Zucco ataca MST em live reproduzida em canal condenado por fake news

Presidente da CPI do MST, deputado usa espaço na Folha Política para espalhar mentiras sobre assentamentos, em parceria com deputado estadual gaúcho e convidados sob investigação; canal bolsonarista está proibido de receber investimento publicitário

Por Luís Indriunas, em De Olho nos Ruralistas

“O MST não produz nada”. Essa é uma das mentiras que o deputado federal Tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), disse, nesse domingo (28), durante uma live do canal O Rio Grande Precisa Saberpara atacar o movimento e sua pauta pela reforma agrária. O material foi reproduzido imediatamente no canal Folha Política, banido do Facebook em 22 de outubro de 2018 por espalhar fake news.

O banimento aconteceu seis dias antes do segundo turno, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente. Entre dezembro de 2017 e abril de 2018, a empresa Raposo Fernandes Marketing Digital, detentora da página, recebeu R$ 24 mil em cotas parlamentares do então líder do PL na Câmara, o deputado paranaense Delegado Francischini. O PRTB, então partido do senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS), contribuiu com R$ 25 mil entre outubro e dezembro de 2017 para outra empresa do grupo, a Novo Brasil Empreendimentos. Em agosto de 2021, o site teve seu financiamento publicitário bloqueado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O site mantém sua página no Facebook com o nome Folha Política Brasil, onde continua a espalhar discurso de ódio ao PT, Lula e a esquerda — e apoio a políticos bolsonaristas. Com mais de 25 mil seguidores, o perfil diz estar “sempre mostrando a verdade distorcida pela velha mídia sobre o 38º presidente da República Jair Messias Bolsonaro”. Em seu canal no YouTube, o site informa que suas contas foram bloqueadas há 22 meses e solicitam doações individuais por meio de Pix. O canal tem mais de 3 milhões de inscritos.

Todo domingo, às 19 horas, o deputado estadual do Rio Grande do Sul Gustavo Victorino, também dos Republicanos, promove lives com Zucco. Ele costuma dizer que estão sendo punidos por “dizer a verdade”. Na última, eles convidaram o deputado estadual Gilberto Cattani, do PL de Mato Grosso — descrito erradamente nas falas e legendas como deputado do Mato Grosso do Sul. Victorino e Cattani articulam a criação de CPIs contra o MST em suas respectivas Assembleias Legislativas.

Em outras lives, os dois deputados gaúchos receberam o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR). A FPA foi decisiva para instalar a CPI do MST. Em abril, receberam o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que exaltou este mês a participação de seu avô no Exército de Hitler.

DEPUTADO CONVIDADO FOI ACUSADO DE VENDER TERRAS DE ASSENTAMENTO

Durante cerca de trinta minutos, Zucco, Victorino e Cattani fizeram de tudo para criminalizar o MST e espalhar fake news contra os sem-terra e a reforma agrária. Zucco começou dizendo que os assentamentos e acampados não produzem nada, ignorando o papel do movimento como maior produtor de arroz orgânico da América Latina ou os milhares de assentados que plantam e beneficiam alimentos como os vendidos na Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo, conforme mostrou o programa especial do De Olho na Resistência.

“MST não dá assentamento”, disse o presidente da CPI. “Tu não pode dar uma área para já arrendar e depois vender. Vira um negócio”. No entanto, os próprios convidados defenderam o programa Titula Brasil, criado durante o governo Bolsonaro e que entregou 400 mil títulos (a maioria deles provisória) com o objetivo de desmantelar assentamentos e criar brechas para venda das pequenas áreas para latifundiários e especuladores imobiliários.

Victorino recebeu um repasse de R$ 100 mil da campanha do próprio Zucco para se eleger em 2022. Ele classificou as ocupações como “operações de guerrilha” e disse que está monitorando as áreas que o MST tem interesse para denunciar na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. “São criminosos organizados”, acusou o deputado bolsonarista, com a aquiescência do presidente da CPI, que não deveria expor julgamentos prévios sobre o objeto da comissão.

Cattani se tornou deputado estadual em 2021, após a morte por Covid do deputado Silvio Fávero (PSL) e foi reeleito em 2022. Ele diz ser um assentado da reforma agrária. O bolsonarista defendeu a repressão e a perda de qualquer direito a quem “invade” terras. Ele e os outros participantes elogiaram as políticas de “invasão zero” dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ronaldo Caiado (União), de Goiás, e Mauro Mendes (União), de Mato Grosso. Victorino disse que está cobrando a mesma atitude do governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB).

Cattani defendeu que os assentados possam vender lotes da reforma agrária após o recebimento do título definitivo e, pelo menos duas vezes, mostrou o que seria a matrícula de suas terras. O deputado é investigado por fraudar documentos para venda de áreas de assentamentos para produtores rurais. Ele nega as acusações. Na live, disse que antigos assentados de Lucas do Rio Verde (MT) hoje são grandes produtores de soja no município definido pelos ruralistas como “capital do agronegócio“.

De Olho nos Ruralistas mostrou no ano passado as conexões entre Cattani, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e as terras da família do ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol no noroeste do Mato Grosso: “Filho de Bolsonaro defende fazendeiros que ocupam terras ligadas ao clã Dallagnol“.

Imagem principal (Folha Política/YouTube): Tenente-coronel Zucco em live com os deputados estaduais Gilberto Cattani (MS) e Gustavo Victorino (RS) 

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