Em 2023, o Brasil testemunhou um recorde de resgates de pessoas em situações de escravidão nos últimos dez anos. É nesse contexto que a CPT lança a campanha “Chega de Escravidão!” e chama a população para unir forças contra essa gravíssima violação aos direitos humanos.
Na CPT
Nesta segunda-feira, 22, a Comissão Pastoral da Terra lançou a Campanha “Chega de Escravidão“, criada para sensibilizar e engajar a população a contribuir com o seu trabalho pela erradicação do trabalho escravo no País. O anúncio da iniciativa ocorreu durante o lançamento da publicação Conflitos no Campo Brasil 2023, elaborado pela Pastoral.
Desde sua fundação, em 1975, a CPT tem sido uma voz ativa na luta contra o trabalho escravo no Brasil, com ações de conscientização, prevenção, denúncia e apoio às vítimas. Com a campanha “Chega de Escravidão!”, a expectativa é que a CPT possa ampliar o alcance de suas ações contra esta chaga que afeta anualmente milhares de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil.
Ao contrário do que muitos podem pensar, a escravidão nunca saiu de cena, mas adquiriu novas roupagens desde a assinatura da Lei Áurea, em 1888. A prova é que o ano de 2023 apresentou o maior número de pessoas resgatadas do trabalho escravo nos últimos dez anos. Foram 3.191 pessoas resgatadas, segundo a ação permanente da CPT “De Olho Aberto Para Não Virar Escravo”. Desse total, 2.663 pessoas foram resgatadas em atividades laborais rurais, de acordo com os dados recém lançados pela Pastoral.
Carlos Lima, da coordenação nacional da CPT, ressalta que os casos de trabalho escravo no Brasil são subnotificados e que a realidade é ainda mais grave. “É preciso que o Estado garanta mais fiscalizações e é preciso que a sociedade brasileira se some à luta, porque é impossível conviver com o trabalho escravo. Precisamos acabar de uma vez por todas com essa chaga, que se liga ao nosso passado mas que está muito viva na realidade de muitos trabalhadores e trabalhadoras”.
Frente a essa realidade desumana, é preciso mobilização e luta. “Nós enfrentamos a dificuldade para erradicar a cultura escravocrata. São quatro séculos de legalização e naturalização da prática do trabalho escravo”, destaca Frei Xavier Plassat, agente da CPT e membro da ação permanente “De olho aberto para não virar escravo”. Por isso, a CPT convida toda a sociedade brasileira a se aliar à luta contra essa chaga. Informações sobre a campanha, bem como dados sobre trabalho escravo, as ações realizadas e formas de contribuição do trabalho da CPT poderão ser encontradas na página eletrônica chegadeescravidao.org.br.
CPT e a luta contra o Trabalho Escravo
A luta pela erradicação do trabalho escravo no Brasil está nas raízes da CPT. A primeira denúncia dessa violação foi feita em outubro de 1971, por meio da carta pastoral “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, escrita pelo bispo da prelazia de São Félix do Araguaia (MT), dom Pedro Casaldáliga, um dos fundadores da Pastoral. É nesse contexto, de grave situação vivida pelos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições análogas à de escravo e expulsos das terras que ocupavam, que nasce a Comissão Pastoral da Terra, em junho de 1975.
Passados mais de quarenta anos da carta de Pedro Casaldáliga, a exploração de mão de obra escravizada ainda é uma realidade no País. Por isso, a CPT segue junto aos povos da terra, das águas e das florestas no combate a grave situação de violência e abusos vivida pelos trabalhadores e trabalhadoras rurais.
O propósito e missão fundamental da Comissão Pastoral da Terra parte da defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e da justiça social. A Pastoral luta contra o trabalho escravo por meio de ações de conscientização, prevenção e incidência sobre o tema, além de dar apoio às pessoas resgatadas. Ademais, atua registrando os dados de fiscalização dos estabelecimentos denunciados, atividades que mais utilizam mão de obra escravizada e quantidade de trabalhadores resgatados a cada ano.
Atualmente, as denúncias podem ser realizadas online, com total sigilo, acessando diretamente a Divisão de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho, por meio do Sistema Ipê (ipe.sit.trabalho.gov.br). Ou ainda por meio do Ministério Público do Trabalho mais próximo da sua localidade. Como sempre fez, em cada região do país, a CPT também está à disposição de quem se dispor a cumprir este ato cidadão: denunciar o crime para resgatar a dignidade de muitos e muitas.
Se você se identificou com o trabalho da CPT e também se indigna com o trabalho escravo, ao qual tantas pessoas ainda são submetidas, conheça mais da atuação da Pastoral pelo site www.cptnacional.org.br e seja uma doadora ou doador por meio do site chegadeescravidao.org.br.