O ranking das piores companhias de combustíveis fósseis na busca pelas metas do Acordo de Paris conta ainda com ConocoPhillips, ExxonMobil, Saudi Aramco e Pioneer.
Sempre que possível, o comando da Petrobras gosta de falar em “transição energética”. E geralmente na mesma frase associam esse processo a “aumentar a produção de petróleo”. Afinal, também sempre que pode o presidente da estatal, Jean Paul Prates, reforça que a petroleira vai produzir combustíveis fósseis “até a última gota”. E que a empresa fará uma transição “com responsabilidade”.
O que essa “responsabilidade” significa é uma incógnita. Mas o que está claro é que a Petrobras é uma das cinco petroleiras do planeta que menos se comprometem com metas climáticas e com a limitação do aumento da temperatura global em 1,5°C sobre os níveis pré-industriais, como combinado no Acordo de Paris.
A conclusão é do relatório Paris Maligned II, lançado na 4ª feira (20/3) pelo Carbon Tracker, think tank que monitora como os mercados financeiros e os investimentos podem afetar as mudanças climáticas. O estudo comparou as 25 maiores empresas de petróleo e gás fóssil do mundo listadas em bolsas de valores, informam DW e UOL.
O estudo considera cinco fatores: Opções de Investimento; Sanções de Projetos Recentes; Planos de Produção; Metas de Emissão; e Remuneração Executiva. As companhias foram classificadas em uma escala de A-H, sendo “A” potencialmente alinhada com os objetivos do Acordo de Paris, e “H”, a mais distante, levando a um aumento de temperatura de 2,4°C – ou mais, destaca a epbr.
Justiça seja feita: a estatal brasileira não é a pior no ranking. O título ficou com a estadunidense ConocoPhillips, que cravou “H”. Vale lembrar que a Conoco é a responsável pelo Willow, projeto de exploração de combustíveis fósseis no Alasca autorizado pelo governo de Joe Biden há um ano.
A Petrobras ficou com “G” na análise. Foi a mesma avaliação obtida pelas estadunidenses ExxonMobil e Pioneer – a primeira fechou a compra da segunda em outubro de 2023 – e a saudita Saudi Aramco.
A petroleira que ficou “melhor na foto” do Paris Maligned II foi a britânica bp. Mas, ainda assim, obteve uma nota “D” na avaliação. Entre as empresas avaliadas pela Carbon Tracker, a bp é a única que, a princípio, pretende reduzir sua produção de combustíveis fósseis até 2030 – embora um grupo de investidores esteja pressionando a companhia para enfraquecer suas metas climáticas.
Seis petroleiras atingiram “E”: Repsol, Equinor, Eni, Shell, TotalEnergies e Chesapeake. As outras 13 avaliadas ficaram no patamar “F”.
“Empresas de todo o mundo estão declarando publicamente que apoiam as metas do Acordo de Paris e afirmam ser parte da solução para acelerar a transição energética. Infelizmente, porém, vemos que nenhuma delas está atualmente alinhada com os objetivos do Acordo de Paris”, disse Maeve O’Connor, analista de petróleo e gás do Carbon Tracker e autora do relatório.
Em outras palavras, falam muito e não fazem nada. A observação de Maeve é bastante familiar quando se olha para o comando da Petrobras. E certamente de muitas (ou todas as) petroleiras do planeta. Não à toa CEOs da indústria de combustíveis fósseis reunidos em Houston, na CERA Week, disseram ser “fantasia” eliminar petróleo e gás fóssil.
MSN, E&E News e S&P Global também repercutiram o relatório do Carbon Tracker.
Em tempo 1: Na sanha de produzir petróleo “até a última gota”, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, voltou a falar da “importância” de explorar combustíveis fósseis na “margem equatorial” – leia-se foz do Amazonas. O que Prates não contou é que o IBAMA multou a estatal em R$ 625,5 mil por infração ambiental na tentativa de explorar petróleo num bloco próximo ao FZA-M-59, na bacia da foz do Amazonas, para o qual a petroleira espera licença do órgão ambiental, conta Vinicius Sassine na Folha. A infração envolve desrespeito a uma condição prevista na licença de operação, que tratava de produção e descarte de fluidos de perfuração e cascalho, conforme apontam documentos do IBAMA. A autuação é uma das mais de 3.000 lavradas em razão de infrações cometidas pela estatal nos últimos 10 anos. Os débitos somam R$ 985,6 milhões, dos quais apenas R$ 49,9 milhões – 5% – foram pagos.
Em tempo 2: Outro que ama juntar “transição energética” com “para isso, vamos produzir mais petróleo” é o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Também na CERAWeek 2024, o ministro disse que o Brasil tem grande potencial para ampliar sua produção de petróleo, mesmo no contexto de transição energética global, informa o Estadão. Segundo o ministro, isso demonstra que “a transição energética precisa ser equilibrada, tem que ser olhada pela ótica do respeito, da prioridade energética e em especial às necessidades energéticas do planeta”. Será que é a tal da “responsabilidade” – com os acionistas, não com o clima – sobre a qual Jean Paul Prates tanto fala?
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Divulgação Petrobras