Silveira provoca Agostinho e sobe o tom em defesa do petróleo na foz do Amazonas

Com Alcolumbre querendo um aliado em seu lugar, ministro de Minas e Energia amplia artilharia contra presidente do IBAMA por licença para poço da Petrobras

ClimaInfo

Sempre que pode o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defende a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Desde o início deste ano a artilharia de Silveira contra o IBAMA aumentou. Na semana retrasada, o ministro anunciou a intenção de se encontrar pessoalmente com o presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho. A razão só pode ser pressioná-lo para uma decisão que é técnica: a liberação da licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, no litoral do Amapá.

Silveira disse que já solicitou tal encontro por duas vezes, mas não teve resposta. Então, subiu ainda mais o tom contra o IBAMA. Depois de acusar os analistas do órgão ambiental de agirem “por convicção”, e não pela técnica, e de declarar que não liberar a licença para a Petrobras é um “crime de lesa pátria”, o ministro disse na 5ª feira (20/3) que “falta coragem” a Agostinho para anunciar sua decisão sobre conceder ou não a autorização para a petroleira, destacam O GloboFolhaCNNPoder 360 e agência eixos.

“Acredito que há um receio dele de ter a coragem de falar com o povo brasileiro qual a resposta dele. Não quero levar para o lado pessoal, quero falar institucionalmente. Acho que ele está receoso de dizer”, afirmou Silveira.

O curioso é que o próprio Silveira disse em outras ocasiões que a Unidade de Estabilização e Despetrolização (UED) que a Petrobras está construindo em Oiapoque, no Amapá, seria “a última exigência” do IBAMA no licenciamento do bloco 59. Só que a petroleira informou ao órgão ambiental que deverá inaugurar a UED até o fim deste mês e propôs uma vistoria do local em 7 de abril. Logo, qual é a necessidade do ministro se reunir com Agostinho agora?

Além disso, ao dizer que Agostinho não tem coragem para falar com o “povo brasileiro” acerca de sua decisão sobre a licença, Silveira ignora a pesquisa CNT/MDA feita entre 19 e 23 de fevereiro. O levantamento mostrou que metade da população é contra a exploração de combustíveis na foz do Amazonas, ante 21% favoráveis.

No entanto, talvez haja outra explicação para a nova gritaria do ministro de Minas e Energia. Segundo Lauro Jardim, d’ O Globo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), embora também defenda a licença para a Petrobras, quer que o presidente Lula demita Silveira. Alcolumbre nega a pressão, mas seu desejo de colocar um aliado no ministério não é novidade. Nem seu poder de votar ou não matérias de interesse do governo no Senado.

 

  • Em tempo: Na mesma linha da “falta de coragem” de Rodrigo Agostinho, o ministro Alexandre Silveira chamou de “covardia” a proposta de adiar a decisão sobre a licença para a Petrobras na foz do Amazonas para depois da COP30, que acontece em Belém em novembro, informa o Valor. Em sua apelação, Silveira voltou a sacar a falácia da “riqueza e desenvolvimento” do petróleo, principalmente para “o povo do Norte e Nordeste do Brasil”, e disse que adiar a licença seria “enganar” os participantes da conferência do clima. Mas emitir uma licença polêmica às vésperas da COP não teria qualquer contradição, como já disse várias vezes o ministro.

Ricardo Botelho/MME

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

dois × 1 =