Juntas, Itaipu e Belo Monte podem perder energia para abastecer 1,5 milhão de pessoas anualmente por causa de mudanças no regime de chuvas
Os “rios voadores” da Amazônia, corredores de umidade que saem da floresta em direção ao sul da América do Sul, têm grande influência sobre o clima do continente. Mas o desmatamento amazônico vem alterando essa dinâmica, o que muda tanto as temperaturas como o regime de chuvas. E as hidrelétricas, a principal fonte de energia elétrica brasileira, também sentem esses efeitos.
O desmate da Amazônia faz as duas maiores hidrelétricas instaladas no Brasil – a binacional Itaipu, no rio Paraná, e Belo Monte, no rio Xingu – perderem juntas, por ano, cerca de 3.800 gigawatt-hora (GWh) de capacidade de geração. É energia suficiente para abastecer 1,5 milhão de pessoas, equivalente a mais de R$ 1 bilhão de receitas anuais no setor elétrico, destacam O Globo e Vocativo.
Os números fazem parte de um estudo do Climate Policy Initiative (CPI), da PUC-Rio, e do projeto Amazônia 2030. De forma inédita, a pesquisa quantificou em termos práticos qual é o tamanho do impacto da redução dos “rios voadores” amazônicos para a hidreletricidade no Brasil. Somadas, Itaipu e Belo Monte respondem hoje por 11% da capacidade hidrelétrica instalada no país.
Belo Monte, que fica na Amazônia – onde, vale lembrar, sua instalação causou um estrago socioambiental imenso – é afetada mais diretamente pelo desmate, perdendo 2.400 GWh de capacidade de geração anual. Já Itaipu, que está a mais de 1.000 km da fronteira do bioma amazônico, perde 1.380 GWh.
Para chegar a esses números, os pesquisadores cruzaram dados detalhados de circulação atmosférica com mapas das áreas desmatadas da Floresta Amazônica. Em Itaipu, cerca 17% da área florestada mais relevante para sua operação já foram desmatados. No caso de Belo Monte, 13% da área da floresta crucial para a operação da usina foram devastados. Vale lembrar que as hidrelétricas foram instaladas com 30 anos de diferença: Itaipu começou a operar em 1984, e Belo Monte, em 2016.
“Em termos de políticas públicas, é fundamental que haja uma concertação que envolva o setor elétrico para ajudar a conter essa dinâmica de desmatamento que está impactando a operação deles mesmos. É muito importante que se consiga estancar esse desmatamento e, se possível, também recompor a floresta em projetos de restauro e reflorestamento”, disse Gustavo Pinto, pesquisador do CPI e coautor do estudo.
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Amazônia 2030