O “exílio” de Eduardo. Por Luis Felipe Miguel

Filho de Jair se vitimiza para tentar mobilizar gado depois do fiasco em Copacabana

em Amanhã não existe ainda

Existe uma relação direta e óbvia entre o fracasso da manifestação dos golpistas em Copacabana e o anúncio de Eduardo Bolsonaro, de que vai se homiziar nos Estados Unidos.

O ato do domingo passado flopou de maneira retumbante; não há sequer como tentar emplacar uma leitura diferente – “disputar a narrativa”, no jargão atual. O número mais confiável, obtido pelo drone da USP com o software de contagem de gado (não é brincadeira!), fala em pouco mais de 18 mil pessoas. Claro que a direita nunca esperou mesmo o milhão de pessoas que anunciou como público previsto, mas contava com umas 150, 200 mil, uma quantidade suficiente para ter impacto visual e falar numa grande mobilização.

Mobilização necessária para manter a pressão sobre o Judiciário e aliciar o Centrão para a causa do perdão a Jair.

Sem isso, o que há é o filho de Jair simulando um asilo nos EUA.

Ao que parece, há um triplo objetivo com a manobra.

O primeiro é a vitimização, que se tornou peça central do discurso da extrema-direita desde que seus malfeitos chegaram à justiça. Dos pobres pais de família e meigas vovozinhas, que vandalizaram as sedes dos poderes e agora estão sofrendo penas cruéis na Papuda ou na Colmeia, ao “exílio” de Eduardo Bolsonaro o passo é grande, mas a lógica é a mesma.

Fato curioso: aqueles que passaram a vida toda reclamando do “mimimi” alheio se tornaram os mimizentos-mores da república.

O segundo objetivo é dar substância à ideia de que existe uma ditadura sendo implantada no Brasil. Todo o discurso de Eduardo e de Jair opera na personalização do embate – o alvo é Alexandre de Moraes, mais ainda do que Lula. Trata-se de uma manobra esperta; como diz o beabá da psicologia política, é muito mais fácil canalizar emoções quando o alvo tem um rosto. Falar de Moraes em vez de uma abstração como o Supremo, assim, tem toda a lógica.

De fato, o personalismo e o voluntarismo do nomeado de Temer levaram, por vezes, a decisões contestáveis do ponto de vista jurídico. Mas a trama golpista se desenrolou tão às vistas do público e o conjunto de evidências é tão forte que não há ninguém que, em sã consciência, possa dizer que Jair e sua camarilha não são culpados.

A acusação de que há ditadura, assim, tem potencial para repercutir apenas na franja mais fiel do bolsonarismo. (Ainda que a Folha de S. Paulo, sem grande surpresa, tenha produzido um material deplorável comparando a “narrativa” de Eduardo Bolsonaro com o caso do deputado Jean Wyllys, que em 2019 renunciou ao mandato e saiu do Brasil devido às ameaças que sofria da extrema-direita.)

Por fim, com a escolha dos Estados Unidos como refúgio, há uma tentativa de reforçar a ideia de que a volta de Trump ao poder daria ao bolsonarismo uma espécie de bala de prata, a ser usada no momento correto. O fato de que a extrema-direita mantém essa perspectiva, de uma intervenção externa como forma de garantir sua impunidade e mesmo recolocá-la no poder, dá força à denúncia do PT, de que Eduardo age como traidor do Brasil.

A esperança nos ianques também tem algo de delirante. Mas, para quem reza para pneu e coloca celular na testa esperando ajuda extraterrestre, até que está bem razoável.

Pierre-Joseph Redouté, Musa paradisiaca (c. 1810)

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

15 − dois =