Área urbanizada sob risco de enchentes e deslizamentos equivale a três cidades de São Paulo

Dados do MapBiomas mostram que entre 1985 e 2022, a expansão das áreas urbanizadas no Brasil nessas áreas aumentou 2,7 vezes. Situação é mais grave nas favelas, cada vez mais empurradas para regiões suscetíveis

Por Redação RBA

O Brasil tem pelo menos 4.700 quilômetros quadrados de áreas urbanizadas sob risco de enchentes ou de deslizamentos se o nível do rio mais próximo atingir três metros. A constatação é da rede MapBiomas, que analisou dados do período de 1985 a 2022. Não há números mais recentes, mas a tendência segue aumento na ocupação, de acordo com os pesquisadores. Até 2022, o total de áreas em risco de desastre climático já era equivalente a três vezes a cidade de São Paulo. O que corresponde a uma área de 1,5 mil quilômetros.

O parâmetro de três metros utilizado como referência pelo MapBiomas leva em conta a área alagada na inundação registrada em 2023 na bacia do Taquari, no Rio Grande do Sul. Na recente tragédia no estado, provocada por fortes chuvas desde o final de abril, o nível do Rio Guaíba, em Porto Alegre, por exemplo, subiu 2 metros acima da cota de inundação, que é de 3 metros – e da cota de alerta, de 2,5 metros, atingindo mais de cinco metros. As inundações que se repetiram em quase todo o estado provocaram destruição e mortes.

Neste final de semana, a água nas calçadas de várias ruas da região central de Porto Alegre começou a secar. Houve uma queda do nível do lago depois de duas semanas de cheias. Mas, nesta segunda-feira (20), o nível do Guaíba voltou a subir, alcançando 4,32 metros às 7h15. Na noite de ontem (19), a medição era de 4,24 metros, às 22h45. O cálculo é da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), no Cais Mauá.

Enchentes e a vulnerabilidade em favelas

O risco se repete pelo Brasil, onde desde 1985, as áreas urbanas no país triplicaram, mas a ocupação próxima a leitos de rio quadruplicou. “As cidades estão ficando mais densas, sem espaço. Mas se você olhar a curva, o cenário ainda é de expansão, não pararam de crescer as áreas de ocupação”, afirmou ao UOL o coordenador da equipe urbana do MapBiomas, Julio Pedrassoli.

Nas últimas quatro décadas, o país viu áreas serem ocupadas de forma desordenada, chegando a locais que deveriam ter construções proibidas por oferecer riscos a moradias. Hoje, São Paulo é o estado com mais áreas nessa condição, com uma área de 631 quilômetros em risco. A situação é mais grave nas favelas. Segundo o MapBiomas, a cada 100 hectares urbanizados nesses aglomerados, 17,3 ficam em áreas suscetíveis a inundações.

“As favelas, que são áreas mais vulneráveis, são empurradas para terrenos menos valiosos e, por sua vez, mais suscetíveis a riscos. Isso acontece em todo o Brasil, de Norte a Sul”, destaca Pedrassoli. Entre 1985 e 2022 também houve um aumento de 5,2 vezes na ocupação de áreas de declividade. No total, eram mais de 450 quilomêtros, há dois anos. Sendo que 154 quilômetros eram só em Minas Gerais.

Ocupação de áreas em risco

Esse percentual foi definido porque a Lei 6766/79 diz que o parcelamento do solo não pode ser feito em terrenos com declividade superior a 30%, que são consideradas encostas. Conforme reportou a RBA, dados do governo federal também apontam que desastres climáticos como o que assola o Rio Grande do Sul e já provocou destruição e mortes em São Sebastião (SP) e em Petrópolis (RJ) podem se repetir em pelo menos outros 1.942 municípios brasileiros.

Isso significa que uma em cada três cidades está localizada em área de risco recorrente para desastre climático, como inundações, enchentes e deslizamentos de terra. ​Ou parte delas tem pontos vulneráveis, como Santa Maria (RS). ​Duas pessoas da mesma família morreram no início do mês, após um deslizamento no Morro do Cechella. Os moradores precisaram evacuar suas casas devido ao risco de novos deslizamentos devido a crateras abertas pela chuva no topo do morro.

Balanço Rio Grande do Sul

Chegou a 157 o número de vítimas fatais dos temporais e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e a primeira quinzena de maio. Dois novos óbitos foram confirmados nesta segunda em relação à estimativa anterior. Há ainda 88 pessoas desaparecidas e 463 municípios afetados. O toral de desalojados também subiu para 581.633.

Redação: Clara Assunção

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

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