A jovem Beka Munduruku usa a comunicação para defender seu povo

Por meio do projeto Vozes da Amazônia, jovens transformam histórias em resistência, amplificando as vozes de seu povo na defesa do território e da cultura indígena

Unicef Brasil

No coração da Amazônia, entre os rios e florestas do território Munduruku, nasce a história de Beka Munduruku, de 22 anos, uma jovem comunicadora e defensora de seu povo. Desde 2014, quando cofundou o coletivo audiovisual Daje Kapap Eypi, Beka se dedica a registrar e amplificar as vozes de sua comunidade. Seu trabalho não apenas documenta a luta contra o desmatamento, a mineração ilegal e a falta de demarcação de terras, mas também preserva a memória dos anciões e lideranças Munduruku.

O trabalho do coletivo foi fortalecido por meio do projeto Vozes da Amazônia, iniciativa do UNICEF em parceria com a Associação Pariri e com apoio do Instituto Amazônia Açu.

A produção mais recente do coletivo foi a animação “Mulheres Peixes”. Fruto da iniciativa do UNICEF para engajar adolescentes e jovens por meio de temas que afetam diretamente suas realidades, é um curta que mescla mitologia e realidade para abordar os impactos da mineração ilegal na vida das mulheres Munduruku. “As mulheres são as mais afetadas pela contaminação do mercúrio dentro do território”, explica Beka, ressaltando a importância de contar essas histórias de forma acessível e impactante.

A iniciativa, que faz parte de um projeto maior estruturado em três anos, envolveu jovens do coletivo desde a concepção do roteiro até a finalização da animação. O resultado final do curta será lançado até o final do mês de março. Com a COP30 acontecendo em Belém do Pará, em novembro deste ano, o engajamento com comunidades indígenas e a promoção das vozes da juventude indígena tornam-se especialmente estratégicos. “A luta pela comunicação é também uma luta pela sobrevivência do nosso povo”, enfatiza Beka.

Através do projeto Vozes da Amazônia, o UNICEF e seus parceiros ajudaram a fortalecer essa rede de jovens comunicadores, promovendo oficinas e garantindo que suas produções alcançassem um público maior. O impacto já é visível: os materiais produzidos pelo coletivo são utilizados em debates, exibidos em eventos e reconhecidos como ferramentas essenciais na luta pelos direitos dos povos indígenas.

Por meio do projeto, aproximadamente 50 jovens indígenas participaram ativamente das sessões de escuta e foram capacitados em comunicação e monitoramento territorial, seis jovens comunicadores foram engajados na Assembleia do Povo Munduruku e sete jovens participaram especificamente do processo de cocriação do roteiro e das ideias para a animação.

Para Beka, o futuro está na continuidade do trabalho coletivo. “Não se trata apenas de mim, mas de todo o meu povo”, diz. Seu sonho é ver mais jovens Munduruku se engajando, garantindo que as próximas gerações continuem a contar suas histórias com autonomia e verdade.

A história de Beka Munduruku é a prova de que a resistência também se faz com imagens e palavras. E com o apoio de iniciativas como o Vozes da Amazônia, essas vozes continuam ecoando, fortes como o próprio rio Tapajós.

Sobre o coletivo

O coletivo Daje Kapap Eypi nasceu da necessidade de os Munduruku contarem suas próprias histórias. O povo indígena que vive na região do Médio Tapajós, no Pará, tem uma longa história de resistência e preservação cultural, enfrentando ameaças ambientais e desafios no acesso a serviços básicos. “Nosso objetivo é sermos protagonistas da nossa própria narrativa”, afirma Beka. O grupo, que começou com 12 integrantes e hoje é majoritariamente composto por mulheres, se especializou em produção audiovisual, documentando desde assembleias comunitárias até momentos históricos de resistência.

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