Adaptação: Amazonas estuda deslocar comunidades por causa da mudança climática

Produção agrícola familiar pode se tornar inviável em áreas tradicionalmente férteis nas margens dos rios, avalia o secretário de Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira.

ClimaInfo

“A gente vai ter que deslocar populações inteiras que vivem em áreas que se tornarão improdutivas. Essa seca não é um fenômeno isolado, é parte de um novo cenário climático que estamos vivendo, as coisas mudaram e agora nós precisamos nos preparar para nos adaptar a uma nova realidade para a Amazônia.”

A proposta do secretário de Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, é mais do que uma ação pontual de resposta à seca severa e histórica que toma conta da região amazônica. Na verdade, o que o secretário explica é um exemplo de adaptação climática. E com o agravamento da crise do clima, cidades, estados e países terão de repensar cada vez mais as ocupações populacionais, que terão de ser deslocadas de seus locais por causa de eventos cada vez mais extremos.

Em entrevista ao Valor, Taveira conta que o governo amazonense pretende concluir já no ano que vem um mapeamento de comunidades ribeirinhas e de grupos de produtores rurais em unidades de conservação que estão sendo impactados de forma mais profunda pelas mudanças climáticas. A partir daí, diz o secretário, será criado um plano para mitigar os riscos a que essas populações estão expostas.

A piora da seca está fazendo com que populações ribeirinhas do Amazonas não esperem o poder público e já se desloquem para evitar tragédias. É o que acontece na comunidade Canabuoca, em Manacapuru. Os moradores estão mudando casas de lugar, segundo o g1, para se proteger do fenômeno das “terras caídas”, que devastou a vila de Arumã, na cidade de Beruri. O desbarrancamento é relativamente comum na temporada de estiagem, mas tudo indica que está mais grave do que de costume, o que assusta as comunidades, destaca o BNC Amazonas.

A seca tem causado uma série de problemas graves na região. Os efeitos vão do transporte de produtos e grãos pelo Rio Amazonas à vida de comunidades que vivem da agricultura familiar nas várzeas dos rios, passando por transtornos na área energética, listam ValorBrasil de Fato e UOL. E em apenas 24 horas, mais da metade dos 62 municípios amazonenses decretaram estado de emergência, informam g1 e CNN.

A estiagem também mudou a paisagem do Encontro das Águas, um dos principais pontos turísticos de Manaus, onde os rios Solimões e Negro se encontram e se transformam no Rio Amazonas. Segundo o g1, bancos de areia e de pedras agora fazem parte do cenário, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

No fim de semana passado, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) previu que a seca poderia se agravar e se estender até janeiro de 2024. Agora, o órgão afirma que a estiagem é a mais severa dos últimos 40 anos no Amazonas e no Pará, destacam Metrópolesg1 e CNN. Desde maio, parte dos dois estados vem registrando chuvas abaixo da média. Mas a situação não é dramática apenas neles.

“Em grande parte do Amazonas, Acre e de Roraima, observa-se uma anomalia de chuvas de -100 a -150 milímetros. Devido ao déficit acumulado de precipitação, a umidade do solo alcançou níveis críticos ao longo do mês de setembro”, informou o CEMADEN.

Em tempo 1: A seca agrava a situação das queimadas, cuja fumaça voltou a encobrir Manaus entre a noite de 4ª feira e a manhã de 5ª (4 e 5/10). De acordo com o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (SELVA), a qualidade do ar é considerada moderada na capital amazonense, informa o g1. Desde agosto, a poluição provocada pelas queimadas que ocorrem em cidades da Região Metropolitana tem invadido a zona urbana de Manaus. E de acordo com o Jornal Nacional, o Amazonas começou a usar helicópteros no combate aos incêndios florestais.

Em tempo 2: Segundo a Folha, a seca severa que vem dificultando o transporte hidroviário na Amazônia deu impulso político à pressão pela pavimentação da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. A obra pode provocar mais grilagem de Terras Públicas no curso da rodovia, ampliar o desmatamento ilegal e impulsionar a exploração criminosa de madeira, segundo documentos do processo de licenciamento ambiental em curso no IBAMA. Em visita a Manaus na 4ª feira (4/10) com comitiva de ministros, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse ter conversado no dia anterior com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), sobre a obra de pavimentação da rodovia. Segundo Alckmin, um grupo de trabalho foi criado para analisar o empreendimento.

Em tempo 3: A seca na Amazônia deve provocar efeitos climáticos em todo o Brasil, já que o bioma regula o clima e as chuvas em outras áreas do país e também em países vizinhos que sofrem influência do clima amazônico, lembra Carlos Madeiro no UOL. “Uma seca na Amazônia pode impactar porque ela é fonte de umidade para outras áreas da América do Sul, em especial a Bacia do Prata, parte da costa norte do Peru e, às vezes, da região do Cerrado próximo à Caatinga do Nordeste. Tudo isso é um desarranjo no sistema climático, que tem piorado pelo El Niño e também pelo aquecimento global”, explica José Marengo, climatologista e coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN).

Ministério da Defesa

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