“Elizabeth” é premiado pelo público no Festival de Cinema de Vitória

Documentário do De Olho nos Ruralistas que retrata a líder das Ligas Camponesas na Paraíba foi escolhido pelo júri popular como melhor filme da 7ª Mostra Nacional de Cinema Ambiental; inscrições para exibições continuam abertas

Por Nanci Pittelkow, em De Olho nos Ruralistas

Lançado nas comemorações dos sete anos do De Olho nos Ruralistas, em setembro de 2023, o documentário “Elizabeth” teve seu segundo reconhecimento oficial no 31º Festival de Cinema de Vitória, que aconteceu entre 20 e 25 de julho. “Elizabeth” foi reconhecido pelo júri popular como melhor filme da 7ª Mostra Nacional de Cinema Ambiental, uma das treze mostras do evento. Com isso foi um dos vencedores do Troféu Vitória.

O festival reuniu cerca de 10 mil pessoas na capital capixaba, com 78 filmes. O vencedor  da 14ª Mostra Competitiva Nacional de Longas foi o documentário “Presença”, de Erly Vieira Jr, tanto pelo júri técnico como pelo popular. O curta-metragem “Canto das areias”, de Maíra Tristão, venceu a 11ª Mostra Outros Olhares. Outros filmes premiados foram os curtas “Prólogo”, de Natália Dornelas, e “Água salgada”, de Wyucler Rodrigues.

Em novembro, “Elizabeth” participou do 2° Festival Internacional de Cinema Agroecológico (FicaEco), no tradicional Cine Odeon, no centro do Rio. A mostra fez parte do XII Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA). Os diretores Alceu Luís Castilho e Luís Indriunas receberam do líder indígena Junior Hekurari Yanomami a estatueta do guerreiro Omama, “guerreiro criador, protetor da Amazônia e do povo Yanomami” pela seleção.

Também dirigido por Vanessa Nicolav, “Elizabeth” foi inserido este ano na seleção oficial da Mostra Clandestina de Cinema Feminista, que aconteceu na cidade de Goiás (GO), em abril .

FILME FOMENTA DISCUSSÕES SOBRE A QUESTÃO AGRÁRIA

O documentário retrata a trajetória de Elizabeth Teixeira, uma das líderes das Ligas Camponesas na Paraíba e protagonista do filme “Cabra Marcado para Morrer”, clássico de 1984 dirigido por Eduardo Coutinho. Com 98 anos de idade, ela foi entrevistada pela editora de imagem Vanessa Nicolav e pelo editor e roteirista Luís Indriunas, da equipe do De Olho nos Ruralistas, em julho de 2023. A dupla também ouviu outras mulheres sobre o legado da líder.

“Nossa ideia é resgatar a memória de luta camponesa com Elizabeth e fomentar as discussões sobre a questão agrária no país”, afirma o diretor do observatório, Alceu Luís Castilho. “Aos 98 anos ela ainda tem muito o que nos ensinar, e mais pessoas precisam conhecer sua história e seu legado”.

Cenário do documentário, o Memorial das Lutas e Ligas Camponesas, em Sapé (PB), que também participou da produção, foi um dos locais onde o filme foi exibido. A primeira sessão foi para familiares da protagonista e visitantes. O Memorial continua realizando apresentações especiais do documentário para grupos em sua sede.

Desde o lançamento, o filme também está disponível para exibições públicas agendadas. Em alguns desses encontros, representantes da equipe do De Olho nos Ruralistas podem participar. “Elizabeth” já foi exibido em quase 40 eventos em doze estados e no Distrito Federal.

ELIZABETH CONTINUA A INSPIRAR OS MOVIMENTOS SOCIAIS

O documentário foi exibido em Guararema (SP) para alunos dos cursos da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 29 de setembro de 2023. Após a exibição, a turma do curso de Defesa e Soberania decidiu batizar o grupo de “Elizabeth Teixeira”.

Vale destacar que o filme lembra dos anos de clandestinidade a que Elizabeth Teixeira foi submetida após ser perseguida pela ditadura militar, quando substituiu seu marido assassinado, João Pedro Teixeira, na liderança das Ligas Camponesas.

Em 2023, os Ministérios dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) promoveram o evento a “Fala da Terra: Memória e futuro das Lutas no Campo”. Na ocasião, o Estado brasileiro formalizou um pedido de desculpas às populações camponesas devido à atuação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) durante a ditadura iniciada em 1964.

“O pedido de desculpas, ele é necessário, obviamente, é importante, mas ele não basta”, analisa a presidente do Memorial, Alane Maria Silva de Lima. “É preciso haver a reparação agrária”, afirma a líder, que participa do documentário.

INSCRIÇÕES PARA EXIBIÇÕES CONTINUAM ABERTAS

Dirigido por Castilho, Indriunas e Vanessa, “Elizabeth” é um documentário de 18 minutos no qual a líder das Ligas Camponesas, aos 98 anos, relembra sua trajetória e a importância da reforma agrária. O filme apresenta a influência de Elizabeth entre as camponesas da Paraíba a partir do depoimento de seis mulheres envolvidas na luta pelo território e pela preservação da memória, da educação e da prática agroecológica.

O roteiro faz um paralelo com o documentário “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho. Um clássico de 1984, no qual o cineasta reencontra Elizabeth Teixeira depois de quinze anos de clandestinidade. Eles tinham iniciado o projeto de contar a trajetória de João Pedro Teixeira, morto em 1962, mas foram interrompidos pelo golpe de 1964.

Os grupos ou pessoas que desejarem exibir o documentário podem entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou se inscrever pelo link.

Imagem principal (De Olho nos Ruralistas): Elizabeth Teixeira foi retratada em documentário aos 98 anos

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