de financiamento para ações de proteção da floresta e desenvolvimento sustentável. A declaração aconteceu após a visita do presidente Lula ao país na última 6ª feira (10/2).
“Os EUA anunciaram sua intenção de trabalhar com o Congresso norte-americano para fornecer recursos para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo apoio inicial ao Fundo Amazônia, e para alavancar investimentos nessa região crítica”, diz a declaração conjunta assinada pelos dois líderes.
Além do aporte financeiro, os governos do Brasil e dos EUA anunciaram a retomada do Grupo de Trabalho de Alto Nível sobre Mudança do Clima entre os dois países para “examinar áreas de cooperação, como combate ao desmatamento e à degradação, reforço da bioeconomia, estímulo à implantação de energia limpa, fortalecimento de ações de adaptação e promoção de práticas agrícolas de baixo carbono”.
O texto não indica valores nem prazo para a liberação dos recursos. A BBC Brasil revelou que o aporte inicial dos EUA ao Fundo Amazônia seria de US$ 50 milhões (cerca de R$ 260 milhões). A expectativa do governo brasileiro era por um apoio financeiro mais significativo, o que decepcionou alguns representantes do país, como destacou a Folha.
Como Julia Dualibi assinalou no g1, o Itamaraty avalia que mais importante do que o valor repassado é o engajamento dos EUA no Fundo Amazônia, o que pode abrir caminho para que outros países desenvolvidos, especialmente do G7, também possam contribuir.
“Quando os EUA decidem fazer um aporte fora das estruturas tradicionais, como da USAID, isso empresta uma credibilidade enorme, que anima vários outros doadores”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em conversa com O Globo. “Isso tem um efeito catalisador, tem a importância dessa força gravitacional dessa chancela dos EUA”.
Ainda assim, como destacou Giovana Girardi na Folha, os EUA têm condições para apoiar a proteção da Amazônia para além da contribuição financeira. “Os Estados Unidos poderiam fazer muito mais. Fiscalizando, por exemplo, em seu próprio território produtos provenientes da destruição da floresta, como madeira, ouro e outros minérios. Poderia pressionar os traders de soja e grandes frigoríficos a rastrearem toda a cadeia dos grãos e da carne para garantir que eles não foram cultivados e criados em áreas desmatadas”.
Já no UOL, Jamil Chade abordou como o presidente Lula está transformando a Amazônia em instrumento geopolítico para reposicionar o Brasil no cenário internacional. Além das conversas sobre a ampliação do Fundo Amazônia, o líder brasileiro também pretende retomar o diálogo regional com outros países amazônicos, com a realização de uma cúpula internacional ainda neste semestre.
A entrada dos EUA no Fundo Amazônia teve amplo destaque nas imprensas nacional e internacional, com manchetes em Associated Press, Estadão, g1, Metrópoles, NPR, O Globo, Reuters, UOL, Valor e Washington Post.
Em tempo: Além do apoio oficial dos EUA, a ministra Marina Silva também trouxe de Washington na bagagem um acordo com algumas das principais entidades de filantropia norte-americanas para implementar uma “operação de emergência” para recuperar áreas degradadas pelo garimpo na Amazônia. De acordo com o UOL, a ideia é captar recursos com financiadores internacionais para que, em apenas 40 dias, as primeiras ações possam ser implementadas. O processo será liderado pelos institutos de filantropia de Jeff Bezos, magnata da Amazon, e do ator Leonardo DiCaprio.
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Foto: Lula e Biden. Ricardo Stuckert