Campanha nacional sobre o perigo da radioatividade: Angra 1 e Angra 3

Por Coordenação de Comunicação da AAB

A Articulação Antinuclear Brasileira (AAB) está com uma petição pública, dirigida ao presidente Lula, para impedir a continuidade do funcionamento da usina nuclear Angra 1 e a conclusão da obra de Angra 3, devido aos perigos invisíveis e inerentes às atividades radioativas para o meio ambiente e para todos os seres vivos. A AAB – rede de entidades, movimentos sociais e populares, pesquisadores e ativistas socioambientais – defende o uso de energias renováveis e repudia a nuclear por ser uma energia suja, cara e perigosa. A petição pode ser assinada em https://chng.it/WNZQDQDmXH.

Além desta petição, a campanha inclui debates e publicação de artigos trazendo análises de especialistas e ativistas antinucleares sobre as consequências da insegurança das atividades atômicas que causam contaminação do meio ambiente e traz graves riscos à saúde coletiva de brasileiros. Também requer ao governo a promoção de um debate público, democrático, com ampla participação popular, sobre a política nuclear brasileira.

No documento, a AAB afirma que “passou da hora de admitirmos que o Brasil não precisa mais destas usinas como instrumento de segurança energética”, como atesta o engenheiro eletricista, ex-ministro de Minas, Nelson Hubner, principal conselheiro de Lula para energia. Em 2023, Hubner assumiu assento no conselho de administração da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A (ENBPar), controladora da Eletronuclear, decidido a convencer Lula a desistir de Angra 3, obra que considera “insana”.

Xô Nuclear!

A duração da construção – 40 anos! – iniciada em 1984, indica o monte de problemas acumulados em Angra 3, como a ultrapassada tecnologia com seus equipamentos obsoletos, fragilidades do sistema de segurança nuclear e radiológica (o que levou a Alemanha a não subsidiar a obra em 2013), e seu custoso e incerto financiamento. Angra 3 já consumiu R$ 8 bi e precisará de mais R$ 20 bi para ficar pronta.

De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), concluir essa usina pode custar R$43 bilhões a mais do que outras alternativas de produção de energia, gerando aumento na conta da luz. “Significa que o custo da nuclear será três a cinco vezes maior que o da eólica, solar e hidrelétrica. Assim, o atual programa do governo federal, que visa reduzir o valor da tarifa de energia, ficará fatalmente comprometido, quando a nuclear prevista entrar no sistema”, alerta a AAB. ‎

A petição destaca a necessidade do governo rever o caráter autoritário da legislação nuclear, que tenta invisibilizar a insegurança em radioproteção, a incompetência da indústria nuclear e os danos inerentes ao ciclo produtivo da energia atômica. “Várias pesquisas mostram que a imprudência técnico-operacional dessa indústria aumenta os índices do adoecimento e morte por câncer de trabalhadores e populações que vivem no entorno da mineração de urânio”, diz o texto.

Falhas incorrigíveis

Auditorias frequentes do TCU em Angra 1, 2 e 3 atestam precariedades no gerenciamento das atividades atômicas. Entre 2018 e 2023, existiram 198 eventos operacionais nas instalações do ciclo do combustível nuclear, 72 deles em Angra 1 e 2. No mesmo período, houve 27 incidentes de insegurança em instalações radioativas no Brasil. Inaugurada em 1981, Angra 1 já foi desligada dezenas de vezes por problemas técnicos e defeitos em equipamentos, recebendo o “titulo” de vaga-lume. Só este ano, foram quatro paralisações.

A guarda do lixo radioativo, que dura milhares de anos, continua insolúvel. Os depósitos de Angra 1 e 2 estão cheios. O de Angra 1 chegará ao limite até 2028. A usina devia ter sido fechada em 2018 e, “segundo especialistas, todos os reatores em operação têm falhas de segurança próprias muito graves, impossíveis de solucionar com atualizações tecnológicas do sistema de segurança”, lembra a AAB. Apesar de todos os riscos – mais a falta de diálogo e controle social – a Eletronuclear (responsável pelas usinas) quer prolongar por mais 20 anos a vida útil de Angra 1.

Em setembro de 2022, material radioativo vazou para o mar em Angra dos Reis, mas só foi noticiado meses depois. Segundo o Ministério Público Federal, o episódio evidencia que teria havido “tentativa de esconder o vazamento, o que levanta dúvidas sobre a transparência e a seriedade com que a Eletronuclear trata a questão da segurança e a comunicação de incidentes”. Por tudo isto, o governo Lula não deve permitir a renovação da licença de operação de Angra 1, que acaba em dezembro próximo. A sociedade brasileira não pode seguir convivendo com os riscos da insegurança nuclear e sem proteção radiológica!

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Zoraide Vilasboas.

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