Desmatamento: agronegócio promete rastreabilidade de bois… em oito anos

ClimaInfo

Como diz o ditado, “é de onde menos se espera que não sai nada”. O chiste sintetiza a “proposta” apresentada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) nesta semana para implementar a rastreabilidade do gado criado no Brasil, uma demanda antiga e cada vez mais inescapável de mercados importadores ricos, como a União Europeia.

Mas não se anime: apesar da promessa, a sinalização é de que ela será implementada somente daqui a OITO anos. Pior: ao invés de um mecanismo obrigatório, que dê confiança aos consumidores quanto à origem legal da carne bovina consumida, a proposta apresentada pela CNA é de uma rastreabilidade voluntária – ou seja, faz quem quer. E, para juntar o insulto à injúria, a gestão e o controle do banco de dados ficaria a cargo da CNA, sem ser disponibilizado ao público.

“Com o entendimento de que isso [rastreabilidade] é um caminho sem volta, nós da CNA decidimos fazer uma proposta baseada nas necessidades do pecuarista para que seja de fácil implementação, com tempo suficiente, adesão voluntária e que tenha seus custos reduzidos ao máximo”, explicou o presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA, Francisco Olavo Pugliese de Castro.

A fala do representante da CNA faria sentido se estivéssemos em 2013, quando já existia uma demanda para que a indústria da carne bovina avançasse na rastreabilidade de sua cadeia de fornecimento, de forma a deixar de comprar e processar gado criado em áreas desmatadas ilegalmente. Em 2023, essas frases soam não apenas vazias de significado, mas trazem irritação para quem se preocupa de fato com a questão.

Fica a nossa dúvida para o suprassumo do agronegócio na CNA: vocês só tiveram essa ideia brilhante de “rastreabilidade voluntária com oito anos para implementação” agora ou ela estava perdida em alguma gaveta?

Beef Point e Valor deram mais informações sobre a proposta da CNA.

Em tempo: Por falar em ideias brilhantes, o Estadão informou que o senador Zequinha Marinho (PL-PA) protocolou no Congresso Nacional um projeto de lei que visa “responder” às novas restrições aplicadas pela União Europeia para a importação de commodities associadas ao desmatamento. A proposta torna obrigatória “o cumprimento de padrões ambientais compatíveis aos do Brasil para a disponibilização de bens no mercado brasileiro”. A argumentação do PL está repleta daquelas frases de efeito sem sentido algum que ficaram famosas no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro – como, por exemplo, que o Brasil possui uma das leis ambientais “mais rígidas do mundo” e que o agro brasileiro não tem nada a ver com o desmatamento.

CNA

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