As propostas do movimento foram sistematizadas no seminário Tecnologia e inovação: a agroecologia na reforma agrária
por Leandro Melito e Leonardo Fernandes, em Brasil de Fato
Durante dois dias, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se reuniu na região central do Rio de Janeiro (RJ) para discutir as propostas que serão encaminhadas para os chefes de Estado que participarão da Cúpula do G20, que acontece na capital fluminense entre os dias 18 e 19 de novembro. Dentro da síntese de propostas que está sendo elaborada pelo movimento, a materialização da reforma agrária popular e a massificação da agroecologia são destacadas como pontos centrais para garantir alimento saudável para a população brasileira e combater a crise climática.
“A massificação da agroecologia está vinculada ao aumento da cooperação dentro das nossas áreas, ao debate da organização de cadeias produtivas alimentares, agroecológicas, para que cada região do Brasil, cada estado, traga suas questões específicas, sem abrir mão da diversidade. Entendendo que a gente precisa alcançar tecnologias para diminuir a penosidade, aumentar a produtividade, no caso, a mecanização, os insumos, as energias renováveis, que contribuem nesse sentido. Além da importância de plantar árvores e produzir alimentos”, disse ao Brasil de Fato Bruno Diogo, da direção nacional do MST.
As propostas do movimento foram sistematizadas ao longo do seminário Tecnologia e inovação: a agroecologia na reforma agrária. O seminário começou na terça-feira (12) e termina na quinta-feira (14), com patrocínio da Finep.
“Nesses três dias, estamos conversando sobre tecnologia e reforma agrária, crise climática e os impactos sobre agricultura e as novas tecnologias no campo. A ideia é que a gente possa reunir essas discussões em sínteses, para serem encaminhadas para os espaços do G20, para que a gente possa se somar a reflexões de outras organizações e influenciar os líderes mundiais no sentido das mudanças necessárias em relação à agroecologia”, disse Diogo.
Na terça, foram discutidos os temas desenvolvimento econômico e crise climática e o desafio da produção de alimentos saudáveis. Nesta quarta (13), os participantes do encontro foram divididos em grupos para sistematizarem as propostas do movimento. Foram discutidos temas relacionados à produção de alimentos, agroecologia, reflorestamento, assim como educação, saúde e cultura.
“A ideia é que cada grupo tenha uma relatoria, uma sistematização, e que a gente possa, depois do resultado dessas discussões, juntar tudo em um material único, que também vai ser encaminhado às lideranças que vão estar aqui discutindo o G20”, explica Diogo.
O documento final com os apontamentos e reflexões do MST em relação aos desafios colocados para a reforma agrária popular serão apresentados na quinta-feira, no primeiro dia do G20 Social. “O G20 tem a Cúpula Social que cumpre esse papel de juntar as nossas reflexões, desse campo da reforma agrária com os outros públicos que estão participando, outras organizações sociais, para que a gente possa então ser encaminhado aos líderes das nações”, afirma.
Maíra Marinho (PT-RJ), vereadora eleita conhecida como Maíra do MST destacou a importância do evento para o acúmulo de forças do movimento popular de forma a incidir na reunião dos chefes de Estado.
“Esse momento do G20 social colocou para a gente a tarefa de reunir nossa militância do Brasil inteiro, propor esse espaço de reflexão, de formação, para acumular forças e enfrentar os desafios que estão por vir. Eu tenho certeza que, desse acúmulo, podemos pensar de forma coletiva, nos marcos da organização do MST, a proposição do combate à fome, valorizando o meio ambiente e tudo aquilo que produzimos nos nossos territórios.”
Reforma agrária popular e agroecologia
Em 2024 completam-se 10 anos da concepção de reforma agrária popular como a bandeira central do MST, definida no 6º Congresso Nacional do movimento, realizado em 2014. Débora Nunes, da coordenação nacional do MST, aponta que, nesse período, o movimento buscou construir uma “unidade na compreensão do que é uma reforma agrária popular, construindo experiências que pudessem materializar essa nossa proposta”.
“Esses 10 anos nos deram a compreensão de que a reforma agrária popular, a luta pela terra, continua a ser um pilar essencial. A reforma agrária popular é uma proposta também transitória e exige um governo popular para sua realização, isso ainda está na ordem do dia.”
Débora afirma que a compreensão do MST sobre esse processo aponta à construção da reforma agrária popular, e que o momento atual exige a massificação da agroecologia como forma de enfrentar o avanço do capital nesse setor, representado pelo agronegócio.
“Reverter o que o capital tem feito na agricultura exige o enfrentamento desse capital, com a massificação da agroecologia. Para essa massificação precisamos alcançar as condições materiais e objetivas como acesso ao crédito, bioinsumos e irrigação. Precisamos retomar questões de outras fases dessa construção da agroecologia do MST. A construção da agroecologia não é algo que surge de uma etapa para cá. O enfrentamento ao modelo hegemônico e de construção de uma agroecologia está desde o começo.”
*Esta matéria é patrocinada pela Finep.
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Participantes do seminário Tecnologia e inovação: a agroecologia na reforma agrária, organizado pelo MST – Priscila Ramos – MST RJ