Falando em necessidade de “pesquisa”, “soberania” e “distância do Amazonas”, Lula volta a defender a exploração de petróleo na região, ignorando decisão técnica do IBAMA.
Ao receber a presidência provisória do G20, o presidente Lula disse que uma das três prioridades da gestão brasileira à frente do bloco será transição energética e desenvolvimento sustentável. Mas, na manhã de 2ª feira (11/9), um dia após o fim da cúpula que reuniu os líderes do grupo, Lula falou que o Brasil não vai deixar de fazer “pesquisas” na região da foz do Amazonas, informam g1, O Globo, Poder 360, UOL, Terra e Brasil 247. Na verdade, trata-se do poço de exploração de petróleo que a Petrobras quer perfurar na região.
“Não foi pesquisado ainda. É impossível saber antes de pesquisar. Você pode pesquisar, descobrir que tem muita coisa, aí vai se discutir como fazer a exploração daquilo”, disse o presidente. Com isso, Lula adota a mudança de linguagem que a petroleira e membros do governo favoráveis aos combustíveis fósseis têm tentado imprimir, chamando “exploração” de “pesquisa”.
Outra mudança de Lula é falar em “Margem Equatorial”, ampla área costeira entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, em vez de “foz do Amazonas”, na costa amapaense, que é onde a Petrobras pediu licença ao IBAMA para perfurar – pedido negado pelo órgão ambiental, por razões estritamente técnicas – para tentar reforçar a “distância” entre o local da perfuração e o rio. E dizer que o Brasil fará aquilo que entende que é de interesse soberano do país.
Enquanto Lula fala e a Advocacia Geral da União (AGU) quer montar um comitê de “conciliação” para uma decisão técnica, o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, voltou a dizer que não há prazo para a análise da reconsideração feita pela Petrobras para a negativa de licença, destaca a Veja.
Em meio a tantas pressões, a oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo lembra da histórica decisão dos eleitores do Equador de banir a exploração de combustíveis fósseis na Amazônia. E questiona quem usa o pré-sal no Sudeste para defender a produção de petróleo na região amazônica.
“Moro em uma ilha e há anos vejo plataformas de óleo e gás e os navios todos os dias, passando no ‘quintal’ da comunidade caiçara que me acolheu. Ouvir dizerem que ‘é preciso levar o desenvolvimento que o pré-sal trouxe para o sudeste, para o norte e nordeste’ chega a me dar calafrios. Desenvolvimento para quem? Porque mesmo no coração desse processo, minha comunidade continua sem colher os ‘benefícios’ dele. O petróleo não salvou as baleias e não vai nos salvar, também”, questiona ela, em artigo no UOL.
Em tempo: O governo dos Estados Unidos decidiu proibir a exploração de petróleo em uma área com vegetação natural no Alasca e irá cancelar todas as licenças de exploração de petróleo e gás fóssil emitidas no governo anterior para o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, uma Área Protegida no estado, informa o Valor. A decisão é do mesmo governo Biden que no início deste ano aprovou o projeto de exploração de petróleo Willow, na Reserva Nacional de Petróleo, apesar das objeções de especialistas e ambientalistas.
–
Ricardo Stuckert / PR