‘Downwind’ abre Uranium Festival, denunciando os efeitos dos testes atômicos dos EUA sobre os indígenas Shoshone

Chuva radioativa em terra indígena: Novo filme ‘Downwind’, que explora as trágicas consequências dos testes de bombas atômicas dos EUA, estreia na Cinemateca do MAM Rio nesta quinta-feira, 18 de maio

Por Uranium Film Festival

Japão, Hiroshima, Nagasaki, Atol de Bikini, Ilhas Marshall, Mururoa, …? As pessoas mais bombardeadas com armas atômicas na terra são os indígenas Shoshone. Mais de 900 testes nucleares foram realizados em seu território em Nevada, a oeste de Las Vegas.

“Em 27 de janeiro de 1951, o primeiro teste nuclear ocorreu em nossa terra, quando uma bomba atômica de um quilotonelada foi lançada de um avião sobre nós”, disse o líder e ativista do Shoshone, Ian Zaparte. “Nos 40 anos seguintes, nosso território se tornou o principal local de teste para armas nucleares americanas.“

Ao todo, 928 bombas nucleares explodiram no território Shoshone – 100 na atmosfera e mais de 800 no subsolo.

Zaparte: “Quando os EUA lançaram a bomba atômica sobre Hiroshima, em 1945, 13 quilotoneladas de precipitação nuclear (denominada de “fallout“) choveram sobre a cidade japonesa. De acordo com um estudo de 2009, publicado no Nevada Law Journal, entre 1951 e 1992, os testes realizados em nossa terra causaram 620 quilotoneladas de “fallout“ nuclear.“

A precipitação radioativa desses testes cobriu uma ampla área nos EUA, mas foram as comunidades indígenas que vivem na direção a favor do vento (“downwind)“ que foram mais expostas.

“Porque consumimos animais selvagens contaminados, bebemos leite contaminado, vivemos em terras contaminadas com radioatividade”, explica o líder Shoshone. “Os pinheiros que usamos para alimentação e aquecimento foram contaminados radioativamente, as plantas que usamos para alimentação e remédios foram expostas, os animais que usamos para alimentação foram expostos. Fomos expostos à radioatividade.“

Durante décadas, essa história foi mantida em segredo pelo governo dos Estados Unidos. Agora, o novo documentário “Downwind”, com Ian Zaparte, traz isso à tona. Em janeiro deste ano, “Downwind”, de Mark Shapiro e Douglas Brian Miller, estreou no Slamdance Film Festival, nos Estados Unidos. E nesta quinta-feira, 18 de maio, tem sua estreia na América Latina, no 12º International Uranium Film Festival no Rio de Janeiro, na Cinemateca do MAM Rio. Até 28 de maio, este festival de cinema único no mundo sobre a era atômica exibirá 16 filmes de 15 países sobre energia nuclear e riscos radioativos.

“Downwind“, um exame arrepiante da história dos testes nucleares da América e o efeito que esses testes tiveram sobre as pessoas, comumente conhecidas como downwinders, é o filme de abertura deste festival carioca.

“O governo deliberadamente expôs pessoas, identificadas como segmentos da população de ‘baixa significância’ – nativos americanos e famílias mórmons – em documentos do governo”, disse o diretor Mark Shapiro. Entre os vítimas do “fallout“ das bombas atômicas, também estavam estrelas de Hollywood, como o legendário John Wayne.

Um dos lugares mais radioativos contaminados foi St. George, o local de filmagem do filme “O Conquistador”, um épico de guerra estrelado por John Wayne, como o imperador mongol Genghis Khan, produzido em 1954. Um ano antes das filmagens, uma bomba nuclear de 32 quilotons — que mais tarde ficou conhecido como “Dirty Harry” – detonou sobre Yucca Flats, Nevada. Em 1980, foi relatado que cerca da metade do elenco e da equipe de “O Conquistador” foram diagnosticados com algum tipo de câncer, incluindo John Wayne, as co-estrelas Susan Hayward e Agnes Moorehead e o diretor Dick Powell.

“Downwind” destaca um capítulo incrivelmente trágico e esquecido da história americana. “As pessoas têm que saber, porque, como não repetir os erros do passado se não os reconhecemos?” diz Mark Shapiro. O narrador do filme é o ator e ativista Martin Sheen, que tem protestado contra armas nucleares por décadas. Entre os entrevistados estão também o famoso ator, produtor e ativista contra armas nucleares Michael Douglas e o filho de John Wayne, Patrick.

Convidamos a todos para a abertura do festival, MAM Rio, dia 18 de maio, às 18h30.

Sobre o Festival: O International Uranium Film Festival foi fundado, em 2010, no Rio de Janeiro, e aconteceu pela primeira vez em 2011, em Santa Teresa.  Ele é dedicado a todas as questões nucleares e toda a cadeia do combustível nuclear, da mineração de urânio ao lixo nuclear, da guerra atômica aos acidentes nucleares. Uranium Film Festival foi criado para nos mantermos a salvo dos riscos da radioatividade da Era Atômica. É um festival pela vida! Desde 2012, o festival é realizado na Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM Rio). Além disso, viaja todos os anos com uma seleção de filmes para outros países. Até hoje, mais de 70 mostras do Uranium Film Festival aconteceram em mais de 40 cidades, em nove países: Brasil, EUA, Canadá, Alemanha, Índia, Jordânia, Portugal, Dinamarca e Noruega.  Em 2016, quando aconteceu pela primeira vez em Hollywood, o International Uranium Film Festival ganhou o nome “Atomic Age Film Festival“ – Festival de Cinema da Era Atômica.

Site e Programa do Festival
https://uraniumfilmfestival.org
https://uraniumfilmfestival.org/pt-br/rio-2023-programacao

Foto: Liderança Shoshone Ian Zabarte

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