Petrobras usa plataforma para pressionar por licença na foz do Amazonas

Além da pressão governamental pelo bloco 59, ANP divulga nesta semana lista de blocos do próximo leilão, que poderá vender 47 áreas na foz

ClimaInfo

A pressão pela exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas ganha novos capítulos. A Petrobras usa agora o contrato da sonda que programou para perfurar um poço de petróleo no bloco FZA-M-59 para pressionar o IBAMA pela licença.

Nesta 2ª feira (14/4), a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deve divulgar os blocos que serão oferecidos em seu próximo leilão, marcado para 17 de junho, lista que pode conter áreas na foz.

A petroleira disse ao governo que em abril vence o prazo máximo para que a plataforma de perfuração destinada a perfurar o poço no bloco 59 entre em operação, informa a Folha. Segundo a Petrobras, o contrato com a dona da sonda tem validade até outubro, e seria preciso pelo menos cinco meses para a realizar as perfurações necessárias para a exploração da área.

No mês passado, o IBAMA aprovou o plano apresentado pela Petrobras de limpeza da sonda destinada a operar na foz. A medida foi celebrada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e outros entusiastas da exploração de petróleo na região como um “sinal” de que a licença estaria próxima. Mas o órgão ambiental esclareceu que a autorização é uma etapa de rotina no setor de petróleo e que liberar a limpeza não indicava qualquer decisão sobre a licença para o poço no bloco FZA-M-59.

A Petrobras informou que gastou R$ 1 bilhão em processos e preparativos do licenciamento para perfurar o poço de exploração de petróleo na foz do Amazonas. Somente com a sonda, segundo a petroleira, são R$ 2,5 milhões por dia com aluguel. Só que o equipamento pode ser – e já foi – usado em outras campanhas de abertura de poços. Enquanto aguarda a licença do bloco 59, a companhia usou a plataforma em Pitu, no litoral do Rio Grande do Norte.

A ameaça da indústria do petróleo à foz do Amazonas não se restringe ao bloco 59. A autorização do IBAMA vai permitir “passar uma boiada” exploratória na região, abrindo a possibilidade de mais petroleiras avançarem sobre a região.

Esse movimento poderá ser conferido na divulgação da lista final de áreas a serem oferecidas no próximo leilão da ANP. Inicialmente havia 47 blocos na foz na lista inicial. Se alguma petroleira manifestou à agência interesse nessas áreas – e é quase certo que pelo menos a Petrobras fez isso –, estas estarão à disposição das empresas que, assim, poderão arrematar áreas exploratórias de petróleo na Amazônia a cinco meses antes da COP30.

  • Em tempo 1: “Precisamos explorar mais petróleo para acabar com a exploração do petróleo, dá para entender?” O questionamento de Marcelo Leite na Folha mostra como a ala governamental que defende a exploração de petróleo no Brasil até a última gota tenta usar a transição energética como desculpa para que a indústria petrolífera avance sobre a foz do Amazonas. Leite lembra os ataques do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ao IBAMA e a tentativa de transformar narrativamente a foz do Amazonas em “margem equatorial” para disfarçar o impacto da atividade em uma região de altíssima sensibilidade ambiental, sem falar nos estragos ao clima. Leite lembra que o Plano Nacional de Transição Energética (PLANTE) está parado no MME, sob a (in)ação de Silveira.
  • Em tempo 2: “O setor de combustíveis fósseis é fraco, vai perder e sabe disso. São donos da mídia, governos, mas não do povo. A história humana mostra que as pessoas se rebelarão contra esse tipo de tirania. Ainda mais quando sua sobrevivência está em jogo.” A avaliação é de Paul Watson, cofundador do Greenpeace, da Sea Shepherd e da Captain Paul Watson Foundation. Em entrevista à Folha, Watson disse que o processo contra o Greenpeace movido pela petroleira Energy Transfer, no qual um júri da Dakota do Norte condenou a organização a pagar mais de US$ 600 milhões de indenização, deve ser visto como uma oportunidade, pois deu “grande visibilidade internacional”. Para o ativista, a multa nunca será paga. “Vai ficar nos recursos. E com uma nova administração, quando o Donald Trump sair do poder, isso acaba”, avaliou.

Ibama

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