“O Brasil é um país que, historicamente, tem muitos conflitos relacionados à desigualdade”

Em entrevista exclusiva, o Ministro Silvio de Almeida fala sobre a luta por direitos humanos e igualdade racial e como estas se relacionam à luta pela terra

Por Fernanda Alcântara, na Página do MST

Estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966, o Dia Internacional da Luta contra a Discriminação Racial é celebrado anualmente em 21 de março em memória do Massacre de Sharpeville, ocorrido na África do Sul em 1960. Nesta data, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) também reforça a importância de combater o racismo e promover a igualdade racial.

A Reforma Agrária Popular e a luta antirracista são dois movimentos importantes na luta pela justiça social e pela igualdade de direitos. Enquanto a Reforma Agrária Popular busca democratizar a terra, garantindo a produção de alimentos saudáveis, sem a concentração de terras por latifundiários, a luta antirracista procura combater a discriminação e a opressão que as pessoas negras sofrem em nossa sociedade.

“O Brasil é um país que, historicamente, tem muitos conflitos relacionados à desigualdade”, lembra o Ministro de Direitos Humanos Silvio de Almeida que, em entrevista, trouxe uma perspectiva da luta por direitos humanos e igualdade racial. Destaque na abertura do Curso de Realidade Brasileira (CRB) em São Paulo, realizada no dia 18, no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Silvio Almeida é um dos principais nomes da luta antirracista no Brasil. Advogado, professor universitário, escritor, ativista e agora Ministro de Direitos Humanos do Governo Lula, tem dedicado sua vida a combater o racismo estrutural que afeta a sociedade brasileira.

“O Brasil foi um país colonizado e, por uma série de processos, formou uma burguesia débil, sempre ligada aos interesses internacionais, e que pouco se colocou à disposição de transformar o Brasil e de superar os problemas históricos”.

O Ministro ressaltou que as lutas são históricas, e o enfrentamento destas questões são necessários para entender a construção histórica do racismo no Brasil e, assim, combatê-lo. “Historicamente, o racismo se coloca de uma maneira de extravasar as frustrações e, diante do empobrecimento, no sentido da degradação da vida, mas ao mesmo tempo, você tem como resultado a ascensão de grupos, dos discursos, e até de governos de extrema direita”

Diante desta perspectiva, é importante lembrar que a Reforma Agrária Popular e a luta antirracista estão intrinsecamente ligados, já que a concentração de terras nas mãos de uma pequena elite é uma das formas de perpetuação do racismo estrutural em nossa sociedade.

Uma luta popular, pela terra, pela possibilidade de produzir a partir de um modelo de produção de democratização do acesso à terra, do acesso à economia, do acesso à educação, (…), isso é citado em uma luta política para superar os problemas estruturais do Brasil”.

Ainda hoje, a maioria dos proprietários de terras no Brasil é branca, enquanto a maioria da população rural é composta por negros e indígenas, que muitas vezes vivem em condições precárias e sem acesso a serviços básicos como saúde, educação e transporte. É o caso, por exemplo, das denúncias recentes sobre trabalho análogo à escravidão no sul do país.

Para Silvio Almeida, a luta antirracista é uma tarefa urgente e necessária para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Ele defende ações afirmativas para promover a inclusão de negros e negras em todas as áreas da sociedade, bem como políticas públicas que combatam o racismo estrutural.

Neste Dia Internacional da Luta contra a Discriminação Racial, entender o pensamento de Silvio Almeida é um importante referencial para todos aqueles que buscam entender e combater o racismo no Brasil. Sua atuação acadêmica, e agora, política, têm contribuído significativamente para a promoção dos direitos humanos e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Confira a entrevista completa abaixo:

*Editado por Solange Engelmann

Silvio Almeida abriu o Curso Realidade Brasileira (CRB-SP). Foto: Emilly Firmino @caaajuina

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