Governo cria grupo de trabalho para combater crime organizado no Vale do Javari

ClimaInfo

O Ministério dos Povos Indígenas anunciou, na última 6ª feira (2/6), a criação de um grupo de trabalho interministerial para promover a segurança e para combater a criminalidade no Vale do Javari, no Amazonas. O território indígena ganhou destaque há um ano, quando o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram barbaramente assassinados por pescadores naquela localidade.

O grupo contará com representantes dos Ministérios da Defesa, dos Direitos Humanos e Cidadania, Desenvolvimento e Ação Social, Justiça, Meio Ambiente e Mudança do Clima, Planejamento, Saúde, além de IBAMA, Advocacia-Geral da União, Casa Civil da Presidência da República e FUNAI. Além desses órgãos governamentais, participarão também, na condição de observadores, integrantes do Ministério Público Federal (MPF), da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA).

A ideia é a de que o grupo facilite o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas para garantir a segurança dos Povos Indígenas e das comunidades tradicionais do Vale do Javari e para enfrentar o crime organizado que atua nessa região, especialmente envolvendo a pesca ilegal. Agência Brasilg1 e Poder360, entre outros, trazem mais informações.

Já O Globo abordou uma nova linha de investigação da Polícia Federal sobre os assassinatos de Bruno e Dom. Os investigadores apuram a existência de uma organização criminosa por trás do suposto mandante dos crimes, Ruben Villar Coelho, o “Colômbia”, que envolveria até mesmo prefeituras de municípios do Amazonas localizados na fronteira com o Peru e a Colômbia.

Segundo a reportagem, a PF analisa doações eleitorais e indícios de “caixa dois” com dinheiro associado a operações criminosas no Vale do Javari. Um dos casos é o do atual prefeito de Atalaia do Norte, Denis de Paiva. Ele não recebeu doações formais de “Colômbia”, mas os policiais desconfiam do uso de uma empresa “laranja”, de propriedade de um parceiro do suposto mandante dos crimes, para destinação de recursos de origem suspeita à campanha eleitoral do político.

Uma investigação do Projeto Bruno e Dom, da Forbidden Stories, mostrou que a pesca ilegal continua intensa no Vale do Javari mesmo depois das mortes de Bruno e Dom e da prisão dos pescadores responsáveis pelos assassinatos. Um dos alvos mais valiosos visados pelos pescadores é o pirarucu, uma iguaria de culinárias na América do Sul. Anos desenfreados de pesca predatória esgotaram os estoques de pirarucu fora do território indígena, o que levou alguns pescadores a se aventurar, de forma ilegal, em águas dentro das reservas, gerando conflitos com as aldeias locais.

Na Associated Press, Fabiano Maisonnave conversou com familiares e conhecidos das pessoas acusadas pelas mortes de Bruno e Dom, no Vale do Javari. Além da pobreza, chama a atenção a ausência completa do Estado brasileiro, em uma área que não conta sequer com fornecimento de energia elétrica. Uma iniciativa recente para viabilizar o sustento dessas famílias, o Projeto Agroextrativista do Lago de São Rafael, não saiu do papel. É nesse cenário de miséria que muitos, inclusive aqueles que tiraram as vidas de Bruno e Dom, optam pela pesca ilegal dentro da Terra Indígena.

Mamiraua Institute of Sustainable Development / AFP

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