No Incra
Entre os dias 29 e 31 de outubro, o Incra esteve presente no território quilombola Kalunga, que abrange os municípios goianos de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, para executar mandados de imissão na posse de diversos imóveis, totalizando 10 mil hectares.
As fazendas Muleque, Fonte das Águas e Panorama foram reintegradas à comunidade, como resultado do trabalho coletivo da equipe do Incra, da Procuradoria Federal Especializada (PFE) junto à autarquia e da Procuradoria Regional Federal da 1ª Região (PRF-1).
As áreas serão utilizadas para exploração do turismo, aliada à preservação ambiental, e o extrativismo vegetal de frutas nativas do Cerrado. No local também serão regularizadas famílias quilombolas que não possuíam um lote para viver e cultivar. Segundo um dos líderes da comunidade, Edivan Moreira, a ação deverá beneficiar cerca de 400 famílias.
A chefe da Divisão Quilombola do Incra no Distrito Federal e Entorno, Maria Celina, destacou o potencial do território para a comunidade: “A retomada de áreas dentro do Kalunga é importante porque possui áreas de mata e cachoeiras que podem ser utilizadas para o turismo, gerando renda para a comunidade e promovendo o uso conservativo do meio ambiente”.
Para a superintendente regional do Incra/DF, Claudia Farinha, a ação também representa um avanço significativo na regularização fundiária do território. “Mas é preciso prosseguir na execução da política pública, de forma que os direitos das populações remanescentes de quilombos sejam assegurados”, pontuou.
Atualmente, o território quilombola Kalunga conta com, aproximadamente, 1,8 mil famílias habitando uma área demarcada de 261 mil hectares. Segundo o presidente da associação do território Kalunga, Carlos Pereira, as imissões na posse realizadas pelo Incra representam muito mais do que segurança. “Trata-se de um passo essencial para consolidar um espaço de autonomia. Esta realização é o início de um sonho para nós, pois com a retirada, mais de 400 famílias aguardam com esperança para construir sua vida comunitária em paz e sem opressão”, pontua.
A diretora de Territórios Quilombolas do Incra, Mônica Borges, considera a imissão na posse o ato mais importante após a decretação. “Pois a partir dela a comunidade volta a acessar as áreas até então sob o domínio privativo, é uma vitória muito expressiva e, sobretudo, um ato simbólico e político a retomada, garantindo verdadeiramente o acesso à terra e ao território”, afirma.
O território Kalunga é muito mais do que uma área geográfica: ele representa a memória, a cultura e o modo de vida de um povo que resistiu e sobreviveu por gerações. Garantir o direito à terra não apenas fortalece a segurança e a autonomia da população negra do local, mas também preserva uma herança cultural única e insubstituível. Assim como simboliza um passo fundamental para o fortalecimento das comunidades tradicionais e para a proteção dos recursos naturais essenciais às futuras gerações.
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Reprodução / Catraca Livre